Teoria
– Posso fazer
só mais uma? – ela suplicou ao invés de
responder ao meu pedido.
Eu estava
nervoso, ansioso pelo pior. E ainda, como era tentador prolongar esse momento. Ter
Bella comigo, de boa vontade, só por mais alguns segundos. Eu suspirei com o
dilema, então disse.
– Uma.
– Bem…– ela hesitou por um momento, como se
estivesse decidindo qual pergunta ia fazer. – Você disse que sabia que eu
não tinha entrado na livraria, e que eu tinha ido para o sul. Eu só estava me
perguntando como você sabia disso.
Eu olhei para
além do pára-brisa. Esta era outra questão que não revelava nada sobre ela, e
muito sobre mim.
– Eu pensei que
não estávamos mais sendo evasivos. – ela
disse, seu tom crítico e desapontado.
Que irônico.
Ela estava sendo cruelmente evasiva sem se quer tentar. Bem, ela me pediu para
ser direto. E essa conversa não estava indo para nenhum lugar bom de qualquer
forma.
– Tudo bem,
então. – eu disse. – Eu segui o seu
cheiro.
Eu queria ver o
seu rosto, mas eu estava com medo do que eu ia ver. Ao invés disso, eu escutei
a sua respiração acelerando e depois se estabilizando. Ela falou novamente após
um momento, e a sua voz estava mais serena do que eu esperava.
– E você também
não respondeu uma das minhas perguntas. –
ela disse.
Eu olhei para
baixo, em sua direção, com uma careta. Ela estava procrastinando, também.
– Qual delas?
– Como funciona
- essa coisa de ler mentes? – ela perguntou, reiterando a pergunta do restaurante.
– Você pode ler a mente de todo mundo, em qualquer lugar? Como você faz isso? O
resto da sua família pode…? – ela deixou sua voz morrer, corando
novamente.
– Isso é mais
que uma. – eu disse.
Ela somente me
olhou, esperando pelas suas respostas. E por que não contar a ela? Ela já
adivinhava a maior parte disso, e esse assunto era mais fácil do que aquele que
se aproximava.
– Não, sou só
eu. E eu não consigo ouvir qualquer um, em qualquer lugar. Eu tenho que estar
pelo menos um pouco perto. Quanto mais familiar é a… voz de alguém, de mais longe
eu posso ouví-la. Mas ainda assim, não mais longe que alguns quilômetros. – Eu tentei pensar em uma maneira de descrever
isso de uma forma que soasse compreensível.
Uma analogia a
qual ela podia relacionar.
– É como estar
num corredor enorme e cheio de gente, todos falando ao mesmo tempo. É só um
ruído - um zumbido de vozes no fundo. Até que eu me concentro em uma das vozes,
e aí o que ela está pensando se torna claro. Na maioria das vezes eu desligo
todas - se não eu posso me distrair demais. E então fica mais fácil parecer
normal. – eu fiz uma careta. – Isso
quando eu não estou respondendo acidentalmente ao pensamento das pessoas e não
á suas vozes.
– Porque será
que você não pode me ouvir? – ela se
admirou.
– Eu não sei. –
eu admiti. – A única suposição é que
talvez a sua mente não trabalhe da forma como a deles trabalha. Como se os seus
pensamentos estivessem na freqüência AM quando eu só posso ouvir Fm.
Eu percebi que
ela poderia não gostar dessa analogia. A antecipação da sua reação me fez sorrir.
Ela não me desapontou.
– Minha mente
não trabalha direito? – ela perguntou,
sua voz se ergueu com desgosto. – Eu
sou uma
aberração?
Ah, a ironia de
novo.
– Eu ouço vozes
na minha cabeça e você preocupada que você a aberração. – Eu ri. Ela entendeu todas as coisas pequenas, e ainda assim ela
ignorava as grandes. Sempre os instintos errados…
Bella estava
mordendo o seu lábio, e as rugas por entre seus olhos estavam profundas.
– Não se
preocupe. – eu assegurei a ela. – É
apenas uma teoria…– e havia uma teoria
mais
importante para ser discutida. Eu estava
ansioso para chegar nela. Cada segundo que se passava parecia mais e mais como
um tempo roubado.
– O que nos
leva de volta a você. – eu disse,
dividido em dois, ambos ansiosos e relutantes.
Ela suspirou,
ainda mordendo seu lábio - eu estava preocupado que ela se machucasse. Ela me
olhou nos olhos, seu rosto confuso.
– Nós não
deixamos de ser evasivos? – eu perguntei calmamente.
Ela olhou para
baixo, se debatendo com algum dilema interno. De repente, ela endureceu e seus
olhos se arregalaram. O medo passou por seus olhos pela primeira vez.
– Minha nossa!
– ela gaguejou.
Eu entrei em
pânico. O que ela tinha visto? Como que eu tinha a apavorado? Então ela gritou.
– Diminua!
– Qual é o
problema? – eu não entendi da onde que o seu terror estava
vindo.
– Você está
indo á quase duzentos por hora! – ela gritou para mim.
Ela olhou para fora da janela e se
recolheu às árvores negras passando rapidamente por nós.Essa coisinha pequena, só um pouco de
velocidade, fez ela gritar em pavor? Eu revirei meus olhos.
– Relaxe, Bella.
– Você está
tentando nos matar? – ela perguntou, sua
voz alta e firme.
– Nós não vamos
bater. – Eu prometi a ela.
Ela deu uma
inspirada ansiosa, e então ela disse em um tom levemente moderado.
– Porque você
está com tanta pressa?
–Eu sempre
dirijo assim.
Eu olhei para
seus olhos me encarando, divertido com a sua expressão chocada.
– Mantenha os
olhos na estrada! – ela gritou.
– Eu nunca
sofri um acidente, Bella - eu nunca sequer levei uma multa.
