
Tipo sanguíneo
Eu a segui
durante o dia todo através dos olhos das outras pessoas, abertamente consciente
da minha própria vizinhança. Não os olhos de Mike Newton, por que eu não
conseguia mais agüentar suas ofensivas fantasias, e não pelos olhos de Jessica
Stanley, por que seu ressentimento por Bella me deixava perigosamente nervoso.
Ângela Weber era uma boa escolha, quando os olhos dela estavam disponíveis; ela
era gentil - sua cabeça era um lugar fácil de estar. E algumas vezes os
professores providenciavam a melhor vista.
Eu estava
surpreso, assistindo ela tropeçar pelo dia - tropeçando na beira da calçada, deixando
os livros cair, e muitas vezes caindo junto; nos próprios pés - através dos pensamentos
das pessoas que ouvi achando que Bella era desastrada. Eu considerei aquilo.
Era verdade que ela muitas vezes teve a preocupação de ficar em pé, direito. Eu
me lembrava dela tropeçando até a mesa no primeiro dia, deslizando pelo gelo antes
do acidente, caindo embaixo do batente da porta ontem… Era impar, eles estavam certos.
Ela era desastrada.
Eu não sabia
por que aquilo era tão engraçado para mim, mas eu estava rindo em voz alta enquanto
andava da aula de História Americana para o Inglês e muitas pessoas me lançaram
olhares cuidadosos. Como eu não tinha percebido isso antes? Possivelmente por que
havia algo bem gracioso em sua calma, no jeito que ela mantinha a cabeça, o
arco do seu pescoço…
Não havia nada
de gracioso nela agora. Mr. Varner assistia ela prender a ponta de sua bota no
carpete e literalmente cair na sua cadeira. Eu ri de novo. O tempo se movia
incrivelmente lento enquanto eu esperava para vê-la com meus próprios olhos.
Finalmente o sinal tocou. Eu corri até a cafeteria para assegurar meu lugar. Eu
era o primeiro a chegar lá. Escolhi uma mesa que normalmente estava vazia, e eu
estava seguro de permanecer no caminho que tinha me levado a sentar ali. Quando
minha família entrou e me viu sentado sozinho em meu novo lugar eles não estavam
surpresos. Alice devia ter avisado a eles. Rosalie passou por mim sem me olhar.
“Idiota.”
Rosalie e eu
nunca tivemos um relacionamento fácil - eu a ofendi na primeira vez que ela me
ouviu falar, e foi ladeira abaixo desde então - mas parecia que elas estava
mais temperamental nesses últimos dias. Eu suspirei. Para Rosalie tudo era
sobre ela mesmo. Jasper me deu um sorriso torto e continuou a andar.
“Boa sorte”, ele pensou duvidosamente.
Emmett rolou os
olhos e balançou a cabeça.
“Perdeu a cabeça, pobre garoto.”
Alice estava
radiante, seus dentes brilhando mais do que deviam.
“Posso falar com Bella agora?”
– Fique fora
disso. –Eu disse através da minha respiração.
Seu rosto ficou
triste, e então brilhou de novo.
“ Tudo bem. Seja teimoso. É só uma questão
de tempo.”, Ela suspirou
de novo. “Não se esqueça da aula de
laboratório de biologia de hoje”, ela me lembrou.
Eu acenei com a
cabeça. Não, eu não me esqueci disso. Enquanto eu esperava Bella chegar, eu a
segui através dos olhos do calouro que andava atrás de Jessica, no caminho para
a cafeteria. Jessica estava tagarelando sobre o próximo baile, mas Bella não
disse nada em resposta. Não que Jessica tivesse dado muita chance a ela de
responder.
No momento em
que Bella passou pela porta, seus olhos fitaram momentaneamente a mesa onde
meus irmãos se sentavam. Ela observou por um momento, e então sua testa se enrugou
e seu olhar baixou até o chão. Ela não havia me notado. Ela parecia tão…
triste. Eu senti uma urgência enorme em levantar e ir até ela, para confortá-la
de alguma forma, eu só não sabia o que ela acharia reconfortante. Eu não tinha idéia
do motivo que a fizera parecer daquela forma. Jessica continuava a matraquear
sobre o baile. Será que Bella estava triste que iria perder isto? Aquilo não
parecia muito provável…
Mas poderia ser
remediado, se ela quisesse. Ela comprou uma bebida para o seu almoço e nada
mais. Aquilo estava certo? Será que ela não precisava de mais nutrientes do que
apenas aquilo? Eu nunca prestei muita atenção à dieta de um humano antes.
Humanos eram tão exacerbadamente frágeis! Havia milhões de coisas com que
deviam se preocupar…
– Edward Cullen
está encarando você novamente. – eu ouvi
Jessica dizer. – Por que será que ele está sentado sozinho hoje?
Eu estava
agradecido a Jessica - apesar de ela estar ainda mais ressentida agora – porque
Bella levantou a cabeça e seus olhos procuraram até que encontrassem os meus. Não
havia traço de tristeza em sua face, agora. Eu me permiti acreditar que ela
estava triste por imaginar que eu havia ido embora mais cedo, e a esperança
desse pensamento me fez sorrir. Eu a chamei com meu dedo para que ela se
juntasse a mim. Ela pareceu tão surpresa com aquilo que eu quis provocá-la
novamente. Então eu pisquei e ela ficou boquiaberta.
– Ele está
chamando você? – Jessica perguntou com
desprezo.
– Talvez ele precise de ajuda com o dever de
biologia. – Ela disse em uma voz baixa e
cheia de incerteza. – Um, é melhor eu ver o que ele quer.
Este foi um
outro sim. Ela tropeçou duas vezes no caminho para a minha mesa, apesar de não
haver nada no seu rumo além de um piso perfeitamente plano. Sério, como eu
deixei de notar isto antes? Eu estava prestando mais atenção aos seus
pensamentos silenciosos, creio eu… O que mais eu teria perdido? “Seja honesto, seja claro.”, eu repeti
para mim mesmo. Ela parou atrás da cadeira que estava a minha frente,
hesitante. Eu respirei fundo, dessa vez pelo meu nariz e não pela boca. “Sinta a queimação”, eu pensei
objetivamente.
– Por que você
não se senta comigo hoje? – Eu perguntei
a ela.
Sem tirar os
olhos de mim por um instante, ela puxou a cadeira e sentou-se. Ela parecia nervosa,
mas sua aceitação física era um outro sim. Eu esperei que ela falasse. Levou um
momento, mas finalmente ela falou.
– Isto é
diferente.
– Bem…– Eu
hesitei. – Eu decidi, de uma vez que eu vou para o inferno, posso muito bem
fazer o serviço completo.
