Essa não é uma FIC, é um dos capítulos dos arquivos do Midnight Sun que vazaram na internet escritos pela Stephanie Meyer.
Fenômeno
Sinceramente,
eu não estava sedento, mas eu decidi caçar novamente naquela noite. Uma pequena
quantidade para prevenir, eu sei que seria inadequado. Carlisle veio comigo;
nós não ficávamos juntos sozinhos desde que eu retornei de Denali. Enquanto nós
corríamos pela floresta negra, eu o escutei pensando sobre aquele rápido adeus
da semana passada. Em sua memória, eu vi a maneira que as minhas feições tinham
se contraído em um feroz desespero. Eu senti a surpresa dele e a repentina
preocupação.
– Edward?
– Eu tenho que ir Carlisle. Tenho que ir agora.
– O que
aconteceu?
– Nada. Ainda.
Mas irá, se eu ficar.
Ele alcançou o
meu braço. Eu senti como doeu para ele quando eu recuei da sua mão.
– Eu não
entendo.
– Você já… já houve algum momento…
Eu me vi dando
uma profunda respiração, vi a selvagem luz nos meus olhos através do filtro de
preocupação dele.
– Alguém já
cheirou pra você melhor do que o resto das pessoas? Muito melhor?
– Oh.
Quando eu soube
que ele tinha entendido, meu rosto caiu com vergonha. Ele me alcançou para me
tocar, ignorando quando eu recuei de novo, e deixou sua mão em meu ombro.
– Faça o que
você deve para resistir, filho. Sentirei tua falta. Aqui, pegue o meu carro. É
mais rápido.
Ele estava se
perguntando agora se ele tinha feito a coisa certa antes, me mandando para longe.
Se perguntando se ele teria me machucado com a sua falta de confiança.
– Não. – eu sussurrei enquanto eu corria. – Aquilo era o que eu precisava. Eu poderia tão
facilmente ter traído aquela confiança, se você tivesse me falado pra ficar.
– Desculpe se
você está sofrendo, Edward. Mas você deve fazer o que pode para manter a criança
Swan viva. Mesmo se isso signifique que você tem que nos deixar novamente.
– Eu sei, eu
sei.
– Por que você
voltou? Você sabe o quão feliz eu fico por te ter aqui, mas se isso é muito
difícil…
– Eu não gostei
de me sentir um covarde. – eu admiti.
Nós
desaceleramos - nós estávamos praticamente caminhando através da escuridão
agora.
– Melhor do que
botar ela em perigo. Ela partirá em um ano ou dois.
– Você tem
razão, eu sei disso. – Ao contrário,
apesar, as palavras dele apenas me deixaram mais ansioso pra ficar. A garota
partiria em um ano ou dois…
Carlisle parou
de correr e eu parei com ele; ele se virou para examinar a minha expressão.
– Mas você não
vai fugir, vai?
Eu deixei a
minha cabeça cair.
– É por
orgulho, Edward? Não há porque ter vergonha ...
– Não, não é o
orgulho que me mantêm aqui. Não agora.
– Você precisa
ir neste momento?
– Não. Isso não
é por mim, se fosse por mim, eu já teria ido. – Eu suspirei levemente.
– Eu vou ficar
com você, é claro, se você precisar. É só você dizer. É só você não se queixar ao
resto. Eles não terão má vontade com isso.
Ergui uma das
sobrancelhas. Ele suspirou.
– Sim, Rosalie
poderia, mas ela não deveria. Seja como for, é muito melhor para nós, irmos
agora, sem ter feito nenhum dano, do que irmos mais tarde, depois de que uma
vida tenha sido encerrada. – Todo humor havia chegado ao fim. Eu fiquei com
medo de suas palavras.
– Sim. – Eu concordei. Minha voz soou rouca.
– Mas você está
partindo?
– Eu deveria. –
Eu suspirei.
– O que você
está fazendo aqui, Edward? Não consigo ver…
– Não sei como
explicar. – Mesmo para mim, ainda não
fazia sentido. Ele mediu minha expressão por um longo tempo.
– Não, eu não
consigo ver. Mas eu vou respeitar sua privacidade, se você prefere.
– Muito obrigado. É generoso de sua parte, eu
não dou privacidade a ninguém.
Com uma exceção.
E eu estava fazendo o que eu podia para impedir isso, não estava?
– Todos nós
temos nossas peculiaridades. – Ele riu
novamente. – Vamos?
Ele havia
acabado de sentir o rastro de um pequeno rebanho de cervos. Era difícil reunir muito
entusiasmo pelo que era, mesmo nas melhores circunstâncias, um aroma que fazia menos
que dar água na boca. Agora, certamente, com a memória do sangue fresco da garota
na minha mente, o aroma na verdade revirava o meu estômago. Eu suspirei.
– Vamos. – Eu
concordei, apesar de saber que forçar mais sangue por minha garganta não ajudaria
muito.
Nós dois
assumimos uma posição de caçada e deixamos o rastro que nos guiasse e nos puxamos
em silêncio para frente. Estava mais frio quando voltamos para casa. A neve
derretida havia congelado novamente; era como se um fino lençol de vidro cobrisse
tudo - cada ponta de pinheiro, cada folha das plantas, cada lâmina de grama
estava congelada.
Enquanto
Carlisle foi se vestir para seu primeiro turno no hospital, eu fiquei perto do
rio, esperando o sol nascer. Eu me sentia quase inchado de tanto sangue que
havia consumido, mas eu sabia que a falta de sede significaria pouco quando eu
sentasse ao lado da garota de novo. Frio e estático como a pedra em que me
sentava, eu encarei a água fria que corria ao lado da margem congelada,
encarando aquela cena. Carlisle estava certo. Eu devia deixar Forks. Eles
poderiam espalhar alguma história para explicar a minha ausência. Intercâmbio
na Europa. Visitando parentes distantes. Fuga adolescente. A história não
importava. Ninguém ia questionar muito.Levaria apenas um ano ou dois para a
garota desaparecer. Ela seguiria enfrente com a vida dela - ela teria que
seguir enfrente com sua vida. Ela iria à faculdade de algum lugar, ficar mais
velha, começar uma carreira, possivelmente até se casar com alguém. Eu podia imaginar
isso - Eu podia ver a garota toda vestida de branco andando em uma profunda paz,
de braços dados com seu pai.
Era sem igual a
dor que aquela imagem me causou. Eu não podia entender aquilo. Eu estava com
ciúmes, por que ela tinha um futuro que eu nunca teria? Aquilo não fazia sentido.