Eu sorri e
então eu toquei a minha testa. Isso fez com que parecesse mais cômico - a falta
de lógica de ser capaz em fazer piadas com ela sobre algo tão secreto e
estranho.
– Detector de
radar embutido.
– Muito
engraçado. – ela disse de forma
sarcástica, sua voz mais amedrontada do que com
raiva. – Charlei é um policial, lembra? Eu fui criada para
obedecer todas as leis de trânsito. Além do mais, se você bater o Volvo e
transformá-lo numa sanfona, provavelmente você vai se levantar e sair dele.
– Provavelmente.
– eu repeti, e então eu ri sem humor.
Sim, nós iríamos pagar um preço um pouco diferente em um acidente de carro. Ela
estava certa em estar com medo, a respeito do meu modo de dirigir… – Mas você não. – Com um suspiro, eu deixei o carro diminuir de velocidade. – Feliz?
– Ela olhava o velocímetro.
– Quase.
Isso ainda
estava muito rápido para ela?
– Eu odeio
dirigir devagar. – eu murmurei, mas deixei o ponteiro cair mais
um pouco.
– Isso é
devagar? – ela perguntou.
– Chega de
comentários sobre como eu dirijo. eu
disse impacientemente. Quantas vezes até
agora ela desviou da minha pergunta? Três
vezes? Quatro? As suas especulações eram tão
horríveis? Eu tinha que saber -
imediatamente. – Eu ainda
estou esperando pela sua última teoria.
Ela mordeu o
seu lábio de novo, e sua expressão se tornou preocupada, quase com dor. Eu
dominei a minha impaciência e suavizei a minha voz. Eu não queria que ela
ficasse
estressada.
– Eu não vou
rir. – eu prometi, desejando que esse
fosse o único obstáculo que a estivesse
hesitando em falar.
– Eu estou com
mais medo que você fique com raiva de mim. – ela suspirou.
Eu forcei a
minha voz para continuar.
– É assim tão
ruim?
– Em grande
parte, sim.
Ela olhou para
baixo, se recusando a olhar em meus olhos. Os segundos passavam.
– Vá em frente. – eu encorajei.
Sua voz era
baixa .
– Eu não sei
como começar.
– Por que você
não começa pelo começo? – eu a lembrei de
suas palavras antes do jantar. – Você disse que não foi você quem criou
essa teoria.
– Não. – ela
concordou, e então estava em silêncio de novo.
Eu pensei em
várias coisas que podiam tê-la inspirado.
– Onde você a
encontrou – num livro? Um filme?
Eu devia ter
dado uma olhada em sua coleção quando ela estava fora da casa. Eu não tinha nem
idéia se Bram Stoker ou Anne Rice estavam naquela pilha de livros usados…
– Não. – ela disse de novo. – Foi Sábado, na
praia.
Por essa eu não
esperava. A bisbilhotice local sobre nós nunca tinha dado em nada tão bizarro -
ou tão preciso. Tinha algum novo rumor que eu tinha perdido? Bella desviou o
olhar de suas
mãos e viu a surpresa em meu rosto.
– Eu dei de
cara com um amigo antigo da família - Jacob Black. – ela continuou. – O pai dele e Charlie são amigos desde que eu era
bebê.
Jacob Black - o
nome não me era familiar, e mesmo assim me lembrava de alguma coisa… algum
tempo, há um tempo atrás… eu encarei o pára-brisa, procurando através das memórias
tentando achar alguma conexão.
– O pai dele é
um dos anciões Quileute. – ela disse.
Jacob Black.
Ephraim Black. Um descendente, sem dúvida.Isso era tão mal quanto eu podia
imaginar. Ela sabia da verdade. Minha mente estava voando pelas ramificações
enquanto o carro passava ao redor das curvas escuras da estrada, meu corpo
rígido, com angústia - se movimentando apenas o necessário e automáticas ações
para dirigir o carro. Mas… se ela tinha descoberto a verdade no sábado… então
ela sabia disso a noite toda… e
ainda assim…
– Nós fomos dar
uma volta. – ela continuou. – Ele estava me contando umas histórias antigas
- tentando me assustar, eu acho. Ele me contou uma…
Ela parou, mas
não havia necessidade para ela ficar apreensiva agora; eu sabia o que ela ia
dizer. O único mistério que sobrava era por que ela estava sentada comigo
agora.
– Vá em frente.
– eu disse.
– Sobre
vampiros. – ela respirou, as palavras
saíram mais baixas do que um suspiro.
De alguma
forma, isso era ainda pior do que saber que ela sabia, a ouvir dizer a palavra em
alto e bom som. Eu recuei com o som disso, e então eu me controlei novamente.
– E você
imediatamente pensou em mim? – eu
perguntei.
–Não. Ele…
mencionou sua família.
Quão irônico
seria que o próprio progenitor de Ephraim ter violado o trato que ele próprio fez
um juramento para mantê-lo. Um neto, ou bisneto que seja. Quantos anos tinham
se passado? Dezessete? Eu devia ter percebido que não era aquele velho que
acreditava nas lendas que seria o perigo. É claro, a nova geração - os quais
deviam ter sido alertados, mas devem ter pensado que as superstições dos mais
velhos eram ridículas - é claro que aí que estaria o perigo da exposição. Eu
supus que isso significava que agora eu era livre para matar a pequena,
indefesa tribo do litoral, a qual eu estava tão disposto.
– Ele só achava
que era uma superstição boba. – Bella
disse de repente, sua voz aguçou com uma nova ansiedade. – Ele não esperava
que eu pensasse nada dela.
Pelo canto dos
olhos, eu vi as suas mãos se contorcerem inquietamente.
– Foi minha
culpa. – ela disse após uma breve pausa, então ela inclinou a sua cabeça como se
estivesse envergonhada. – Eu forcei ele a me dizer.
– Por que? – Não
era difícil manter o nível de minha voz agora. O pior já tinha passado.
Enquanto ela
falava dos detalhes da revelação, nós não tínhamos que nos mover para as conseqüências
disso.