O que me fez
dizer aquilo? Eu suponho que pelo menos tenha sido honesto. E talvez ela tivesse
ouvido o aviso sutil que minhas palavras continham. Talvez ela entendesse que
ela deveria se levantar e sair dali o mais rápido que pudesse… Ela não se
levantou. Ela me encarava, esperando, como se eu não tivesse terminado minha frase.
– Sabe, não
tenho a mínima idéia do que você quis dizer. – ela disse quando percebeu que eu não continuaria. Aquilo foi um alívio,
eu sorri.
– Eu sei.
Era difícil
ignorar os pensamentos que vinham detrás de suas costas, gritando para mim - E
eu queria mudar de assunto, também.
– Eu acho que
seus amigos estão zangados comigo por eu ter te roubado deles.
Isso pareceu
não a preocupar.
– Eles
sobreviverão.
– Eu posso não
devolver você, então. – Eu não fazia idéia se eu estava tentando ser
honesto agora ou apenas tentando provocá-la de novo. Estar perto dela tornava
difícil dar sentido aos meus próprios pensamentos.
Bella engoliu
seco. Eu ri da expressão dela.
– Você parece
preocupada. – Aquilo realmente não
deveria ser divertido, ela deveria estar preocupada.
– Não. – Ela era uma péssima mentirosa; não a ajudou
em nada que sua voz falhasse. – Surpresa, na verdade… o que você quer
afinal?
– Eu te disse,
me cansei de tentar ficar longe de você. Então estou desistindo.
Eu segurei meu
sorriso com um pouco de esforço. Isso não estava funcionando nem um pouco - tentando
ser honesto e casual ao mesmo tempo.
– Desistindo? –
ela repetiu perplexa.
– Sim -
desistindo de tentar ser bonzinho. – E
aparentemente desistindo de tentar ser casual. – Eu simplesmente vou fazer
o que eu quiser, agora, e deixar que aconteça o que tiver de acontecer.
Aquilo foi
honesto o bastante. Deixe que ela veja meu egoísmo. Deixe que isto a alerte, também.
–Você esta me
confundindo de novo.
Eu era egoísta
o bastante para estar feliz que este fosse o caso.
– Eu sempre
falo muito quando estou conversando com você ... este é um dos problemas.
Um problema bem
insignificante, comparado a todos os outros.
– Não se
preocupe. – ela reafirmou. – Eu não
entendo nada mesmo…
Ótimo, então
ela não iria fugir.
– Eu estava
contando com isso.
– Então,
falando sem rodeios, somos amigos agora?
Eu ponderei por
um instante.
– Amigos…– eu repeti. Não gostei do som daquilo. Não
era o bastante.
– Ou não. – ela
sussurrou, parecendo embaraçada.
Será que ela
pensava que eu não gostava dela o bastante? Eu sorri.
– Bem, podemos
tentar, eu acho. Mas eu vou alertar que eu não sou um bom amigo para você.
Eu esperei pela
resposta ansiosamente - esperando que finalmente ela ouvisse e entendesse, e
imaginando que eu pudesse morrer se ela o fizesse. Que melodramático. Eu estava
me tornando humano demais perto dela. Seu coração batia rápido.
– Você diz
muito isso.
– Sim, porque
você não está me dando ouvidos. – Eu
disse, muito intensamente outra vez. – Eu ainda espero que você acredite
nisso. Se for esperta, você vai me evitar.
Ah, mas será
que eu permitiria que ela fizesse isso, se tentasse? Seus olhos se estreitaram.
– Eu acho que
você deixou clara a sua opinião, a respeito do meu intelecto.
Eu não estava
certo sobre o que ela quis dizer, mas eu sorri me desculpando, imaginando que
eu a tivesse ofendido acidentalmente.
– Então. – ela disse devagar. – Enquanto eu estiver
sendo… boba, vamos tentar ser amigos?
– É isso o que
parece.
Ela olhou para
baixo, examinando a garrafa de limonada que tinha em mãos. A velha curiosidade
me atormentava.
– O que você
está pensando? – Eu perguntei. Pelo menos
era um alívio dizer estas palavras
em voz alta finalmente. Seu olhar
encontrou o meu, e sua respiração acelerou enquanto suas bochechas coraram, eu
inspirei, sentindo o saboreando o ar.
– Eu estou tentando
imaginar o que você é.
Segurei o
sorriso em meu rosto, travando minha feição naquela forma, enquanto o pânico percorria
todo o meu corpo. É claro que ela estava pensando naquilo. Ela não era estúpida.
Eu não podia esperar que ela fosse deixar de notar algo tão evidente.
– Você está
tendo alguma sorte nisso? – Perguntei da forma mais sutíl que pude.
– Não muita. – Ela admitiu.
Eu ri
suavemente com a resposnta, sentindo um súbito alivio.
– Quais são
suas teorias?
Elas não poderiam
ser piores que a verdade, qualquer que fossem. Suas bochechas ficaram ainda
mais vermelhas, e ela não disse nada. Eu podia sentir no ar o calor do seu
rubor. Tentei usar meu tom persuasivo nela. Isso era algo que funcionava muito
bem em humanos normais.
– Não vai me
dizer? – Sorri, encorajando-a.Ela
balançou a cabeça negativamente.
– É muito
embaraçoso.
Ugh. Não saber
era pior do que qualquer outra coisa. Por que as especulações dela a
deixariam
embaraçada? Não pude suportar a curiosidade.
– É muito
frustrante, sabe.
Minha
reclamação disparou algo nela. Seus olhos brilharam e as palavras fluíram mais rapidamente
que o normal.
– Não. Eu não
posso imaginar poque isso pode ser minimamente frustrante - apenas porque alguém
se recusa a lhe dizer o que está pensando, mesmo se durante todo o tempo estivesse
fazendo apenas pequenas observções enigmáticas com a única intenção de lhe deixar
acordado a noite tentando imaginar o que é que elas podem significar… agora,
por que isso seria frustrante?
Eu franzi as
sobrancelhas para ela, irritado por aceitar que ela estava certa. Eu não estava
sendo justo. Ela continuou.
– Ou melhor,
dizer também que esta pessoa fez um monte de coisas bizarras, desde salvar sua
vida sob circunstâncias impossíveis em um dia até te tratar como um estranho no
dia seguinte, e jamais te explicar nem uma coisa nem outra, mesmo depois de
prometer fazê-lo. Isso também não seria frustrante.
Foi o mais
longo discurso que eu a ouvi fazer, e isso acrescentou mais uma qualidade na minha
lista.
– Você é meio
temperamental, não?