Todos os humanos a minha volta tinham o mesmo potencial - uma vida – eu raramente
tinha parado para envejá-los. Eu devia deixá-la para seu futuro. Parar de
arriscar a vida dela. Essa era a coisa mais certa a se fazer. Carlisle sempre
escolhia o jeito certo. Eu devia escutá-lo agora.
O sol aumentou
atrás das nuvens, e a luz fraca brilhou de todo o vidro congelado
Mais um dia, eu
decidi. Eu podia vê-la uma vez mais. Podia lidar com aquilo. Possivelmente eu
mencionaria o meu desaparecimento pendente, trazendo a história a tona. Aquilo
seria difícil; Eu podia sentir isso em cada pesada relutância que já estava me fazendo
pensar em desculpas para dizer - para estender o prazo por dois dias, três, quatro…
Mas eu não estaria fazendo a coisa certa. Eu sabia que podia confiar no aviso
de Carlisle. E eu também sabia que podia ser muito difícil tomar a decisão
certa sozinho. Muito difícil. O quanto dessa relutância vinha da minha
obsessiva curiosidade, e quanto vinha do meu insatisfeito apetite? Eu entrei
para trocar de roupa, para ir à escola. Alice estava esperando por mim, sentada
no topo da borda do terceiro andar.
– Você está
indo embora de novo. – ela me acusou.
Suspirei e
acenei com cabeça
– Eu não
consigo ver onde você está indo desta vez.
– Eu não sei
para onde estou indo ainda. – eu
sussurrei.
– Eu quero que
você fique.
Eu balancei
minha cabeça.
– Talvez eu e
Jazz possamos ir com você?
– Eles vão precisar mais de você agora, se eu
não estou aqui para olhar por eles. E pense
em Esme. Eu
levaria metade da família dela embora de uma vez?
– Você vai
fazê-la tão triste.
– Eu sei. Por
isso você tem que ficar.
– Não é o mesmo
sem você aqui, você sabe disso.
– Sim. Mas eu
tenho que fazer o que é certo.
– Existem
vários jeitos certos, e muitos errados, pense, não está lá?
Por um curto
momento ela foi até uma de suas estranhas visões; eu assisti junto com ela como
as imagens indistintas apareciam e giraram. Eu vi a mim mesmo dentro dessas visões
com estranhas sombras que eu não conseguia compreender - nebulosas, imprecisas formas.
E então, de repente, minha pele estava brilhando na luz do sol de uma pequena e
aberta clareira. Eu conhecia este lugar. Havia uma figura na clareira comigo,
mas novamente, era indistinta, não ali o suficiente para reconhecer. As imagens
tremeram e desapareceram quando um milhão de pequenas escolhas rearranjaram o
futuro novamente. – Eu não absorvi muito disso. – eu disse quando a visão ficou escura.
– Eu também.
Seu futuro está mudando e mudando tanto que eu não consigo acompanhar. Mas eu
acho que…
Ela parou,
e vagueou por uma vasta coleção de outras visões recentes para mim. Eram todas
iguais - borradas e vagas.
– Eu acho que
algo está mudando, na verdade. – Ela
disse em voz alta. – Sua vida parece que alcançou uma encruzilhada.
Eu ri, austero.
– Você tem
noção de que soa como uma cigana charlatona em um parque de diversões agora,
certo?
Ela mostrou sua
pequena língua.
– Hoje está
tudo bem, não é? – Perguntei, minha voz
abruptamente apreensiva.
– Não vejo você matando ninguém hoje. – ela me garantiu.
– Obrigado,
Alice.
– Vá se trocar. Não direi nada - deixarei que
você conte aos outros quando estiver pronto.
Ela levantou-se
e seguiu escada abaixo, seus ombros um pouco curvados.
– Sentirei sua falta.
Muito.
– Sim. – eu também sentiria a falta dela.
Foi uma viagem
quieta até o colégio. Jasper podia dizer que Alice estava brava com alguma
coisa, mas ele sabia que se ela quisesse falar sobre isso já o teria feito.
Emmett e Rosalie estavam distraídos, tendo outro de seus momentos, olhando um
nos olhos do outro com admiração- era um tanto nojento de se assistir pelo lado
de fora. Nós todos sabíamos o quão desesperadamente apaixonados eles estavam.
Ou talvez eu apenas estivesse sendo amargo por ser o único sozinho. Alguns dias
eram piores que outros de se conviver com três casais perfeitos e apaixonados.
Esse era um desses dias. Talvez eles fossem mais felizes sem mim por perto, com
meu temperamento ruim e hostil como o senhor de idade que eu deveria ser agora.
Claro, a
primeira coisa que fiz quando chegamos ao colégio foi procurar a garota. Apenas
me preparando novamente. Certo. Era embaraçoso como meu mundo de repente
parecia ser vazio de tudo, menos ela – toda a minha existência centrada ao
redor dessa garota, ao invés de em mim mesmo. Era fácil de entender, na
verdade; depois de oitenta anos da mesma coisa, todo dia, toda noite, qualquer
mudança era motivo de interesse.
Ela ainda não
chegara, mas eu podia ouvir o barulho de trovão do motor de sua picape ao longe.
Inclinei-me ao lado do carro para esperar. Alice esperou comigo, enquanto os
outros foram direto para suas aulas. Estavam entediados com minha fixação - era
incompreensível para eles como qualquer humano pudesse despertar tanto
interesse em mim por tanto tempo, não importava o quão delicioso o cheiro dela
era.
A garota aos
poucos entrou em meu campo de visão, seus olhos na estrada e suas mãos segurando
com força o volante. Ela parecia ansiosa com algo. Levei um segundo para
entender o que
o algo seria, para perceber que todo humano tinha a mesma expressão hoje. Ah, a
estrada estava escorregadia por causa do gelo, e eles estavam todos dirigindo com
cuidado. Eu podia ver que ela levava o risco a sério. Aquilo parecia alinhado
com o pouco que eu já aprendera sobre sua personalidade. Adicionei aquilo à
pequena lista: ela era uma pessoa séria, responsável. Ela estacionou não muito
longe de mim, mas ainda não notara minha presença ainda, encarando-a. Pensei no
que ela faria quando percebesse? Coraria e iria embora? Aquele era meu primeiro
palpite. Mas talvez ela me encarasse de volta. Talvez ela viesse falar comigo.