– Lauren disse
uma coisa sobre você - ela estava tentando me provocar. – Ela fez uma pequena careta com
a memória. Eu fiquei levemente distraído, imaginando como que Bella poderia ter
sido provocada por alguém falando sobre mim. – E um garoto mais velho da tribo disse que
vocês não iam até lá, só que pra mim pareceu que ele quis dizer outra coisa. Então eu fiquei sozinha com Jacob e tirei a
verdade dele.
A sua cabeça
caia cada vez mais à medida que ela admitia isso, e a sua expressão parecia…
culpada. Eu olhei para longe dela e ri alto. Ela se sentia culpada? O que ela
poderia ter feito para merecer qualquer tipo de censura?
– Como foi que
você forçou ele a contar? – eu perguntei.
– Eu tentei
flertar com ele - e funcionou melhor do que eu imaginava. – ela explicou e sua voz se tornou incrédula
com a memória desse sucesso.
Eu conseguia
imaginar - considerando a atração que ela parecia exercer sobre os machos, totalmente
inconsciente disso - o quanto irresistível ela conseguia ser quando ela tentava
ser atraente. Eu estava subitamente cheio de pena pelo garoto inocente no qual
ela jogou tamanho poder.
– Eu queria ter
visto isso. – eu disse, e então eu ri de
novo com humor negro.
Eu gostaria de ter
ouvido a reação do garoto, testemunhado a devastação para mim mesmo.
– E você me acusando
de deslumbrar as pessoas - pobre Jacob Black.
Eu não estava
tão zangado com a fonte de minha exposição quanto eu achava que ia ficar. Ele
não sabia. E como que eu podia esperar que alguém negasse a essa garota o que
quer que ela quisesse? Não, eu somente sentia simpatia pelo dano que ela teria
causado a esse pedaço de mente. Eu senti-a corar, aquecendo o ar entre nós. Eu
a encarei, mas ela estava olhando para fora da janela. Ela não falou novamente.
– O que você
fez depois? – Eu perguntei. Hora de
voltar para a história de terror.
– Pesquisei um
pouco na internet.
Sempre prática.
– E isso a
convenceu?
– Não. – Ela disse. – Nada se encaixa. A maioria
era meio boba. E então…– Ela parou de
falar novamente, e eu ouvi seus dentes rangerem.
– O quê? – Eu exigi. O que ela tinha encontrado? O que
tinha feito o sentimento de pesadelo para ela?Houve uma breve pausa, e em
seguida, ela sussurrou. – Concluí que não importava.
Ela congelou
meus pensamentos por quase um segundo, e depois tudo estava claro. Porque ela
preferia despachar seus amigos para longe esta noite do que escapar com eles. Por
que ela havia entrado no meu carro comigo novamente, ao invés de sair correndo,
chamando a polícia. Suas reações sempre estavam erradas - sempre completamente
erradas… Ela puxava o perigo para si própria. Ela convidava-o.
– Não
importava? – Eu disse entre dentes, me
enchendo de raiva. Como eu era capaz de proteger alguém tão… tão… tão
determinada a ser desprotegida?
– Não. – ela
disse com uma voz tão calma que era inexplicável.
“Ela era impossível.”
– Você não liga
que eu seja um monstro? Que eu não seja humano?
– Não.
Eu percebi que
ela estava estável. Eu supostamente deveria providenciar que ela tivesse o
maior cuidado possível… Carlisle teria as conexões para encontrar o seu médico
mais hábil, o mais talentoso terapeuta. Talvez algo pudesse ser feito para
corrigir o que estivesse de errado com ela, o que quer que fosse que a fazia
contente de sentar ao lado de um vampiro que fazia seu coração bater calmamente
e constantemente. Eu vigiaria o local naturalmente, e visitaria com a freqüência
que me fosse permitida…
– Você está com
raiva. – ela suspirou. – Eu não devia ter dito
nada.
Como se ela
escondesse essas perturbantes tendências que podiam contribuir com nós dois.
– Não. Queria
mesmo saber o que você estava pensando… mesmo que o que você pensa seja
loucura.
– Então estou
errada de novo? – perguntou ela, agora um
pouco beligerante.
– Não é a isso
que estou me referindo. – meus dentes se trincaram novamente – “Não
importa!” – Eu repeti em um tom destruidor.Ela ofegou.
– Eu estou
certa?
– Isso importa?
Ela tomou uma
respiração profunda. Esperei furioso a sua resposta.
– Na verdade,
não…– Ela parou, recompondo sua voz de
novo. – Mas estou curiosa.
Não mesmo. Ela
realmente não se importava. Ela não tinha cuidado. Ela sabia que eu era desumano,
um monstro, e isso realmente não importava para ela. Independente das minhas
preocupações sobre sua sanidade, eu comecei a sentir um pouco de esperança. Eu
tentei acabar com isso.
– Está curiosa
com o quê? – Eu perguntei. Não havia segredos, apenas
detalhes.
– Quantos anos
você tem? – Ela perguntou.
Minha resposta
foi automática e impregnada.
– Dezessete.
– E há quanto
tempo tem 17 anos?
Eu tentei não
sorrir para padronizar o tom.
– Há algum
tempo. – eu admiti.
– Tudo bem. – ela
disse satisfeita. Sorrindo para mim. Eu voltei a encarar, cada vez mais preocupado
com sua saúde mental. Ela deu um sorriso mais largo. Eu franzi a testa.
– Não ria. – ela
alertou – .Mas como pode sair
durante o dia?
Eu ri apesar de
sua pergunta. Sua investigação não tinha nada incomum, pelo menos parecia.
– Mito. – eu disse a ela.
– Queimado pelo
sol?
– Mito.
– Dormir em
caixões?
– Mito.
Dormir já não
era parte da minha vida há muito tempo - até que nas últimas noites, eu assisti
Bella dormindo…
– Não posso
dormir. – Eu murmurei respondendo a sua
pergunta mais difícil.