– Eu não gosto
de dois pesos e duas-medidas.
Sua irritação
era completamente justificavel, é claro. Eu encarei Bella, imaginando como eu
poderia possivelmente fazer qualquer coisa certa por ela, até que o silêncio
gritante na cabeça de Mike Newton me distraiu. Ele estava tão irado que me fez
rir.
– O que é? – ela
exigiu.
– O seu
namorado parece estar pensando que eu estou sendo rude com você - ele está se questionando
se deve ou não vir aqui apartar a nossa briga.. – “Eu gostaria de vê-lo tentar.” Eu ri novamente.
– Eu não sei do
que você está falando. – ela disse de
forma fria. – Mas de qualquer forma, eu tenho certeza que você está
enganado.
Eu gostei muito
do modo como ela o rejeitou com sua sentença desdenhosa.
– Eu não estou.
Eu já te disse, a maioria das pessoas é fácil de ler.
– Exceto eu, é
claro.
– Sim. Exceto
você. – Ela tinha que ser a exceção à tudo? Não seria mais justo - considerando
tudo mais com que eu tinha que lidar no momento - se eu pudesse ler ALGUMA COISA
em sua cabeça? Era pedir muito? – Eu me pergunto o porquê disso.
Ela olhou ao
longe. Ela abriu sua limonada e tomou um curto e rápido gole, seus olhos na mesa.
– Você não está
com fome? – eu perguntei.
– Não. – ela olhava a mesa vazia entre nós.
– Você?
– Não, eu não
estou com fome. – eu disse.
Eu
definitivamente não estava. Ela encarava a mesa com seus lábios cerrados. Eu
esperei.
– Você pode me
fazer um favor? – ela perguntou,
subitamente encontrando meus olhos novamente.
O que ela
poderia querer de mim? Ela perguntaria sobre a verdade a qual eu não era
permitido dizer
à ela - a verdade que eu queria que ela nunca, nunca soubesse?
– Depende do
que você quer.
– Não é muito.
– ela prometeu.Eu esperei, curioso de novo.
– Eu só estava
imaginando…– ela disse lentamente,
olhando para a garrafa de limonada, traçando a boca da garrafa com o seu dedo
mínimo. – Se você poderia me avisar
com antecedência na próxima vez que você resolver me ignorar para o meu próprio
bem. Só pra eu me preparar.
Ela queria um
aviso? Então ter sido ignorada por mim deve ter sido alguma coisa ruim… eu sorri.
– Parece justo.
– eu concordei.
– Obrigada. – ela
disse, olhando para cima. Sua face estava tão aliviada que eu quis rir do meu
próprio alívio.
– Então posso
ter uma resposta em retorno? – eu
perguntei, esperançosamente.
– Uma. – Ela
concedeu
– Me diga uma
das suas teorias.
– Essa não. – Ela corou.
– Você não
qualificou, você só prometeu uma resposta. – Eu argumentei.
– Você também
já quebrou suas promessas. – ela
argumentou de volta.
Ela estava
certa.
– Só uma teoria
- eu não vou rir.
– Vai sim.
Ela parecia estar bem certa disso, apesar de
eu não conseguir imaginar nada que pudesse ser engraçado quanto a isso. Tentei
usar a persuasão outra vez. Olhei fundo nos olhos dela - uma coisa fácil de se
fazer, com olhos tão intensos - e sussurrei.
– Por favor?
Ela piscou, o
rosto ficando vazio. Bem, essa não era exatamente a reação que eu queria.
– É… o quê? – ela
perguntou. Parecia tonta. O que havia de errado com ela?
– Por favor, me
conte só uma teoriazinha. – eu pedi com
minha voz macia e não assustadora, segurando seus olhos nos meus.
Para minha
surpresa e satisfação, finalmente funcionou.
– Hmmm, bom,
foi picado por uma aranha radioativa?
História em
quadrinhos? Não era à toa que ela achou que eu iria rir.
– Isso não é
muito criativo. – eu a reprovei, tentando escondeu meu alívio.
– Desculpe , é
só o que eu tenho. – ela disse, ofendida.
Isso me deixou
ainda mais aliviado. Consegui provocá-la de novo.
– Nem chegou
perto.
– Nada de
aranhas?
– Nada.
– E nada de
radioatividade?
– Nada.
– Droga. – ela suspirou.
– A kriptonita
também não me incomoda. – eu respondi
depressa - antes que ela pudesse perguntar sobre mordidas - e então tive que
rir, porque ela achava que eu era um superherói.
– Não devia
rir, lembra?
Apertei os
lábios.
– Um dia eu vou
descobrir. – ela prometeu.
E quando ela o
fizesse, iria fugir.
– Gostaria que
não tentasse. – eu disse, todos os sinais
da provocação ausentes.
– Por que…
Devia
honestidade a ela. Tentei sorrir, deixar minhas palavras menos ameaçadoras. - –
E se eu não for um super-herói? E se eu for o vilão?
Seus olhos se
arregalaram ligeiramente e os lábios se separaram um pouco.
– Ah. – ela disse.
E então, depois de um segundo. – Entendi.
Ela finalmente
tinha me ouvido.
– Entendeu? – eu perguntei, tentando esconder minha
agonia.
– Você é
perigoso? – ela adivinhou.
A sua
respiração aumentou e o coração acelerou. Não conseguia respondê-la. Esse era
meu último momento com ela? Ela iria fugir agora? Eu seria capaz de dizer que a
amava antes que ela partisse? Ou isso a assustaria ainda mais?
– Mas não mau. –
ela sussurrou, balançando a cabeça, sem
medo nos olhos intensos. – Não, não acredito que você seja mau.
– Está errada.
– eu disse baixo.
É claro que eu
era mau. Eu não estava feliz agora, que ela pensava melhor de mim do que eu
merecia? Se eu fosse uma boa pessoa, eu teria ficado longe dela. Eu estiquei
minha mão pela mesa, pegando a tampa da garrafa de limonada dela como uma
desculpa. Ela não recuou da minha mão próxima. Ela realmente não tinha medo de mim.
Ainda não. Eu girei a tampa rapidamente, prestando atenção ao invés de olhar
para ela. Meus pensamentos estavam confusos.
“Corra, Bella, corra.” Não conseguia falar as palavras em voz
alta.Ela ficou de pé.
– Vamos chegar
atrasados. – ela disse, bem quando eu comecei a me preocupar que de algum modo ela
tinha escutado meu aviso silencioso.
– Eu não vou à
aula hoje.
– E por que
não?
“Porque eu não quero matar você.”
– É saudável
matar aula de vez em quando.