Inspirei fundo,
enchendo meus pulmões. Esperançoso, apenas por precaução. Ela saiu da picape
com cuidado, testando o chão escorregadio antes que ela pusesse todo seu peso
nele. Não olhou para cima, e isso me frustrou. Talvez eu devesse falar com ela…
Não, isso seria errado. Ao invés de virar em direção ao colégio, ela caminhou
até a traseira da picape, segurando-se no lado da picape de um jeito atrapalhado,
não confiando em seus passos. Isso me fez sorrir, e eu senti os olhos de Alice
em meu rosto. Não ouvi seja lá o que isso a fez pensar - eu estava me
divertindo muito observando a garota checar as correntes nos pneus. Ela realmente
parecia que estava prestes a escorregar, da maneira que seus pés deslizavam no
chão. Ninguém mais parecia ter o mesmo problema - teria ela estacionado na pior
parte do gelo?
Ela parou por
um momento, olhando para os pneus com uma expressão estranha no rosto. Era…
ternura? Como se algo com relação aos pneus a deixasse… emocionada? Novamente,
a curiosidade doeu como a sede. Era como se eu precisasse saber o que ela estava
pensando - como se mais nada importasse.
Eu iria falar
com ela. Ela parecia que precisava de uma ajuda de qualquer modo, pelo menos
até que ela estivesse fora da zona escorregadia de gelo. Claro, eu não poderia
lhe oferecer ajuda, não é? Hesitei, dividido. Por mais contrária que ela
parecia com relação à neve, dificilmente ela acharia agradável o toque de
minhas mãos brancas e frias. Eu devia
ter usado luvas
-
– NÃO! – Alice ofegou alto.
Instantaneamente,
li seus pensamentos, imaginando primeiro que eu deveria ter feito uma escolha
ruim e ela me viu fazendo algo imperdoável. Mas não era nada a ver comigo. Tyler
Crowley escolhera fazer a curva do estacionamento rápido demais. Essa escolha o
faria deslizar no gelo… A visão aconteceu a menos de meio segundo da realidade.
A van de Tyler rodou na esquina enquanto eu assistia o final que deixou Alice
sem fôlego. Não, essa visão não tinha nada a ver comigo, mas ainda assim tinha
tudo a ver comigo, porque a van de Tyler - os pneus agora tocando o gelo num
ângulo pior, impossível – ia rodar pelo estacionamento e bater na garota que se
tornara o foco não intencional de meu mundo.
Mesmo sem Alice
prevendo, teria sido fácil adivinhar a trajetória do veículo, saindo do controle
de Tyler. A garota, parada no lugar exatamente errado na traseira da picape,
olhou para cima, confusa com o barulho dos pneus cantando no asfalto. Ela olhou
diretamente nos meus olhos horrorizados, e virou-se para observar sua morte
iminente.
“– Ela, não!” As palavras gritaram em minha mente, como
se pertencessem a outra pessoa. Ainda preso aos pensamentos de Alice, percebi
que a visão de repente se modificava, mas não tive tempo de ver o que
aconteceria então.
Atirei-me
pelo estacionamento, jogando-me entre a van desgovernada e a garota petrificada.
Movimentei-me tão depressa que tudo parecia apenas um borrão, menos o objeto em
que eu estava focado. Ela não me viu - nenhum olho humano conseguiria acompanhar
minha movimentação - ainda encarando a forma que estava prestes a prensála na
estrutura metálica de sua picape.
A peguei
pela cintura, movendo com urgência para ser tão gentil quanto fosse possível.
No centésimo de segundo entre o tempo que levei para tirá-la do caminho da
morte e o tempo que levei para cair no chão com ela em meus braços, eu estava
vividamente consciente da fragilidade de seu corpo. Quando ouvi sua cabeça
bater contra o gelo, senti como se eu tivesse virado gelo também. Mas eu não
tinha nem mesmo um segundo inteiro para me certificar de sua condição. Escutei
a van atrás de nós, girando barulhenta enquanto batia no corpo metálico da
picape da garota. Estava mudando de curso, virando-se, vindo até ela novamente
- como se ela fosse um ímã, puxando-a para nós.
– Droga. – sibilei.
Eu já havia
feito muito. Enquanto eu voava pelo ar para tirá-la do caminho, eu estava consciente
do erro que estava cometendo. Saber que era um erro não me impediu, mas eu não
estava alheio ao risco que estava assumindo - assumindo, não apenas para mim,
mas para toda minha família.
Revelação.
E isso
certamente não ajudaria, mas não havia a menor chance de eu deixar a van obter sucesso
em sua segunda tentativa de tirar a vida da garota. A deixei no chão e ergui
minhas mãos, segurando a van antes que ela pudesse tocar a garota. A força do
movimento me lançou de encontro ao carro parado ao lado da picape, e eu podia
sentir sua forma afundar por meus ombros. A van tremeu contra o obstáculo que eram
meus braços, e então girou, balançando instável nos dois pneus mais afastados. Se
eu movesse minhas mãos, o pneu traseiro da van ia cair nas pernas dela.
Ah, pelo amor
de tudo que é sagrado, as catástrofes nunca teriam fim? Havia mais alguma coisa
pra dar errado? Eu não podia ficar ali, segurando a van no ar, e esperando por resgate.
Mas não podia jogar a van longe - havia o motorista a considerar, seus pensamentos
incoerentes pelo pânico.
Com um rugido
interno, empurrei a van para que ela se afastasse de nós por um instante. Enquanto
ela balançava novamente em minha direção, a segurei por debaixo de sua forma com
minha mão direita enquanto enrolava meu braço esquerdo em volta da cintura da garota
novamente e a arrastava de debaixo da van, puxando-a apertada a meu lado. Seu corpo
se moveu mole enquanto eu a virava para que suas pernas estivessem livres - estaria
ela consciente? Quanto dano eu a teria infligido em minha desastrosa tentativa
de resgate?
Deixei a van
cair, agora que não podia mais machucá-la. Ela bateu no pavimento, as janelas
tremendo em uníssono. Eu sabia que estava no meio de uma crise. O quanto ela
teria visto? Mais alguém teria me visto materializar ao lado dela e então
segurado a van enquanto tentava tirar a garota de debaixo dela? Essas questões
deveriam ser minha maior preocupação. Mas eu estava ansioso demais para
realmente me importar com a ameaça de exposição o tanto que eu deveria. Muito
tomado pelo pânico de que eu poderia tê-la machucado em meu esforço de protegê-la.
Muito assustado de tê-la tão próxima a mim, sabendo que assim eu sentiria seu
cheiro se eu me permitisse respirar. Muito consciente do calor de seu corpo
macio, pressionado ao meu - mesmo pelo obstáculo duplo de nossas jaquetas, eu podia
sentir o calor…
O primeiro medo
foi o maior. Quando os gritos das testemunhas se ergueu a nossa volta, me
inclinei para examinar seu rosto, para ver se ela estava consciente – esperando
ansiosamente para que ela não estivesse sangrando. Seus olhos estavam abertos, encarando
em choque.