– Nunca?
– Nunca. – eu sussurrei.
Eu encarei seus
olhos, sob a espessa franja de cílios, e senti saudades de dormir. Não foi pelo
inconsciente, como tinha antes, para não fugir do tédio, mas porque eu queria
sonhar. Talvez se eu pudesse ficar inconsciente, se eu pudesse sonhar, eu
pudesse viver por algumas horas em um mundo que ela vivia, junto com ela. Ela
sonhava comigo. Eu queria sonhar com ela. Ela olhou para mim, sua expressão era
mais que maravilhosa. Eu tinha a aparência distante. Eu não podia sonhar com
ela. Ela não deveria poder sonhar comigo.
– Ainda não me
fez a pergunta mais importante. – Eu
disse, meus olhos estavam mais frios e rudes do que antes.
Ela teve de
forçar para compreender. Em algum momento, ela teria de perceber o que agora eu
estava fazendo. Ela devia ser obrigada a ver que isso era tudo o que importava
- mais que qualquer outra consideração. Considerações como o fato que eu amava
ela.
– Qual? – Ela
perguntou, surpresa e não entendendo.Isso só fez minha voz ficar rude.
– Não está
preocupada com a minha dieta?
– Ah, isso. – Ela
falou em um tom calmo que eu não pude interpretar.
– É, isso. Quer
saber se eu bebo sangue?
Ela encolheu
com medo por minha pergunta. Finalmente. Ela entendeu.
– Bom, o Jacob
disse alguma coisa sobre isso. – Ela
disse.
– O que o Jacob
disse?
– Disse que
vocês não… caçam pessoas. Disse que sua família não devia ser perigosa porque
vocês só caçavam animais.
– Ele disse que
não éramos perigosos? – Eu disse
ceticamente.
– Não
exatamente. – ela deixou claro. – Ele
disse que vocês não deviam ser perigosos. Mas os quileutes ainda não querem
vocês na terra deles, por segurança.
Eu olhei para a
estrada. Meus pensamentos perdidos fizeram meus dentes rangerem. Minha garganta
doeu com um familiar desejo queimante.
– E aí? – Ela
perguntou, como se ela se confirmar um relatório meteorológico. – Ele tem razão sobre não caçar pessoas?
– Os quileute
tem boa memória.
Ela balançou a
cabeça consigo mesma, pensando duramente.
– Mas não
permita que isso a deixe complacente. – Eu disse apertando. – Eles tem razão em manter
a distância de nós. Ainda somos perigosos.
– Não entendi.
– Nós tentamos.
– eu contei. – Em geral somos muito bons no
que fazemos. Às vezes cometemos erros. Eu, por exemplo, me permitindo ficar
sozinho com você.
– Isso é um erro?
– Ela perguntou, e eu senti a tristeza em
sua voz. O som me desarmou.
Ela queria ser
minha - apesar de tudo, ela queria estar comigo. A esperança cresceu de novo, e
eu vibrei novamente.
– Um erro muito
perigoso. – eu disse com sinceridade, esperando realmente que o assunto se
cessasse.
Ela não
respondeu por um momento. Ouvi sua respiração mudar - se alterando estranhamente
para um modo que não soava como medo.
– Me conte mais.
– ela disse de repente, sua voz estava
distorcida pela angústia. Ela me examinou cuidadosamente.
– O que mais
quer saber? – eu perguntei, tentando
pensar numa maneira de respondê-la sem fazer doer. Ela não devia sentir dor. Eu
não podia feri-la.
– Me conte
porque que vocês caçam animais em vez de gente. – ela disse, ainda angustiada. Isso não era evidente? Ou talvez isso não
tenha interessado a ela.
– Eu não quero
ser um monstro. – eu murmurei.
– Mas os
animais não bastam?
Eu procurei
outro modo de comparar, da forma que ela pudesse entender.
– É claro que
eu não posso ter certeza, mas comparo isso a viver de tofu e leite de soja; nós
nos dizemos vegetarianos, nossa piadinha particular. Não sacia completamente a
fome… ou melhor, a sede. Mas isso nos mantém fortes o suficiente para resistir.
Na maior parte do tempo.
A minha voz ficou
mais baixa; fiquei envergonhado do perigo que ela corria. Perigo que eu continuava
deixando correr…
– Algumas vezes
é mais difícil do que em outras.
– Está muito
difícil para você agora?
Eu suspirei. É
claro que ela ia fazer essa pergunta, eu não queria responder.
– Sim. – Eu admiti.
Eu esperava sua
resposta fisicamente correta, desta vez; a sua respiração estava estável, seu
coração ainda se mantinha em seu padrão. Eu a esperava, não entendendo. Como
ela não podia ter medo?
– Mas agora não
está com fome. – ela disse, muito segura
de si.
– Porque pensa
assim?
– Seus olhos. –
Ela disse com um tom improvisado. – Eu
disse que tinha uma teoria. Percebi que
as pessoas, em particular os homens, ficam mais rabugentos quando estão com
fome.
Eu ri de sua
descrição: rabugento. Parei um pouco. Mas ela estava completamente certa, como
de costume.
– Você é bem
observadora, não é? – Eu sorri novamente.
Ela sorriu um
pouco, e voltou os olhos aos meus, como se estivesse se concentrando em algo.
– Foi caçar no
fim de semana, com Emmett?
Ela perguntou
depois de rir do meu sorriso que havia sumido. A forma casual que ela falou foi
tão como fascinante como frustrante. Ela podia realmente entender tanto? Eu
parecia tanto estar em choque, que ela pareceu ter percebido.
– Fui. – eu
tornei a dizer, depois, como estava com permissão de continuar com isso, eu senti
a mesma urgência que senti antes no restaurante: eu queria que ela me
conhecesse. – Eu não queria ir. – fui
dizendo lentamente. – ...mas era necessário. É muito mais fácil ficar perto
de você quando não estou com sede.