Para ser exato,
era saudável para os humanos quando os vampiros matavam aula nos dias em que
sangue humano seria derramado. O Sr. Banner ia fazer tipagem sanguínea hoje. Alice
já tinha matado sua aula pela manhã.
– Bom, eu vou. –
ela disse. Isso não me surpreendeu. Ela era
responsável, sempre fazia a coisa certa.
Ela era o meu
oposto.
– A gente se vê
depois, então. – eu disse, tentando parecer casual novamente, olhando a tampa
que rodava.
“E, por falar nisso, eu adoro você… de
jeitos perigosos, assustadores.”
Ela hesitou, e
eu esperei por um momento que ela fosse ficar comigo. Mas o sinal tocou e ela
se apressou. Esperei até que ela tivesse desaparecido, e então guardei a tampa
no meu bolso – uma lembrança dessa conversa importante - e andei pela chuva para
o meu carro. Coloquei o CD que mais me acalmava - o mesmo que tinha colocado
naquele primeiro dia - mas não estava escutando as notas de Debussy por muito
tempo. Outras notas estavam passando rápidas por minha cabeça, o fragmento de
uma melodia que me agradava e me intrigava. Abaixei o rádio e escutei a música
em minha cabeça, tocando o fragmento até que se desenvolveu para uma harmonia
completa. Instintivamente, meus dedos se moveram no ar sobre teclas
imaginárias. A nova composição estava realmente surgindo quando minha atenção
foi desviada por uma onda de angústia mental. Eu procurei na direção da
aflição.
“Ela vai desmaiar? O que eu faço?” Mike estava em pânico.
A noventa
metros, Mike Newton estava abaixando o corpo mole de Bella na calçada. Ela escorregou
sem reação no concreto molhado, os olhos fechados, a pele pálida como a de um
cadáver. Eu quase arranquei a porta do carro.
– Bella? – gritei.
Não houve
mudança em seu rosto sem vida quando eu gritei seu nome. Meu corpo todo ficou
mais frio que gelo. Estava ciente da surpresa irritada de Mike enquanto varria
furiosamente seus pensamentos. Ele só estava pensando em seu ódio por mim,
então eu não sabia o que havia de errado com Bella. Se ele tivesse feito algo
para machucá-la eu iria aniquilá-lo.
– Qual é o
problema… Ela se machucou? – eu ordenei,
tentando concentrar seus pensamentos.
Era
enlouquecedor ter que andar na velocidade humana. Eu não devia ter chamado
atenção para a minha aproximação. Então eu pude escutar o coração dela batendo
e cada respiração que dava. Enquanto eu observava, ela apertou os olhos
fechados. Isso aliviou um pouco do meu pânico. Eu vi um lampejo de memórias na
cabeça de Mike, rápidas imagens da classe de biologia. A cabeça de Bella na
mesa, sua pele ficando verde. Gotas de vermelho contra cartões brancos…
Tipagem
sanguinea.
Eu parei onde
eu estava, segurando a minha respiração. O cheiro dela era uma coisa, o seu
sangue escorrendo era outra totalmente diferente.
– Eu acho que
ela está passando mal. – Mike disse,
ansioso e ressentido ao mesmo tempo. – Eu não sei o que aconteceu, ela nem
furou o dedo.
O alívio passou
por mim, e eu respirei novamente, sentindo o ar. Ah, eu pude sentir o cheiro da
pequena ferida de Mike Newton. Uma vez, isso teria sido extremamente apelativo para
mim. Eu me ajoelhei perto dela enquanto Mike se remexia ao meu lado, furioso
com a minha intervenção.
– Bella. Você
consegue me ouvir?
– Não. – ela
gemeu. – Vá embora.
Eu ri. Ela
estava bem.
– Eu estava
levando ela para a enfermaria. – Mike
disse. – Mas ela não conseguiu ir adiante.
– Eu vou levar
ela. Você pode voltar para a sala de aula. – eu disse, indiferente.Os dentes de Mike trincaram.
– Não. Sou eu
quem deve fazer isso.
Eu não ia ficar
parado ali argumentando com aquele infeliz. Exitado e apavorado,
meio-agradecido e meio-aflito pela situação desagradável que fez o toque dela
uma necessidade, suavemente levantei Bella da calçada e mantive-a nos meus braços,
tocando só a sua roupa, mantendo tanta distância entre os nossos corpos enquanto
possível. Eu andava com passos largos para a frente no mesmo movimento, em uma
pressa para mantê-la a salvo - mais longe de mim, em outras palavras. Seus
olhos se abriram, atônitos.
– Me ponha no
chão! – Ela ordenou em uma voz fraca -
embaraçada de novo, eu adivinhei pela sua expressão. Ela não gostava de
demonstrar fraquezas.
Eu mal ouvia
Mike gritando seus protestos atrás de nós.
– Você parece
horrível. – Eu disse a ela, sorrindo com
alívio de que não houvesse nada de errado com ela além de uma cabeça leve e um
estômago fraco.
– Me coloque de
volta na calçada. – ela disse. Seus
lábios estavam brancos.
– Então você
passa mal quando vê sangue? – “Isso podia ser mais irônico?”
Ela fechou seus
olhos e pressionou seus lábios juntos.
– E nem é o seu
próprio sangue. – eu acrescentei, meu sorriso aumentando.
Nós estávamos
na frente da secretaria. A porta estava levemente aberta, e eu a chutei para
sair de nosso caminho. A senhorita Cope pulou, assustada.
– Meu Deus. – ela engasgou enquanto examinava a garota
pálida nos meus braços.
– Ela passou
mal na aula de Biologia. – eu expliquei,
antes que a sua imaginação começasse a ir para muito longe.
A Srta. Cope se
apressou em abrir a porta da enfermaria. Os olhos de Bella estavam
abertos
novamente, observando-a. Ouvi o assombro interno da enfermeira idosa enquanto
eu deitava a garota cuidadosamente em uma cama gasta. Tão logo Bella estivesse
fora de meus braços, eu coloquei a distância da sala entre nós. Meu corpo
estava muito excitado, muito ansioso, meus músculos tensos e o veneno fluindo.
Ela era muito quente e perfumada.
– Ela só está
um pouco enjoada. – eu assegurei à Senhora Hammond. – Eles estão fazendo
tipagem sanguinea
na aula de Biologia.
Ela balançou a
cabeça, compreendendo.
– Sempre tem
um.
Eu abafei uma
risada. Confie em Bella para ser aquele um.
– Fique um
pouco deitada, meu bem. – Sra. Hammond disse. – Vai passar logo.
– Eu sei. – Bella disse.