– Bella? – Perguntei urgentemente. – Você esta bem?
– Estou bem. – Ela disse, suas palavras soaram automáticas
com tom atordoado.
Alívio.
Era tão
esquisito quanto doloroso, o banho que veio a mim com o som da sua voz. Eu
inspirei um pouco entre meus dentes, e não me importei com a queimação que
estava na minha garganta. Eu quase dei as boas-vindas. Ela se esforçou para
sentar-se, mas eu não estava pronto para soltá-la. Se eu soltasse… seria mais
seguro? Melhor, no mínimo, tê-la enroscada em mim.
– Cuidado. – Eu a avisei. – Acho que você bateu sua cabeça com força.
Não estava
cheirando a sangue novo - uma piedade - mas isso não quer dizer nada sobre o
dano interno. Eu estava inesperadamente ansioso para levá-la ao Carlisle e ao
seu completo equipamento de radiologia.
– Ai. – Ela disse, seu tom comicamente chocado
quando ela percebeu que eu estava certo sobre sua cabeça.
– Foi isso que
pensei. – Aliviadamente foi engraçado
para mim, me fez ficar mais tonto.
– Como foi que…–
Sua voz falhou, e seus olhos tremeram.
– Como foi que chegou aqui tão
rápido?
O alivio voltou
azedo, o humor desapareceu. Ela percebeu demais. Agora pareceu que a garota
estava em postura séria, a ansiedade pela minha família estava séria.
– Eu estava bem
ao seu lado, Bella. – Eu sabia por
experiência que se eu tivesse muita autoconfiança poderia mentir, de uma
maneira que qualquer questionamento poderia parecer verdade.
Ela esforçou-se
para se mover de novo, e nessa hora eu me permiti. Eu precisava respirar tanto
que eu poderia fazer meu papel corretamente, eu precisava de espaço do seu
corpo caloroso, delicioso e quente tanto que não poderia combinar com sua
mensagem de desespero para mim. Eu deslizei para longe dela, o mais longe o
possível no pequeno espaço entre os destroços do veículo. Ela me olhou e eu a
olhei também. Para olhar para longe, seria um primeiro erro que apenas um
mentiroso incompetente poderia fazer, e eu não era um mentiroso incompetente.
Minha expressão estava suave, benigna… Seu rosto pareceu confuso. Isso era bom.
A cena do
acidente estava cercada agora. Tantos estudandes, crianças, colegas se empurrando
feito manivelas para ver qualquer corpo que fosse visivel. Ali as falas eram inteligíveis
com os altos gritos dos pensamentos chocados. Eu escaniei os pensamentos uma
vez para ter certeza que não havia ninguém desconfiado ainda, e então pude
desligar e me concentrar apenas na garota.
Ela estava
distraída por causa da confusão. Ela deu uma olhada por perto, sua expressão continuou
chocada e cansada para se manter em pé. Eu coloquei minha mão levemente para
empura-la.
– Fique quieta
por enquanto. – Ela parecia bem, mas ela
poderia mesmo mover seu pescoço?
De novo, eu
ansiei por Carlisle. Meus olhos como estudante teórico de medicina não se igualavam
com seus séculos de medicina prática.
– Mas está frio.
– Ela reclamou.
Ela quase tinha
sido esmagada até a morte duas vezes de formas distintas e se ferido uma vez
mais, e era esse frio que a estava incomodando. Um pedaço da memória deslizou
em meus dentes, depois eu pude lembrar que a situação não foi engraçada. Bella
piscou, e seus olhos focaram no meu rosto.
– Você estava
lá.
Aquilo soou
sério para mim de novo. Ela deu uma olhada para trás, viu que não tinha nada
para ver além da Van amassada.
– Você estava
perto do seu carro.
– Não estava
não.
– Vi você. – ela
insistiu; a voz dela era infantil quando era teimosa. Seu queixo sobressaiu.
– Bella, eu
estava parado do seu lado e tirei você do caminho.
Eu encarei
fundo em seus olhos intensos, tentando convencê-la a aceitar minha versão a única
racional disponível. O queixo dela se endureceu.
– Não.
Eu tentei ficar
calmo, não entrar em pânico. Se eu pudesse a manter calada por alguns momentos,
me dar uma chance de destruir a evidência… e negar a história dela alegando uma
lesão na cabeça. Não deveria ser fácil manter essa garota silenciosa e
reservada calada? Se ela confiasse em mim, só por alguns instantes…
– Por favor,
Bella. – eu disse, e minha voz estava
muito intensa, porque de repente eu queria que ela confiasse em mim. Queria
muito, e não só por causa do acidente. Que vontade estúpida. Que sentido faria
ela confiar em mim?
– Por quê? – ela
perguntou, ainda na defensiva.
– Confie em mim. – eu pedi.
– Promete que
vai me explicar tudo depois?
Deixou-me nervoso
ter que mentir para ela de novo, quando eu queria tanto que eu
merecesse a
confiança dela. Então, quando eu a respondi, retruquei.
– Tudo bem.
– Tudo bem. – ela revidou no mesmo tom.
Enquanto a
tentativa de resgate começava ao nosso redor - adultos chegando, autoridades foram
chamadas, sirenes à distância - eu tentei ignorar a garota e colocar minhas prioridades
em ordem. Busquei em cada mente no estacionamento, das testemunhas e das que
chegaram depois, mas não consegui achar nada de perigoso. Muitos estavam surpresos
de me ver ao lado de Bella, mas todos concluíram - porque não havia mais nenhuma
conclusão a se tirar - que eles não tinham me notado parado ao lado da menina antes
do acidente.
Ela era a única
que não aceitava a explicação mais fácil, mas também seria considerada a fonte
menos confiável. Ela estava aterrorizada, traumatizada, para não falar a
pancada na cabeça. Possivelmente em choque. Seria aceitável para a história
dela estar confusa, certo? Ninguém a daria atenção com tantos outros expectadores.
Eu recuei quando ouvi os pensamentos de Rosalie, Jasper e Emmett, que chegavam
agora na cena. Seria o inferno pagar por isto à noite…Eu queria resolver o
problema da fissura que meus ombros tinham deixado no carro caramelo, mas a
garota estava perto demais. Teria que esperar até que ela estivesse distraída.