– Por que você
não queria ir?
Eu respirei
profundamente, e em seguida, eu tornei a encarar seus olhos. Este tipo de honestidade
era difícil, de uma forma muito diferente.
– Me deixa…
angustiado... – Eu supus que essa palavra
fosse suficiente, embora ela não fosse suficientemente forte. – Ficar longe
de você. Eu não estava brincando quando lhe pedi para tentar não cair no mar
nem ser atropelada na quinta passada. Fiquei disperso o fim de semana todo, preocupado
com você. E depois do que aconteceu essa noite, é uma surpresa que você tenha
passado por todo o fim de semana ilesa. – Então
eu lembrei dos arranhões na palma de suas mãos. – Bom, não totalmente
ilesa.
– Como é?
– Suas mãos. – eu
lembrei ela. Ela suspirou e fez uma careta.
– Eu caí.
Eu certamente
adivinhei.
– Foi o que eu
pensei. – Eu disse, incapaz de conter o meu sorriso. –
Imagino que, sendo você, podia ter sido muito pior… Essa possibilidade me
atormentou o tempo todo em que estive fora. Foram três dias muito longos. Eu
dei nos nervos de Emmett.
Honestamente;
isso não fazia parte do passado. Eu ainda estava provavelmente, irritando Emmett.
E todo o resto da minha família também. Exceto por Alice…
– Três dias? – Sua voz
ficou afiada repentinamente. – Não
voltou hoje?
Eu não entendi
o corte em sua voz.
– Não, voltamos
no sábado.
– Então por que
nenhum de vocês foi à escola? – ela
exigiu.
Sua irritação
me confundiu. Ela não parecia ter percebido que era uma questão relacionada com
a mitologia novamente.
– Bom, você
perguntou se o sol me machucava, e não machuca. – Eu disse. – Mas não posso sair
na luz do sol… Pelo menos, não onde todo mundo possa ver.
Ela se desviou
do seu mistério incomodo.
– E por quê? – ela
inclinou a cabeça para o lado.
Eu tinha
dúvidas com a analogia apropriada para explicar isso. Então eu contei a ela.
– Um dia eu
mostro.
E então eu me
perguntei se essa era uma promessa que eu acabaria quebrando. Eu iria vê-la
depois desta noite? Eu a amava o suficiente para mantê-la longe?
– Podia ter me
ligado. – ela disse.Que estranha conclusão.
– Mas eu sabia
que estava segura.
– Mas eu não
sabia onde você estava. Eu…– Ela interrompeu de uma maneira repentina, e
olhou para suas mãos.
– O quê?
– Não gosto
disso. – ela disse com timidez, com sua
pele corando ao longo de suas maçãs. – Não ver você. Me deixa angustiada
também.
– Você está
feliz agora? – eu disse a mim mesmo.
Bem, aquilo foi
a recompensa que eu estava esperando. Eu estava perplexo, feliz, horrorizado,
principalmente horrorizado - para perceber que minha louca imaginação não
estava longe de notar. Foi por esta razão que não importava eu ser um monstro.
Foi exatamente a mesma razão que fazia as regras não importarem para mim.
Porque o certo e o errado já não eram incontornáveis influências. Porque todas as
minhas prioridades tinham deslocado um degrau para baixo para dar espaço a esta
menina na parte superior.
Bella se
importava comigo, também. Eu sabia que poderia não ser nada, comparado com a
forma que ela me amava. Mas era suficiente para que ela arriscasse sua vida ao
se sentar aqui comigo. Para fazer isso com prazer. O suficiente para causar
dor, se ela fizesse a coisa certa e me deixasse. Havia alguma coisa que pudesse
fazer agora que não fosse prejudicá-la? Absolutamente nada? Eu devia permanecer
afastado. Eu nunca devia ter voltado a Forks. Só iria lhe provocar dor, mais
nada. A forma como me senti no momento, senti seu calor contra minha pele. Não.
Nada iria me parar.
– Ah. – eu
gemi comigo mesmo. – Isso é um erro.
– O que eu
disse? – ela perguntou, rapidamente se culpando.
– Não vê,
Bella? Uma coisa é eu mesmo ficar infeliz, outra bem diferente é você se
envolver tanto. Não quero ouvir que você se sente assim. – Era a verdade, era uma mentira. Mas o egoísmo dentro de mim estava
voando com o conhecimento de que ela queria o que eu queria que ela quisesse. – Está errado. Não é seguro. Eu sou perigoso,
Bella… Por favor, entenda isso.
– Não. – seus lábios estavam com uma pontada de
petulância.
– Estou falando
sério.
Eu estava
lutando comigo mesmo tão fortemente - meio desesperado para ela aceitar, meio
desesperado para manter as advertências de fugir - que vinham entre dentes,
comigo quase rugindo.
– Eu também. – ela
insistiu. – Eu disse, não importa o que você seja. É tarde demais.
Muito tarde? O
mundo era desoladamente preto e branco para um interminável segundo, eu assisti
as sombras se espalhando sobre todo gramado ensolarado em direção a forma de
Bella dormindo na minha memória. Inevitável, impossível de parar. Eles roubavam
a cor de sua pele, e ela mergulhava nas trevas.
Muito tarde? A
visão de Alice fez minha cabeça girar, os olhos vermelhos do sangue de Bella me
fizeram a fitar os olhos impassível. Inexpressivo - mas não havia nenhuma maneira
que ela não pudesse me odiar por esse futuro. Me odiar por roubar tudo dela. Roubando
sua vida e sua alma. Eu não podia deixar ser tão tarde.
– Nunca mais
diga isso. – eu assobiei.
Ela desviei o
olhar para o lado de fora da janela, e mordeu os lábios novamente. Suas mãos
estavam apertadas sobre seu colo. Sua respiração se amarrou, e quebrou.