– Isso acontece
muito? – a enfermeira perguntou.
– As vezes. – Bella
admitiu.
Eu tentei
disfarçar minha risada em uma tossida. Isso trouxe a atenção da enfermeira para
mim.
– Você pode
voltar para a sala agora. – ela disse.
Eu a olhei
diretamente nos olhos e menti confiantemente
– Eu devo ficar
com ela.
“Hmm. Eu imagino… oh, bem.” – Sra. Hammond balançou a cabeça.
Isso funcionou
perfeitamente com ela. Por que com Bella tinha que ser tão difícil?
– Eu vou pegar
um pouco de gelo pra você colocar na sua testa, querida. – a enfermeira disse, ligeiramente
pouco confortável por olhar em meus olhos - do modo que um humano devia ser - e
deixou a sala.
– Você estava
certo. – Bella lamentou, fechando seus olhos.
O que ela
queria dizer? Eu fui direto para a pior conclusão: ela tinha aceitado os meus avisos.
– Eu geralmente
tenho. – eu disse tentando parecer
divertido. – Mas sobre o que em particular desta vez?
– Faltar à aula
é saudável. – ela suspirou.
Ah, alívio de
novo. Ela ficou em silêncio então. Ela só respirava lentamente para dentro e
para fora. Seus lábios estavam começando a ficar rosados. Sua boca estava
ligeiramente fora do equilíbrio, seu lábio inferior estava um pouco mais cheio
do que o superior. Olhar para a sua boca me fazia me sentir estranho. Me fazia
querer me mover para mais perto dela, o que não era uma boa idéia.
– Você me
assustou por um minuto lá fora. – eu disse - para reiniciar a conversa - então
eu podia ouvir a sua voz novamente. – Eu pensei que Mike estava arrastando
o seu cadáver pra enterrá-lo no bosque.
– Ha ha – ela
disse.
– Honestamente
- eu já vi cadáveres com uma cor melhor. – Isso
era realmente verdade. – Eu já estava preocupado em ter que vingar o seu
assassinato. – E eu teria mesmo.
– Pobre Mike. –
ela suspirou. – Eu aposto que ele está
bravo.
– Ele
absolutamente me detesta. – eu disse a ela, animado com a idéia.
– Você não tem
como saber disso.
– Eu vi o rosto
dele - eu posso dizer.
Provavelmente
seria verdade se ao ler a face dele eu conseguisse obter tais informações para
fazer essa dedução em particular. Toda essa prática com a Bella estava afiando
a minha habilidade em ler expressões humanas.
– Como você me
viu? Eu pensei que você estivesse escondido. – seu rosto parecia melhor, o verde desbotado tinha desaparecido de sua
pele translúcida.
– Eu estava no
meu carro ouvindo um CD.
Sua expressão
se contorceu, como se a minha resposta comum a tivesse surpreendido de alguma
forma. Ela abriu seus olhos novamente quando a Sra. Hammond retornou com uma
compressa fria.
– Aqui, querida.
– a enfermeira disse enquanto colocava a
compressa na testa de Bella. – Você parece melhor.
– Eu acho que
estou bem. – Bella disse e sentou-se
colocando a compressa longe.
É claro. Ela não
gostava que cuidassem dela. As mãos enrugadas da Sra. Hammond estavam indo em
direção à garota, como se quisessem fazer com que ela deitasse novamente, mas
então a Srta. Cope abriu a porta e se inclinou para dentro da enfermaria. Com a
sua entrada, veio um o cheiro de sangue fresco, como uma pequena explosão. Invisível
na secretaria por detrás dela, Mike Newton ainda estava bastante zangado, desejando
que o garoto pesado que ele carregava agora fosse a garota que estava ali dentro
comigo.
– Tem outro
aqui. – Srta. Cope disse.
Bella
rapidamente pulou da cama, ansiosa por deixar de ser o centro das atenções.
– Aqui. – Ela disse, estendendo a compressa de volta
para a Sra. Hammond. – Eu não preciso mais disso.
Mike grunhiu
enquanto ele empurrava um pouco Lee Stevens pela porta. O sangue ainda gotejava
da mão que Lee segurava em seu rosto, pingando pelo seu pulso.
– Oh não. – essa era a minha deixa para sair e Bella, também, aparentemente. – Bella,
vá para a secretaria.
Ela me olhou
com olhos confusos.
– Confie em mim
- vá.
Ela se virou e
alcançou a porta antes que ela se fechasse, se apressando em direção à secretaria.
Eu a segui a alguns centímetros dela. Seu cabelo em movimento roçou minha mão… Ela
se virou para me olhar, ainda com olhos arregalados.
– Você
realmente me ouviu. – isso era novidade. Seu pequeno nariz se
enrugou.
– Eu senti o
cheiro de sangue. – Eu a encarei com
surpresa.
– As pessoas
não podem cheirar sangue.
– Bem, eu
consigo - é isso que me deixa doente. Tem cheiro de ferrugem e…sal.
Meu rosto
estava congelado, ainda a encarando. Ela era realmente humana? Ela parecia
humana. Ela era suave como um humano. Ela cheirava como um humano - bem, melhor
na verdade. Ela agia como um humano… mais ou menos. Mas ela não pensava como
um, ou respondia como um. Quais eram as outras opções, então?
– O que é? – ela
perguntou.
– Não é nada.
Mike Newton nos
interrompeu então, entrando na secretaria com ressentidos, violentos pensamentos.
– Você parece
melhor. – ele disse a ela, rudemente.
Minha mão
tremeu, querendo ensinar a ele algumas maneiras, eu teria que me monitorar, ou
eu acabaria matando aquele garoto insolente.
– Mantenha a
sua mão no bolso. – ela disse. Por um segundo selvagem, eu pensei
que ela
estava falando comigo.
– Não está mais
sangrando. – ele respondeu tristemente. – Você vai voltar pra aula?
– Você tá
brincando? Eu iria voltar pra cá na certa.
Isso era muito
bom. Eu tinha pensado que eu ia ter de perder esta hora inteira com ela, e agora
eu tinha tempo extra em vez disso. Eu me senti ganancioso, um avarento procurando
cada minuto.
– É, eu acho…– Mike
murmurou. – Então, você vai esse fim
de semana? Para a praia?
Ah, eles tinham
planos. A raiva passou por mim. Era uma viagem em grupo, entretanto. Eu tinha
visto isso na cabeça de outros estudantes. Não eram só eles dois. Eu ainda
estava furioso. Eu me inclinei praticamente sem movimentos contra o balcão,
tentando me controlar.
– Claro, eu
disse que ia. – ela prometeu a ele.