Era frustrante
esperar - tantos olhos humanos em mim - enquanto os humanos lutavam com a van,
tentando tirá-la de nós. Eu podia ter ajudado, apressado o processo, mas já estava
com problemas suficientes e a menina tinha olhos atentos. Finalmente, eles conseguiram
afastá-la longe o suficiente para que os paramédicos entrassem com as macas. Um
rosto grisalho e familiar apareceu.
– Oi, Edward. – Brett Warner disse.
Ele também era
um enfermeiro registrado, e eu o conhecia bastante bem do hospital. Foi um
golpe de sorte - a única sorte de hoje - foi ele quem chegou até nós primeiro.
Em seus pensamentos, ele estava notando que eu parecia alerta e calmo.
– Você está
bem, garoto?
– Perfeito,
Brett. Nada me acertou. Mas receio que a Bella aqui talvez tenha uma concussão.
Ela bateu a cabeça forte quando a tirei da frente…
Brett se virou
para a menina, que me lançou um olhar traído. Ah, estava certo. Ela era o tipo
de mártir calado - preferia sofrer em silêncio. Ela não contradisse minha
história imediatamente e isso me deixou melhor. O próximo paramédico insistiu
que eu me deixasse ser tratado, mas não foi tão difícil desencorajá-lo. Eu
prometi que deixaria meu pai me examinar, e ele desistiu. Com a maioria dos
humanos, só falar com confiança era necessário. Com a maioria dos humanos, menos
a menina, é claro. Ela se encaixava em algum padrão? Quando eles colocaram o
protetor de pescoço nela - e seu rosto ficou escarlate de vergonha - usei a
distração para arrumar silenciosamente o formato do amassado no carro caramelo
com meu pé. Só meus irmãos notaram o que eu estava fazendo e escutei a promessa
mental de Emmett de arrumar o que eu deixasse para trás. Agradecido pela ajuda
dele - e mais agradecido que Emmett, pelo menos, já tinha perdoado minha
escolha perigosa - fiquei mais relaxado quando subi no banco da frente da ambulância
ao lado de Brett.
O chefe de
polícia chegou antes que eles colocassem Bella no fundo da ambulância. Embora
os pensamentos do pai de Bella estivessem além das palavras, o pânico e a preocupação
emanando da mente do homem como qualquer outro nos arredores. Ansiedade e culpa
sem palavras, muito dos dois sentimentos, o lavou quando ele viu sua única
filha na maca. Lavaram dele e passaram para mim, ecoando e ficando mais forte.
Quando Alice tinha me avisado que matar a filha de Charlie Sawn o mataria
também, ela não estava exagerando. Minha cabeça se curvou de culpa enquanto
escutava sua voz em pânico.
– Bella! – ele gritou.
– Eu estou bem
Char… pai. – ela suspirou. – Não há nada de errado comigo.
A garantia dela
mal acalmou o terror dele. Ele se virou para o paramédico mais perto e pediu
mais informação. Não foi até eu o ouvir falando, formando frases perfeitamente
coerentes tirando seu pânico que eu percebi que a ansiedade e preocupação dele
não eram além das palavras. Eu só… não podia ouvir as palavras exatas. Hmm.
Charlie Swan não era tão silencioso como a filha, mas eu podia ver de onde ela tinha
herdado. Interessante. Nunca tinha passado muito tempo envolta do chefe de
polícia da cidade. Sempre o considerei um homem de raciocínio lento - agora eu
entendi que eu é que era lento. Os pensamentos dele eram parcialmente ocultos,
não ausentes. Eu só podia escutar o caráter deles, o tom…
Queria escutar
com mais atenção, ver se eu podia achar nessa nova pequena peça a chave para os
segredos da garota. Mas Bella foi trancada na parte trazeira então, e a
ambulância estava seguindo seu caminho. Era difícil me desviar dessa possível
solução para o mistério que tinha me deixado obcecado. Mas eu tinha que pensar
agora - olhar o que havia sido feito hoje de cada ângulo. Eu tinha que escutar,
ter certeza de que não tinha colocado todos nós em tanto perigo que teríamos
que partir imediatamente. Tinha que me concentrar. Não havia nada nos
pensamentos dos paramédicos para me preocupar. Até onde eles sabiam, não tinha
nada de errado com a garota. E Bella estava mantendo a história que eu tinha
contado, até agora. A prioridade, quando chegamos ao hospital, era ver
Carlisle. Eu corri pelas portas automáticas, mas fui incapaz de abrir mão de
assistir totalmente a Bella; continuei prestando atenção nela através dos
pensamentos dos paramédicos. Foi fácil achar a mente familiar de meu pai. Ele
estava um seu escritório pequeno, sozinho - o segundo golpe de sorte desse dia
azarado.
– Carlisle.
Ele escutou
minha aproximação, e ficou alarmado assim que viu meu rosto. Ele ficou em pé,
pálido como um fantasma. Ele se inclinou para frente da mesa de nogueira
organizada. Edward, você não…
– Não, não, não
é isso.
Ele respirou
fundo.
– Claro que
não. Desculpe que pensei isso. Seus olhos, claro, eu devia reconhecido… – Ele notou meus olhos ainda eram dourados com
alívio.
– Mas ela está
machucada, Carlisle, provavelmente não é grave, mas…
– O que
aconteceu?
– Um acidente
de carro estúpido. Ela estava no lugar errado, na hora errada. Mas eu não podia
fica parado lá - deixar que fosse atropelada…
– Comece de
novo, eu não entendo. Como você se envolveu?
– Uma van
derrapou no gelo. – eu sussurrei. Olhei a parede atrás dele enquanto falava. Ao invés de
ser coberta com diplomas, ele tinha só uma pintura à óleo, uma de suas
favoritas, um Hassam não descoberto. – Ela estava no caminho. Alice viu
acontecendo, mas não havia tempo para fazer nada além de correr pelo
estacionamento e tirá-la da frente. Ninguém notou… exceto ela. Eu tive que
parar a van também, mas de novo, ninguém viu… a não ser ela. Eu… eu sinto
muito, Carlsile. Não queria nos colocar em perigo.
Ele deu a volta
na mesa e colocou a mão no meu ombro.
– Você fez a
coisa certa. E não deve ter sido fácil para você. Estou orgulhoso, Edward.
Eu o olhei nos
olhos.
– Ela sabe que
tem algo… de errado comigo.
– Isso não
importa. Se tivermos que ir embora, nós iremos. O que ela disse?
Balancei a
cabeça, um pouco frustrado.
– Nada, ainda.
– Ainda?
– Ela concordou
com a minha versão dos eventos… mas está esperando uma explicação.
Ele franziu a
testa, pensando.