– No que está
pensando? – eu tinha que saber.
Ela sacudiu a
cabeça, sem olhar para mim. Eu vi uma coisa brilhar, como um cristal, em sua
bochecha.
Agonia.
– Está
chorando? – Eu havia feito ela chorar. Eu não gostei de
tê-la ferido.Ela esfregou as mãos sobre seu rosto.
– Não. – ela
mentiu, sua voz estava falha.
Algum instinto
enterrado me fez estender a mão para pegar ela - naquele pequeno segundo eu me
senti mais humano que nunca. E então eu me lembrei que eu… Não era. E então eu
abaixei minha mão.
– Desculpe. – Eu disse, minha mandíbula trancada.
Como eu poderia
dizer a ela o quanto eu estava arrependido? Arrependido por todos os estúpidos
erros que eu tinha cometido. Arrependido pelo meu egoísmo sem fim. Arrependido
por ela ter inspirado em mim o meu primeiro e trágico amor. Arrependido também
das coisas além do meu controle - que eu podia ser o monstro escolhido pelo
destino para acabar com a vida dela em primeiro lugar. Eu respirei fundo -
ignorando a minha reação triste ao sabor no carro - e tentei me recompor. Eu
tentei mudar de assunto, pensar em outra coisa. Para a minha sorte, a minha curiosidade
sobre essa garota continuava instável. Eu sempre tinha uma pergunta.
– Me diga
alguma coisa. – eu disse.
– Sim? – ela perguntou roucamente, as lágrimas ainda
estava em sua voz.
– O que você
estava pensando hoje à noite, um pouco antes de eu aparecer na esquina? Eu não
consegui entender sua expressão - você não parecia assustada, você parecia concentrada
muito concentrada em alguma coisa. – Eu
lembrei do rosto dela - forçando eu mesmo a esquecer aqueles olhos pelos quais
eu estava olhando - o olhar de determinação lá.
– Tentava me
lembrar de como incapacitar um agressor…– ela
disse, sua voz um pouco mais composta. –
Sabe como é, defesa pessoal . Eu ia esmagar o nariz dele no cérebro.
A sua calma não
durou ao fim da sua explicação. O seu tom torceu-se até que ele fervesse em
ódio. Isso não foi nenhuma hipérbole, e sua fúria de gatinha agora não era
engraçada. Eu podia ver sua frágil figura - apenas seda por cima do vidro -
ofuscada pelo desejo pesado da carne - cruel dos monstros humanos que poderiam
ter machucado ela. A fúria explodiu de novo em minha cabeça.
– Você ia lutar
com eles? – eu queria urrar. Seus instintos eram mortais
para ela mesmo. – Não pensou em correr?
– Eu caio muito
quando corro. – ela disse com vergonha.
– E gritar por
ajuda?
– Eu ia chegar
nesta parte.
Eu balancei
minha cabeça desacreditado. Como ela conseguiu se manter viva antes de vir para
Forks?
– Você tem
razão. – eu disse a ela, avancei com minha voz
irritada. – Definitivamente estou lutando contra o destino tentando manter
você viva.
Ela suspirou, e
olhou para fora da janela. E então ela olhou de volta para mim.
– Vou ver você
amanhã? – ela exigiu abruptamente.
Desde de que eu
já estava no meu caminho para o inferno - eu poderia aproveitar a
jornada.
– Vai… também
tenho que entregar um trabalho. – Eu sorri para ela, e me senti bem com isso. –
Vou guardar um lugar pra você no refeitório.
Eu ouvi o
coração dela palpitar; meu coração morto repentinamente se sentiu aquecido. Eu
parei o carro em frente à casa do pai dela. Ela não fez nenhum movimento para
me deixar.
– Promete estar
lá amanhã? – ela insistiu.
– Prometo.
Como fazer a
coisa errada podia me dar tanta alegria? Claro que havia algo de explícito nisso.
Ela acenou com a cabeça para ela mesma, satisfeita, e começou a tirar minha
jaqueta.
– Você pode
ficar com ele. – eu assegurei rapidamente
para ela. Eu queria muito deixá-la com algo meu. Um símbolo, como a tampa de
garrafa que estava em meu bolso agora… –
Você não tem um para usar amanhã.
Ela estendeu-o
para mim, sorrindo tristemente.
– Eu não quero
ter que explicar ao Charlie.
Eu imaginava
que não. Eu sorri para ela.
– Oh, tudo bem.
Ela colocou a
mão na maçaneta do carro e então parou. Relutante em ir embora, assim como eu
estava relutante por ela ir. Por tê-la sem proteção, mesmo que por alguns
momentos… Peter e Charlotte estavam indo por seus caminhos agora, em direção a
Seatlle, sem dúvida. Mas há sempre outro. Esse mundo não era um lugar seguro
para nenhum humano, e para ela parecia ainda mais perigoso do que para o resto.
– Bella? – eu
chamei, surpreso com o prazer de simplesmente dizer o seu nome.
– Sim?
– Me promete uma coisa?
– Sim. – ela concordou facilmente, então seus olhos
se estreitaram como se ela tivesse encontrado uma razão para se opor.
– Não vá à
floresta sozinha. – Eu a avisei,
imaginando se esse pedido seria a razão da objeção em seus olhos. Ela piscou,
surpresa.
– Por quê?
Eu olhei
fixamente em direção à escuridão nem um pouco confiável. A carência de luz não era
problema para os meus olhos, mas também não seria problema pra qualquer outro caçador.
Ela somente cegava os humanos.
– Nem sempre eu
sou a coisa mais perigosa lá fora. – Eu
disse a ela – Vamos ficar aqui.
Ela se
arrepiou, mas se recompôs rapidamente e estava sorrindo quando me disse.
– Como você
quiser.