Então ela disse
sim a ele, também. A inveja queimava, mais dolorosa do que a sede.
Não, era uma
saída em grupo, eu tentei me convencer. Ela somente ia passar o dia com os amigos.
Nada de mais.
– Vamos nos
encontrar na loja do meu pai, as dez.. – “E
o Cullen NÃO ESTÁ convidado.”
– Eu estarei lá.
– ela disse.
– Eu te vejo na
aula de educação física, então.
– A gente se
vê.
Ele se virou
para a sua classe, seus pensamentos estavam cheios de raiva.
“O que ela vê naquela aberração? Claro,
ele é rico, eu acho. As garotas acham que ele é lindo, mas eu não acho. Muito…
muito perfeito. Eu aposto que o pai dele experimenta todas as cirurgias plásticas
neles. É por isso que eles são tão brancos e bonitos. Não é natural. É um tipo de…
aparência-assustadora. Algumas vezes, quando ele me encarava, eu poderia jurar
que ele está pensando em me matar… aberração…”
Mike não estava
completamente errado em suas percepções.
– Educação física. – Bella repetiu silenciosamente. Um gemido.
Eu olhei para
ela, e vi que ela estava triste com alguma coisa novamente. Eu não tinha certeza
por que, mas estava claro de que ela não queria ir para a próxima aula com o Mike,
e eu estava de acordo com esse plano. Eu fui para o seu lado e me aproximei da
sua face, sentindo o calor de sua pele irradiando diretamente para os meus
lábios. Eu não me atrevi respirar.
– Eu posso
cuidar disso. – eu murmurei. – Vá se
sentar e fique pálida.
Ela fez o que
eu pedi, sentando em uma das cadeiras vazias e inclinando a sua cabeça para
trás, contra a parede, enquanto, atrás de mim, a Srta. Cope saiu da enfermaria
e retornou à sua mesa. Com os olhos fechados, Bella parecia que estava passando
mal novamente. Sua cor ainda não tinha voltado completamente. Eu me virei para
a secretária. Com esperanças de que Bella estivesse prestando atenção nisso, eu
pensei sardonicamente. Esse é o modo como uma humana deveria responder.
– Sra Cope? – eu
perguntei, usando a minha voz persuasiva de novo.Seus cílios se agitaram, e o
seu coração passou a bater mais rápido. “Muito jovem, se controle!”
– Sim?
Isso foi
interessante. Quando o pulso de Shelly Cope acelerou, foi porque ela me achou fisicamente
atraente, não porque ela estava assustada. Eu estava acostumado a isso quanto
às fêmeas humanas… ainda eu não tinha considerado isso como explicação para a aceleração
do coração da Bella. Eu particularmente tinha gostado disso. Eu sorri e a
respiração da Sra. Cope acelerou.
– A próxima
aula de Bella é de Educação Física, e eu não acho que ela se sente bem o suficiente.
Na verdade, eu acho que eu devia levar ela pra casa agora. A senhora acha que pode
liberá-la dessa aula? – eu encarei profundamente seus olhos, me
deliciando com a destruição que eu causava em seus processos mentais. Seria
possível que Bella…?
Sra Cope teve
que engolir em alto som antes que pudesse responder.
– Você também
precisa ser liberado, Edward?
– Não, eu tenho
aula com a Sra Goff, ela não vai se incomodar.
Eu não estava
prestando muita atenção nela agora. Eu estava explorando essa nova
possibilidade. Hmm.
Eu gostava de acreditar que Bella me achava atraente como os outros humanos achavam,
mas desde quando que Bella tinha as mesmas reações que os outros humanos? Eu
não podia manter as minhas esperanças elevadas.
– Ok, então
está tudo acertado. Melhoras, Bella.
Bella acenou
com a cabeça fracamente - exagerando um pouco.
– Você consegue
caminhar, ou prefere que eu te carregue de novo? – eu perguntei, me divertindo com o teatro precário dela. Eu sabia que
ela iria querer andar - ela não queria parecer fraca.
– Eu vou
caminhando. – ela disse.
Certo de novo.
Eu estava melhorando nisso. Ela se pôs em pé, hesitante por um momento como se
ela estivesse checando o seu equilíbrio. Eu segurei a porta para ela, e nós
caminhamos para a chuva. Eu olhava para ela erguendo o seu rosto para a chuva
fraca, seus olhos fechados, um leve sorriso em seus lábios. O que ela estava
pensando? Alguma coisa nessa cena parecia errado, e eu rapidamente percebi por
que essa ação pareceu tão estranha para mim. Garotas humanas normais não
levantariam o seu rosto para a garoa dessa maneira, garotas humanas normais
normalmente usam maquiagem, mesmo aqui nesse lugar úmido. Bella nunca usava
maquiagem, nem deveria. As indústrias de cosméticos lucram bilhões de dólares
por ano de mulheres que tentam conseguir uma pele como a dela.
– Obrigada. – ela
disse, sorrindo para mim agora. – Quase vale a pena ficar doente pra perder
Educação física.
Eu comecei a
atravessar o campus, imaginando por quanto tempo eu devia prolongar meu tempo
com ela.
– É só pedir. –
eu
disse.
– Então você
vai? Sábado, eu quero dizer. – ela parecia esperançosa.
Ah, a sua
esperança era tranqüilizante. Ela me queria com ela, não Mike Newton. E eu queria
dizer sim. Mas havia muitas coisas para considerar. Em primeiro lugar, o sol
estaria brilhando nesse sábado…
– Onde vocês
todos estão indo, exatamente? – eu tentei manter a minha voz indiferente, como
se eu não me importasse muito. Mike tinha dito praia, entretanto. Não tinha
muitas chances de escapar da luz do sol lá.
– Vamos à La Push,
para Primeira Praia.
Droga. Bem, era
impossível então. De qualquer forma, Emmett ficaria irritado se eu cancelasse
nossos planos. Lancei os olhos abaixo para ela, sorrindo tortamente.
– Eu não acho
que eu tenha sido convidado. – Ela
suspirou, resignada.
– Eu acabei de
te convidar.
– Eu e você não
vamos mais abusar tanto do pobre Mike esse fim de semana. Nós não queremos que
ele arrebente. – Imaginei eu mesmo
fazendo com o que o pobre Mike arrebentasse e desfrutei dessa cena mental
intensamente.
– Mike boboca.
– ela disse, com desprezo novamente. Meu
sorriso aumentou.
E então ela
começou a andar para longe de mim. Sem pensar sobre o que eu estava fazendo, eu
me estiquei e a peguei pela parte de trás de seu casaco de chuva. Ela deu um
solavanco ao parar.