– Ela bateu a
cabeça ... bom, eu fiz isso. – continuei
rapidamente. – Eu a bati contra o chão
com bastante
força. Ela parece bem, mas… não acho que será difícil desacreditá-la.
Senti-me rude
só de dizer as palavras. Carlisle ouviu o desgosto na minha voz.
– Talvez isso
não seja necessário. Vamos ver o que acontece, está bem? Parece que tenho uma
paciente para ver.
– Por favor. – eu
disse. – Estou preocupado que a tenha machucado.
A expressão de
Carslile se aliviou. Ele passou o dedo pelo cabelo, só alguns tons mais claro que
seus olhos dourados, e riu.
– Foi um dia
interessante para você, não foi? – Em sua
mente, eu podia ver a ironia, e era engraçada - para ele, pelo menos.
Uma inversão de
papéis. Durante aquele momento curto e impensado em que corri pelo
estacionamento congelado, eu tinha passado de assassino para protetor. Eu ri
com ele, lembrando de ter certeza de que Bella nunca precisaria de proteção de
nada além de mim mesmo. Minha risada tinha um tom irritado porque, apesar da
van, isso ainda era verdade. Eu esperei no escritório de Carlsile - uma das
horas mais compridas que já vivi – escutando o hospital cheio de pensamentos.
Tyler Crowley,
o motorista da van, parecia estar mais machucado que Bella, e a atenção se voltou
para ele enquanto ela esperava a sua vez de fazer o raio-X. Carlisle ficou nos fundos,
confiando no diagnóstico dos residentes de que a garota só estava levemente machucada.
Isso me deixou ansioso, mas sabia que ele tinha razão. Uma espiada no rosto dele
e ela imediatamente se lembraria de mim, do fato que havia algo de errado com a
minha família, e talvez isso a fizesse falar algo. Ela certamente tinha um
parceiro disposto o suficiente para conversar. Tyler estava consumido por culpa
com o fato de quase tê-la matado, e não conseguia parar de falar sobre isso. Eu
podia ver a expressão dela através dos olhos dele, e estava claro que ela queria
que ele parasse. Como ele não via isso? Houve um momento tenso para mim quando
Tyler perguntou como ela tinha saído da frente. Eu esperei, sem respirar, como
ela hesitou.
– Hmmm… – ele a escutou falar. Então ela fez uma pausa
tão longa que Tyler se perguntou se sua pergunta a tinha confundido.
Finalmente, ela continuou. – Edward me puxou de lá.
Eu suspirei.
Então minha respiração acelerou. Eu nunca a tinha ouvido falar meu nome antes.
Gostei do som - mesmo só de escutar pelos pensamentos de Tyler. Queria escuta com
meus próprios ouvidos…
– Edward
Cullen. – ela disse, quando Tyler não
entendeu de quem ela tinha falado.
Encontrei-me na
porta, a mão na maçaneta. O desejo de vê-la estava ficando mais forte. Eu tive
que me lembrar de ter cuidado.
– Ele estava do
meu lado.
– Cullen? Hmm.
Que estranho. ... Não o vi… Podia ter jurado… Caramba, acho que foi tudo tão
rápido. Ele está bem?
– Acho que sim.
Está em algum lugar por aqui, mas ninguém o obrigou a usar uma maca.
Eu vi o olhar
pensativo no rosto dela, a suspeita ficando mais forte em seus olhos, mas essas
pequenas mudanças de expressão foram perdidas em Tyler.
“Ela é bonita”, ele estava pensando, quase surpreso. “Mesmo toda desarrumada. Não faz meu tipo,
mas… devia convidá-la para sair. Compensar por hoje…”
Então fui para
o corredor, a meio caminho da sala de emergência, sem pensar por um segundo no
que estava fazendo. Por sorte, a enfermeira entrou na sala antes de mim - era a
vez de Bella tirar o raio-X. Encostei-me à parede em um canto escuro e tentei
me controlar enquanto ela era levada para longe. Não importava que Tyler pensou
que ela era bonita. Qualquer um notaria isso. Não havia razão para eu me
sentir… Como eu me sentia? Aborrecido? Ou enfurecido estava mais perto a
verdade? Isso não fazia nenhum sentido. Eu fiquei onde eu estava o quanto eu
pude, mas a impaciência me venceu e eu voltei pra sala de radiologia. Ela já
tinha sido levada de volta ao pronto socorro, mas eu podia dar uma olhada em
seus Raios-x enquanto a enfermeira não voltava. Eu me senti mais calmo quando
vi. Sua cabeça estava bem. Eu não a tinha machucado, não exatamente. Carlisle
me apanhou lá.
– Você parece
melhor. – ele comentou.
Eu apenas olhei
pra frente. Nós não estávamos sozinhos, os corredores cheios de
ordenados e
visitantes.
– Ah, sim. – Ele encravou seus raios-x a tábua iluminada,
mas eu não precisava de uma segunda olhada. – Eu vejo. Ela está
absolutamente bem. Muito bem, Edward.
O som da
aprovação de meu pai criou uma reação mista em mim. Eu estaria contente, exceto
por saber que ele não aprovaria o que eu ia fazer agora. Ao menos, ele não aprovaria
se soubesse de minhas reais motivações…
– Eu acho que
vou conversar com ela ... depois que ela ver você. – eu suspirei. – Aja naturalmente, como se nada tivesse acontecido.
Esqueça isso. – Todas razões aceitáveis. Carlisle acenou
ausente, ainda olhando pros seus raios-x.
– Boa idéia.
Hmm.
Eu olhei pra
ver o que o tinha interessado.
– Olhe todas as
contusões cicatrizadas! Quantas vezes a mãe dela a derrubou?
Carlisle sorriu
pra si mesmo por sua brincadeira.
– Eu estou
começando a pensar que essa garota tem apenas má sorte. Sempre no lugar errado
na hora errada.
– Forks é
certamente o lugar errado pra ela, com você aqui.
Eu me retirei.
– Vá em frente.
Esqueça essas coisas. Eu estarei com você logo.
Eu saí
rapidamente, me sentindo culpado. Talvez eu fosse um mentiroso muito bom, se eu
pudesse enganar Carlisle. Quando eu cheguei ao pronto socorro, Tyler estava
resmungando sob sua respiração, ainda se desculpando. A garota estava tentando
escapar do remorso dele tentando dormir. Os olhos dela estavam fechados, mas
sua respiração não estava contínua, e uma vez ou outra seus dedos se torciam
impacientemente. Eu encarei seu rosto por um longo tempo. Essa era a última vez
que eu a veria. Isso disparou uma dor aguda em meu peito. Seria porque eu
odiava deixar qualquer quebracabeça sem solução? Isso não parecia uma
explicação suficiente. Finalmente, eu respirei fundo e fiquei a vista. Quando
Tyler me viu, ele começou a falar, mas eu coloquei um dedo em meus lábios.