Sua respiração
tocou o meu rosto, tão doce e perfumada. Eu podia ficar aqui a noite toda desse
jeito, mas ela precisava dormir. Os dois desejos pareciam igualmente fortes
enquanto eles continuavam batalhando dentro de mim: querer ela versus querer
que ela ficasse a salvo. Eu suspirei sobre as duas possibilidades.
– Até amanhã. –
eu
disse, sabendo que eu iria vê-la muito mais cedo que isso. Ela não iria ME ver
até amanhã, no entanto.
– Até amanhã,
então. – ela concordou enquanto abria a porta.
Aflição
novamente, a vendo partir. Eu me inclinei atrás dela, querendo segurá-la aqui.
– Bella?
Ela se virou e
então congelou, surpresa por ver nossos rostos tão perto. Eu, também, estava
estupefato pela proximidade. O calor que emanava dela acariciava meu rosto. Eu
conseguia até sentir o toque de veludo de sua pele… As batidas de seu coração
hesitaram, e seus lábios cheios se abriram.
– Durma bem. – eu suspirei e me afastei antes que a
urgência de meu corpo - ou a sede familiar ou esse novo desejo humano que eu
senti de repente - me fizesse fazer algo que pudesse machucá-la.
Ela permaneceu
sentada sem se movimentar por alguns momentos, seus olhos arregalados e
atordoados. “Deslumbrada”, eu pensei.
Assim como eu estava.
Ela se
recuperou - apesar de seu rosto ainda estar um pouco confuso - e saiu estranhamente
do carro, com passos curtos e tendo que se segurar nas laterais do carro para
se endireitar. Eu ri - na esperança que tenha sido baixo o suficiente para ela
não ouvir. Eu a vi tropeçando pelo caminho até a parte iluminada que vinha da
porta da frente. Segura por enquanto. E eu voltaria em breve para ter certeza. Eu
podia sentir seus olhos me acompanhando enquanto eu dirigia pela rua escura.
Uma sensação tão diferente do que eu estava acostumado. Normalmente, eu
simplesmente me veria através dos olhos da pessoa, onde eu estaria na mente.
Isso era estranhamente excitante - essa sensação incompreensível de estar sendo
vigiado. Eu sabia que isso era somente por serem seus olhos.
Um milhão de
pensamentos passou ferozmente um atrás do outro pela minha cabeça
enquanto eu
dirigia sem rumo pela noite. Por um bom tempo eu circulei pelas ruas, indo para
lugar algum, pensando em Bella e na libertação de ter a verdade descoberta. Não
mais eu teria que ter medo de ela descobrir o que eu era. Ela sabia. E não
importava para ela. Mesmo que fosse obviamente uma coisa ruim para ela, era
impressionantemente libertador para mim.
Mais que isso,
eu pensava em Bella e no amor compensatório. Ela não podia me amar da forma
como eu a amava - de um jeito tão poderoso, extremamente intenso, consumir esse
amor iria provavelmente quebrar o seu corpo frágil. Mas ela se sentia forte o
suficiente. O suficiente para subjugar o medo instintivo. O suficiente para
querer estar perto de mim. E estar com ela era a maior felicidade que eu podia
conhecer.
Por um tempo -
eu estive totalmente sozinho e não machucando ninguém de qualquer forma - eu me
permiti sentir aquela felicidade sem resultar em tragédia. Somente sendo feliz
por ela se importar comigo. Somente me regozijando por ter ganhado a sua
afeição. Somente imaginando dia após dia sentado ao seu lado, ouvindo sua voz e
recebendo seus sorrisos.
Eu re-vi aquele
sorriso em minha cabeça, observando seus lábios cheios se erguerem nos cantos,
um sinal de uma covinha que se mostrava na ponta de seu queixo, o modo como seus
olhos se aqueciam e derretiam… Seus dedos tinham um toque tão quente e delicado
em minha mão essa noite. Eu imaginava em como devia ser tocar a sua delicada
pele que se esticava por cima de suas bochechas - sedoso, quente… tão frágil.
Seda por cima de vidro… espantosamente quebrável.
Eu não podia
ver para onde os pensamentos estavam indo até que fosse muito tarde. Enquanto
eu discorria sobre aquela vulnerabilidade devastadora, novas imagens de seu rosto
se introduziram em minhas fantasias. Perdida nas sombras, pálida de medo -
ainda assim sua mandíbula firme e determinada, seus olhos ferozes, cheios de
concentração, o seu corpo delgado fixado em bater nas formas pesadas que se
reuniram em volta dela, pesadelos na escuridão…
– Ah. – eu
rosnei enquanto a raiva crescente que eu havia esquecido na alegria de amá-la
queimava novamente como um inferno de
ódio.
Eu estava
sozinho. Bella estava, eu acreditava, salva em sua casa; por um momento eu estava
ferozmente feliz que Charlie Swan - o braço forte da lei local, treinado e
armado - fosse seu pai. Isso devia significar alguma coisa, como providenciar
alguma proteção a ela. Ela estava segura. Não me levaria muito tempo para eu me
vingar daquele ultraje…
Não. Ela
merecia coisa melhor. Eu não podia me permitir que ela se importasse com um assassino.
Mas… e quanto
às outras?
Bella estava
segura, sim. Angela e Jessica também com certeza, seguras em suas camas. Ainda
assim tinha um monstro solto pelas ruas de Port Angeles. Um monstro humano –
isto faria dele um problema dos humanos? Cometer o crime pelo qual ansiava era
errado. Eu sabia disso. Mas deixá-lo livre para atacar de novo também não podia
ser a coisa certa. A maitre loira do restaurante. A garçonete que eu não tinha
prestado atenção. As duas me irritaram de jeitos insignificantes, mas isso não
significava que mereciam ficar em perigo.
Uma das duas
podia ser a Bella de alguém. Essa realização me decidiu.
Virei o carro
para o norte, acelerando agora que tinha um propósito. Sempre que eu tinha um
problema além de mim - algo tangível como isso - sabia onde podia procurar
ajuda. Alice estava sentada na entrada, esperando por mim. Parei em frente à
casa ao invés de ir até a garagem.