– Onde é que
você pensa que vai? – eu estava quase
bravo por ela estar me deixando. Eu
não tinha passado tempo suficiente com
ela. Ela não podia ir embora, não ainda.
– Eu vou pra
casa. – ela disse, desconcertada quanto
ao porque isso tinha me irritado.
– Você não me
ouviu prometer que te levaria pra casa em segurança? Você acha que eu vou te deixar
dirigir nessas condições? – eu sabia que ela não ia gostar disso - a minha
implicação de fraqueza da sua parte.
Mas eu
precisava praticar para a viagem à Seattle, de qualquer forma. Ver se eu agüentaria
tê-la próxima em um espaço fechado. Essa era uma viagem muito mais curta.
– Que
condições? – ela perguntou. – E a
minha caminhonete?
– Eu vou pedir pra Alice levá-la depois da
escola. – eu a puxei de volta para o meu
carro cuidadosamente, embora eu soubesse agora que andar pra frente era
desafiador o suficiente para ela.
– Me solta! – ela
disse, se contorcendo de lado, quase tropeçando.
Eu ergui uma
mão para segurá-la, mas ela se ajeitou antes que isso fosse necessário. Eu não
devia ficar procurando desculpas para tocá-la. Aquilo fez com que eu começasse
a pensar sobre a reação da Sra. Cope quando a mim, mas eu guardei isso para
pensar depois. Tinha muito a ser considerado mais para frente. Eu a deixei ao
lado do carro, e ela cambaleou até a porta. Eu teria que ser ainda mais cuidadoso,
levando em conta o seu equilíbrio precário…
– Você é muito
mandão!
– Está aberta.
Eu entrei pelo
meu lado do carro e dei a partida. Ela manteve o seu corpo rígido, ainda do lado
de fora, apesar da chuva ter ficado mais forte e eu sabia que ela não gostava
de frio e umidade. A água estava encharcando seu grosso cabelo, escurecendo-o
até próximo do preto.
– Eu sou
perfeitamente capaz de dirigir até em casa!
É claro que ela
era - eu somente não era capaz de deixá-la ir. Eu abaixei o vidro do lado do
carona e me inclinei em sua direção.
– Entre no
carro, Bella.
Seus olhos se
estreitaram e eu achei que ela estava se decidindo se devia ou não sair correndo.
– Eu vou pegar
você de novo. – eu prometi, desfrutando do desapontamento em
seu rosto
quando ela percebeu que eu estava falando
sério.
Seu queixo se
enrijeceu no ar, ela abriu a sua porta e entrou. Seu cabelo pingou no couro do
banco e suas botas rangeram uma contra a outra.
– Isso foi
completamente desnecessário. – ela disse
friamente.
Eu achei que
ela parecia embaraçada por debaixo da humilhação. Eu aumentei o aquecedor,
portanto ela não se sentiria desconfortável, e coloquei a música em um bom
nível de fundo. Eu dirigi em direção à saída, observando-a pelos cantos dos olhos.
O seu lábio inferior se sobressaia fazendo beicinho. Eu encarei isso,
examinando como que fazia me sentir… pensando na reação da secretária de novo… De
repente, ela olhou para o rádio e sorriu, seus olhos arregalados.
– Clair de
Lune? – ela perguntou.
“Uma fã dos clássicos?”
– Você conhece
Debussy?
– Não muito. – ela disse . – Minha mãe toca muita musica clássica em casa.
Eu só conheço as minhas favoritas.
– É uma das
minhas favoritas também. – Eu olhei para
a chuva, considerando isso.
Eu realmente
tinha algo em comum com a garota. Eu tinha começado a pensar que nós éramos
opostos em todos os sentidos. Ela parecia mais relaxada agora, olhando para a
chuva como eu, com olhos vagos. Eu aproveitei a sua distração momentânea para
testar a minha respiração. Eu inalei cuidadosamente pelo meu nariz. “Potente.” Eu apertei a direção com
força. A chuva a fazia cheirar melhor. Eu não pensava que isso fosse possível.
Estupidamente, eu estava subitamente imaginando como devia ser o seu sabor. Eu
tentei engolir contra a queimação em minha garganta, pensar em alguma coisa diferente.
– Como é a sua
mãe? – eu perguntei como distração. Bella
sorriu.
– Ela se parece
muito comigo, mas ela é mais bonita.
Eu duvidava
disso.
– Eu tenho
muito de Charlie em mim. – ela continuou.
– Ela é mais divertida que eu, e mais
corajosa.
Eu duvidava
disso, também.
– Ela é
irresponsável e um pouco excêntrica e uma cozinheira muito imprevisível. Ela é minha
melhor amiga. – Sua voz se tornou
melancólica, sua testa se enrugou.
De novo, ela
mais parecia como um pai do que um filho. Eu parei na frente de sua casa,
imaginando tarde demais se eu devia saber onde ela morava. Não, isso não era
suspeito em uma cidade pequena, com seu pai sendo uma figura pública…
– Quantos anos
você tem, Bella? – ela devia ser mais
velha que as outras pessoas. Talvez ela tenha começado mais tarde a escola, ou
tenha reprovado… isso não era agradável, de qualquer forma.
– Eu tenho
dezessete. – ela respondeu.
– Você não
parece ter dezessete.
Ela riu.
– O que foi?
– Minha mãe
sempre diz que eu nasci com trinta e cinco anos de idade e que fico mais velha
a cada ano que passa. – Ela riu de novo e
suspirou. – Bem, alguém tem que ser o adulto.
Isso esclarecia
as coisas para mim. Eu podia ver agora… como a irresponsabilidade da mãe ajudava
a explicar a maturidade de Bella. Ela teve que crescer mais cedo, para se
tornar a responsável. Era por isso que ela não gostava de ser cuidada - ela
sentia que era o seu trabalho.
– Você também
não parece um jovenzinho. – ela disse, me puxando de meus devaneios.
Eu fiz uma
careta. Para cada coisa que eu percebia sobre ela, ela percebia muito mais em resposta.
Eu mudei de assunto.
– Então porque
sua mãe se casou com Phil?
Ela hesitou por
um minuto antes de responder.
– Minha mãe…ela
é muito jovem para a idade dela. Acho que Phil a faz se sentir ainda mais
jovem. De qualquer forma, ela é louca por ele. – ela agitou a sua cabeça indulgentemente.
– Você aprova?
– eu imaginei.
– Isso importa?
– ela respondeu – Eu quero que ela seja feliz…e é ele que ela
quer.
A falta de
egoísmo de seus comentários deviam ter me chocado, exceto que isso encaixava perfeitamente
com tudo que eu havia aprendido de sua personalidade.