– Ela está
dormindo? – Eu murmurei.
Os olhos de
Bella se abriram rapidamente e focou em meu rosto. Eles se arregalaram por um
momento, e depois se estreitaram por raiva ou suspeita. Eu lembrei que eu tinha
uma encenação pela frente, então eu sorri pra ela como se nada incomum houvesse
acontecido esta manhã - apenas uma pancada na cabeça e um pouco de imaginação
livre.
– Hey, Edward.
– Tyler disse. – Eu lamento muito ...
Eu levantei uma
mão pra parar suas desculpas.
– Sem sangue,
sem danos. – eu disse humoradamente. Sem pensar, eu sorri
muito largamente por minha brincadeira particular.
Era
assustadoramente fácil ignorar Tyler, deitado não mais que 1.20m de mim,
coberto de sangue fresco. Eu nunca tinha entendido como Carlisle era capaz de
fazer aquilo – ignorar o sangue de seus pacientes pra cuidar deles. Não seria a
constante tentação muito distraída, muito perigosa…? Mas, agora… Eu podia ver
como, se você estivesse focado o suficiente em algo mais forte o suficiente, a
tentação não seria nada demais. Apesar de fresco e exposto, o sangue de Tyler
não tinha nada a ver com o de Bella. Eu mantive minha distância dela, me
sentando nos pés do colchão de Tyler.
– Então, qual o
veredicto? – eu perguntei a ela. Ela fez
bico.
– Não há nada
de errado comigo, mas eles não vão me deixar ir. Como você não está acorrentado
a uma maca como o resto de nós?
Sua impaciência
me fez sorrir novamente. Eu podia ouvir Carlisle no corredor agora.
– Tudo depende
dos seus contatos. – eu disse suavemente.
– Mas não se preocupe, eu vim libertar
você.
Eu assisti sua
reação cuidadosamente enquanto meu pai entrava na sala. Os olhos dela se arregalaram
e sua boca realmente abriu em surpresa. Eu gemi internamente. Sim, ela certamente
tinha notado a semelhança.
– Então, Srta.
Swan, como você está se sentindo? – Carlisle perguntou.
Ele tinha uma maneira
maravilhosamente calma que deixava a maioria dos pacientes bem em poucos momentos.
Eu não poderia falar como isso afetou Bella.
– Eu estou bem.
– ela disse quietamente.
Carlisle fixou
seus raios-x no painel de luz acima da cama.
– Seu raio-X
parece bom. Sua cabeça está doendo? Edward disse que você bateu com força.
Ela suspirou.
– Eu estou bem.
– Ela
suspirou e disse novamente, mas dessa vez a impaciência vazou em sua voz.
Depois ela olhou de relance em minha direção.
Carlisle se
aproximou dela e correu seus dedos levemente por seu crânio até que ele encontrou
o galo embaixo de sua cabeça. Eu fui pego de surpresa pela onda de emoção que
passou por mim. Eu tinha visto Carlisle trabalhar com humanos mil vezes. Anos
atrás, eu tinha até o ajudado informalmente - embora apenas em situações em que
sangue não estava envolvido. Então não era uma coisa nova pra mim, assisti-lo
interagir com a garota como se ele fosse tão humano quanto ela. Eu tinha
invejado seu controle muitas vezes, mas não era o mesmo que essa emoção. Eu
invejei mais que seu controle. Eu sofri pela diferença entre Carlisle e eu -
que ele pudesse tocá-la tão gentilmente, sem receio, sabendo que nunca a machucaria…
Ela estremeceu, e eu pulei do meu assento. Eu tive que me concentrar por um
momento para manter minha postura relaxada.
– Sensível ? – Carlisle perguntou.
Seu queixo se
levantou um pouco.
– Na verdade
não. – ela disse.
Outro pequeno
pedaço de sua personagem se encaixou: ela estava brava. Ela não gostava de
mostrar fraqueza. Possivelmente a criatura mais vulnerável que eu já vi, e ela
não quer parecer fraca. Uma gargalhada escorregou através de meus lábios. Ela
me olhou novamente.
– Bem. – Carlisle disse. – Seu pai está na sala
de espera. Você pode ir pra casa com ele agora. Mas volte se tiver vertigens ou
qualquer problema com a sua visão.
O pai dela
estava aqui? Eu varri os pensamentos da sala de espera lotada, mas não conseguia
distinguir sua voz mental do grupo antes que ela estivesse falando de novo, o rosto
ansioso.
– Posso voltar
pra a escola?
– Talvez
devesse descansar hoje. – Carlisle
sugeriu.
Os olhos dela
se voltaram para mim.
– Ele vai para
a escola?
Agir normalmente…
acalmar as coisas… esquecer a sensação quando ela me olha nos olhos…
– Alguém tem
que espalhar a boa notícia de que sobrevivemos. – eu disse.
– Na verdade – Carlisle corrigiu – a maior parte da
escola parece estar na sala de espera.
Eu pressenti a
reação dela dessa vez - sua aversão à atenção. Ela não me desapontou.
– Ah, não. – ela lamentou e colocou as mãos no rosto.
Eu gostei que
finalmente adivinhei uma coisa certa. Estava começando a entendê-la…
– Quer ficar
aqui? – Carlisle perguntou.
– Não, não! – Ela disse rapidamente, girando as pernas sob
o colchão e escorregando para ficar em pé. Ela tropeçou, sem equilíbrio, nos
braços de Carlisle. Ele a pegou e a firmou. Novamente, a inveja me inundou.
– Estou bem. – Ela disse antes que ele pudesse comentar, um
rosa claro em suas bochechas. Claro, aquilo não incomodaria Carlisle. Ele teve
certeza que ela tinha recuperado o equilíbrio e soltou as mãos.
– Tome um
Tylenol para a dor. – ele instruiu.
– Não está
doendo tanto assim.
Carlisle sorriu
e assinou o prontuário dela.
– Parece que
vocês dois tiveram muita sorte.
Ela virou
levemente o rosto, para me encarar com olhos rígidos.
– A sorte foi
Edward por acaso estar parado ao meu lado.
– Ah, bem, sim.
– Carlisle concordou depressa, escutando
a mesma coisa na voz dela que eu escutei. Ela não tinha pensado que suas
suspeitas eram coisas da sua imaginação. Ainda não.