– Isso é muito
generoso… eu imagino…
– O quê?
– Se ela
estenderia a mesma cortesia pra você, você acha? Não importa qual seja a sua
escolha?
Essa foi uma
pergunta tola, e eu não consegui manter o tom casual em minha voz enquanto eu
perguntava isso. Como era estúpido se quer considerar alguém me aprovando para
a sua filha. Como era estúpido se quer imaginar Bella me escolhendo.
– E-eu acho que
sim. – ela gaguejou, reagindo de alguma
forma ao meu olhar fixo. Medo…
ou atração? – Mas de qualquer forma ela é uma mãe,
apesar de tudo. É um pouco diferente. – ela finalizou. Eu sorri ironicamente.
– Nada muito
assustador então. – Disse e ela sorriu
para mim.
– O que você
quer dizer com assustador? Vários piercings no corpo e tatuagens gigantescas?
– É uma
definição, eu acho. – Uma nem um pouco
ameaçadora definição, na minha cabeça.
– Qual é a sua
definição?
Ela sempre
fazia as perguntas erradas. Ou exatamente as perguntas certas, talvez. As que eu
não queria responder, pelo menos.
– Você acha que
eu poderia ser assustador? – eu perguntei a ela, tentando sorrir um pouco.
Ela pensou
sobre isso antes de responder para mim em um tom sério.
– Hmm… eu acho que
você poderia ser, se você quisesse.
Eu estava
sério, também.
– Você está com
medo de mim agora?
Ela respondeu
de uma só vez, sem pensar agora.
– Não.
Eu sorri mais
facilmente. Eu não achava que ela estava dizendo a verdade completamente, mas
também não estava mentindo por completo. Ela não estava com medo o suficiente para
querer ir embora, ao menos. Eu imaginava como que ela se sentiria se eu
dissesse a ela que ela estava tendo essa discussão com um vampiro. Eu contraí
meus músculos involuntariamente ao imaginar a sua reação.
– Então, agora
você vai me falar sobre a sua família? Deve ser uma história bem mais
interessante do que a minha.
Mais
assustadora, sem dúvida.
– O que você
quer saber? – eu perguntei
cautelosamente.
– Os Cullens te
adotaram?
– Sim.
Ela hesitou,
então falou em uma voz baixa.
– O que
aconteceu com os seus pais?
Isso não era
tão difícil; eu não estava tendo que mentir para ela.
– Eles morreram
há muitos anos atrás.
– Eu lamento. –
ela murmurou, claramente preocupada sobre ter
me machucado. Ela estava preocupada comigo.
– Na verdade eu
não lembro deles muito claramente. – Eu
assegurei a ela. – Carlisle e Esme são meus pais há muito tempo agora.
– E você os ama.
– ela deduziu e eu sorri.
– Sim. Eu não
poderia imaginar duas pessoas melhores.
– Você tem
muita sorte.
– Eu sei que
tenho. – Naquela circunstância, quanto
aos meus pais, minha sorte não podia ser negada.
– E seu irmão e
sua irmã?
Se eu deixasse
que ela me pressionasse por muitos mais detalhes, eu teria que mentir. Eu lancei
um olhar ao relógio, desanimado por meu tempo com ela estar no final.
– Meu irmão e
minha irmã, e Jasper e Rosalie por falar neles, vão ficar bem bravos se tiverem
que ficar na chuva esperando por mim.
– Oh, desculpe,
eu acho que você tem que ir.
Ela não se
mexeu. Ela não queria que o nosso tempo terminasse, também. Eu gostava muito,
muito disso.
– E
provavelmente você quer o seu carro aqui antes que Charlie chegue em casa,
assim você não terá que contar pra ele sobre o acidente na aula de Biologia. – Eu sorri com a memória dela embaraçada em
meus braços.
– Eu tenho
certeza que ele já sabe. Não existem segredos em Forks. – Ela disse o nome da
cidade com um desgosto distinto.
Eu ri com as
suas palavras. Não existem segredos, de fato.
– Se divirta na praia. – eu lancei um olhar para a chuva torrencial, sabendo que ela não ia
durar muito, e desejando mais forte que o normal que isso acontecesse. – Ótimo
clima pra um banho de sol. – Bem, ao menos
no sábado. Ela ia gostar disso.
– Eu não vou
ver você amanhã?
A preocupação
em seu tom de voz me deixou feliz.
– Não. Emmett e eu vamos começar o fim de
semana mais cedo. – Eu estava louco
comigo
mesmo agora por ter feito planos.
Eu podia
quebrá-los… mas não havia nada mais importante do que caçar nesse ponto, e
minha família já estava ficando preocupada o suficiente com o meu comportamento
sem eu revelar o quão obsessivo eu estava ficando.
– O que vocês
vão fazer? – ela perguntou, não parecendo feliz com a minha
revelação.
“Bom.”
– Nós vamos
fazer uma caminhada nas Goat Rocks, ao sul do Monte Rainier. – Emmett estava ansioso pela temporada de
ursos.
– Hum, bem,
divirta-se. – ela disse de forma apática.
Sua falta de
entusiasmo me fez feliz novamente. Ao olhar para ela, eu comecei a me sentir
quase agoniado pelo pensamento de dizer um adeus temporário. Ela era tão
delicada e vulnerável. Parecia imprudente deixá-la fora da minha vista, onde
qualquer coisa podia acontecer com ela. E ainda, as piores coisas que poderiam
acontecer com ela resultariam em estar ao meu lado.
– Será que você
poderia fazer uma coisa por mim esse fim de semana? – eu perguntei seriamente.
Ela balançou
sua cabeça, seus olhos arregalados e desnorteados com a minha intensidade.
“Mantenha isso leve.”
– Não se
ofenda, mas você parece ser uma dessas pessoas que atraem acidentes como um
imã. Então…
tente não cair no oceano ou ser atropelada, está bem?
Eu sorri
pesarosamente para ela, esperando que ela pudesse ver a tristeza em meus olhos.
Como eu desejava que ela não estivesse tão melhor longe de mim, não importasse
o que acontecesse com ela.
“Corra, Bella, corra. Eu amo você demais,
para o seu próprio bem ou para o meu.”
Ela ficou
ofendida pela minha importunação. Ela olhou para mim.
– Eu vou ver o
que posso fazer. – ela soltou em um
estalo, pulando para fora do carro na hora e batendo a porta com tanta força
quanto ela podia atrás dela.
Como um gatinho
bravo que acredita ser um tigre. Eu apertei a mão ao redor da chave que eu
tinha pego do bolso da jaqueta dela, e sorri enquanto eu dirigia para longe.