“Toda sua.”, Carlisle pensou. “Cuide do jeito que achar melhor.”
– Muito
obrigado. – eu sussurrei, rápido e baixo.
Nenhum humano
me ouviu. Os lábios de Carlisle se viraram um pouco para cima com o meu
sarcasmo enquanto ele se virava para Tyler.
– Mas acho que
você terá que ficar conosco por mais um tempinho. – ele
disse quando começou a examinar os cortes deixados pelo vidro quebrado.
Bom, eu tinha
feito o estrago, então era justo que eu tivesse que lidar com ele. Bella andou
deliberadamente na minha direção, sem parar até que estivesse a uma distância
desconfortável. Lembrei como eu tinha desejado, antes de todo o estrago, que ela
se aproximasse de mim… Isso já era zombar desse desejo.
– Posso
conversar com você um minuto? – ela
sibilou para mim.
A sua
respiração quente tocou meu rosto e eu tive que dar um passo para trás. A
atração dela não tinha diminuído nem um pouquinho. Toda vez que ela estava
perto de mim, despertava os meus piores instintos, os mais urgentes. Veneno
inundou minha boca e meu corpo ansiou para atacar - para puxá-la para os meus
braços e despedaçar sua garganta nos meus dentes. Minha mente era mais forte
que meu corpo, mas era por pouco.
– Seu pai está
esperando por você. – eu a lembrei, com o
queixo apertado.
Ela olhou para
Carlisle e Tyler. Tyler não estava prestando nem um pouco de atenção, mas Carlisle
estava monitorando cada respiração que eu dava.
“Cuidado, Edward.”
– Gostaria de
falar com você a sós, se não se importa. –
ela insistiu em uma voz baixa.
Eu gostaria de
dizer que me importava muito, mas sabia que teria que passar por isso uma hora.
Melhor acabar com isso de uma vez. Estava cheio de tantas emoções em conflito
quando eu saía do quarto, escutando-a tropeçar nos próprios pés atrás de mim,
tentando me acompanhar. Tinha que atuar. Sabia que papel eu faria - eu já tinha
escolhido o personagem. Seria o vilão. Mentiria, ridicularizaria e seria cruel.
Isso era contra todos os meus melhores impulsos - os impulsos humanos aos quais
tinha me agarrado todos esses anos. Nunca quis merecer mais confiança do que
nesse momento, quando tinha que destruir qualquer possibilidade que ela
existisse. Foi pior saber que essa seria a última memória que ela teria de mim.
Essa era a cena de despedida. Virei-me para ela.
– O que você
quer? – perguntei friamente.
Ela se contraiu
um pouco com a minha hostilidade. Seus olhos ficaram confusos, na expressão que
tinha me assombrado…
– Você me deve
uma explicação. – ela disse em uma voz
fraca; o rosto de marfim empalideceu.
Foi muito
difícil manter minha voz dura.
– Eu salvei a
sua vida… Não lhe devo nada.
Ela recuou -
queimou como ácido ver que minhas palavras a machucavam.
– Você
prometeu. – ela sussurrou.
– Bella, você
bateu a cabeça, não sabe do que está falando.
Então ela se
empertigou.
– Não há nada
de errado com a minha cabeça.
Ela estava
irritada agora, e isso deixou as coisas mais fáceis para mim. Eu sustentei seu olhar,
deixando meu rosto menos amigável.
– O que você
quer de mim, Bella?
– Quero saber a
verdade. Quero saber por que estou mentindo por você.
O que ela
queria era justo - me frustrou ter que negar isto para ela.
– O que você
acha que aconteceu? – eu quase rosnei
para ela.
Suas próximas
palavras vieram em uma corrente.
– Só o que eu
sei é que você não estava em nenhum lugar perto de mim… O Tyler também não o
viu, então não venha me dizer que bati a cabeça com força… Aquela van ia
atropelar nós dois… E não aconteceu, e suas mãos pareceram amassar a lateral
dela… E você deixou um amassado no outro carro e não está nada machucado… E a
van devia ter esmagado minhas pernas, mas você a levantou… – De repente, ela trincou os dentes e seus
olhos estavam brilhando com lágrimas não derramadas.
Eu a encarei,
minha expressão de escárnio, embora o que sentisse mesmo era medo; ela realmente
tinha visto tudo.
– Acha que eu
levantei a van? – eu perguntei
sarcasticamente.
Ela respondeu
com um aceno rápido. Minha voz ficou ainda mais irônica.
– Sabe que
ninguém vai acreditar nisso.
Ela lutou para
controlar a raiva. Quando me respondeu, ela falou cada palavra devagar.
– Não vou
contar a ninguém.
Ela estava
dizendo a verdade. Eu podia ver isso nos olhos dela. Mesmo furiosos e traídos, ela
iria guardar meu segredo.
–Por quê?
O choque disso
arruinou a minha expressão cuidadosamente projetada durante meio
segundo, e logo
me recompus.
– E por que
isso importa? – Eu perguntei, trabalhando para manter minha
voz severa.
– Importa pra
mim. – ela disse intensa. – Eu não gosto de mentir, então é melhor que
tenha
um bom motivo
para fazer isso.
Ela me pediu
para confiar nela. Exatamente como eu queria que ela confiasse em mim. Mas esse
lado da linha eu não podia atravessar. A minha voz ficou calosa.
– Você não pode
só me agradecer e esquecer isso?
– Obrigada. – Ela disse, e logo ela fumigou
silenciosamente, esperando.
– Você não vai
esquecer isso, vai?
– Não.
– Nesse caso…– Eu não podia dizer ela a verdade
se eu quisesse… E eu não podia querer. Eu deixaria ela fazer sua própria
história sobre quem eu era, por que nada podia ser pior que a verdade - Eu
estava vivendo um pesadelo, diretamente das páginas de uma história de terror.
– Espero que você goste da decepção.
Fizemos
carranca um para o outro. Foi ímpar quão amável sua raiva foi. Como um furioso
gatinho, macio e inofensivo, e também ignorante quanto a sua própria
invulnerabilidade. Ela ficou rosada e apertou seus dentes de novo.
– Por que você
se deu o trabalho então?
Sua pergunta
não era a que eu estava esperando ou preparado para responder. Eu perdi as
regras do jogo, as quais eu estava firmado. Eu senti a máscara escorregar da minha
face, e eu disse a ela - nesse único momento - a verdade.
– Eu não sei.
Eu memorizei
seu rosto uma última vez - ainda tinha alguns traços de raiva, o sangue ainda
não tinha parado de deixar suas bochechas rosadas - e então eu me virei e andei
para longe dela.
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