– Carlisle está
no escritório. – ela me disse antes que pudesse perguntar.
– Obrigado. – eu
disse, bagunçando seu cabelo quando passei.
“Obrigada por voltar minha ligação”, ela pensou sarcasticamente.
– Ah. – eu parei à porta, pegando meu celular e o
abrindo. – Desculpe. Eu nem chequei para ver quem era. Estava ocupado.
– É, eu sei.
Desculpe também. A hora que eu vi o que ia acontecer, você já estava indo.
– Foi por pouco. – eu murmurei.
“Desculpe”, ela repetiu, envergonhada.
Era fácil ser
generoso, sabendo que Bella estava bem.
– Não fique
assim. Eu sei que você não pode ver tudo. Ninguém espera que seja onisciente.
– Obrigada.
– Eu quase a
chamei para jantar hoje - viu isso antes que eu mudasse de idéia? – Ela sorriu.
– Não, perdi
essa também. Queria ter sabido. Teria ido.
– Em que você
esteve se concentrando, para ter perdido tanta coisa?
Jasper está
pensando no nosso aniversário. Ela riu. Ele está tentando não decidir meu presente,
mas acho que tenho uma boa idéia…
– Você é
descarada.
– Sim.
Ela franziu os
lábios, e olhou para mim, um sinal de acusação em sua expressão. Prestei mais
atenção depois.
– Vai contar a
eles que ela sabe? – Ela disse e eu
suspirei.
– Sim. Depois.
“Não vou dizer nada então. Me faça um
favor e conte a Rosalie quando eu não estiver por
perto, está bem?” – Alice
pensou e eu encolhi.
– Claro.
“Bella levou a coisa toda muito bem.”
– Bem demais.
Alice sorriu
para mim.
“Não subestime a Bella.”
Eu tentei
bloquear a imagem que não queria ver - Bella e Alice, melhores amigas.
– Impaciente
agora. – eu suspirei pesadamente.
Queria passar
para essa próxima parte da noite; queria terminar com ela. Mas estava um pouco
preocupado em deixar Forks…
– Alice…– eu comecei. Ela viu o que eu queria
perguntar.
“ Ela ficará bem hoje à noite. Vou prestar
mais atenção agora. Ela meio que precisa de
supervisão vinte e quatro horas por dia,
não é?”
– Pelo menos.
– De qualquer
jeito, você estará com ela rápido.
Respirei fundo.
Essas palavras eram lindas para mim.
– Vai lá -
termine com isto para que possa estar onde quer. – ela me disse.
Eu concordei, e
me apressei para o quarto de Carlisle. Ele estava esperando por mim, seus olhos
na porta em vez de no livro grosso que estava em sua mesa.
– Ouvi Alice
dizendo onde me encontrar. – ele disse, e
sorriu.
Foi um alívio
estar com ele, ver a empatia e inteligência profunda em seus olhos. Carlisle saberia
o que fazer.
– Preciso de
ajuda.
– Qualquer
coisa, Edward. – ele prometeu.
– Alice lhe
disse o que aconteceu a Bella hoje à noite?
“Quase aconteceu, ele acrescentou.”
– Sim, quase.
Estou com um dilema, Carlisle. Veja eu quero… muito… matá-lo. – As palavras começaram a surgir rápidas e
cheias de ódio. – Muito mesmo. Mas
sei que isso seria errado, porque seria vingança e não justiça. Só raiva, sem
imparcialidade. Mesmo assim, não seria certo deixar um estuprador e assassino
em série vagar por Port Angeles! Não conheço os humanos por lá, mas não posso
deixar que outra pessoa pegue o lugar de Bella como vítima dele. Aquelas outras
mulheres - alguém pode sentir por elas o que eu sinto pela Bella. Talvez sofra
o que eu teria sofrido se ela tivesse sido machucada. Não é certo…
Seu sorriso
largo e inesperado parou meu afluxo que palavras.
“Ela é muito boa para você, não é? Tanta
compaixão, tanto controle. Estou impressionado.”
– Não estou
querendo ouvir elogios.
– Claro que
não. Mas não posso evitar meus pensamentos, posso? – Ele sorriu de novo. – Vou cuidar disso. Pode descansar em paz.
Ninguém será machucado no lugar de Bella.
Vi o plano na
cabeça dele. Não era exatamente o que eu queria, não satisfez minha cobiça de
brutalidade, mas podia ver na mente dele que era a coisa certa.
– Vou mostrar
onde você pode encontrá-lo. – eu disse.
– Vamos.
Ele pegou sua
maleta preta no caminho. Eu teria preferido uma forma mais agressiva de sedação
- como um crânio partido - mas deixaria Carlisle fazer isso do jeito dele. Fomos
com o meu carro. Alice ainda estava nas escadas da entrada. Ela sorriu e acenou
quando nos afastamos. Eu vi que ela tinha procurado o meu futuro; não teríamos dificuldades.
A viagem foi curta pela estrada escura e vazia. Desliguei meus faróis para
evitar chamar atenção. Me fez sorrir pensar como Bella teria reagido a essa
velocidade. Carlisle estava pensando em Bella também.
“Eu não previ que ela fosse ser tão boa
para ele. Isso é inesperado. Talvez fosse para acontecer. Talvez seja um
propósito divino. Só que…”
Ele imaginou
Bella com a pele fria e olhos vermelho - sangue, e se afastou da imagem.
“Sim. Só que. De fato. Porque que bem há
em destruir uma coisa tão pura e adorável?”
Adentrei com
fúria na noite, depois de toda a alegria do entardecer ser destruída pelos seus
pensamentos.
“Edward merece ser feliz. É um direito
dele.” A ferocidade dos
pensamentos de Carlisle me surpreenderam. “Tem
que existir uma maneira.”
Eu gostaria de
acreditar nisso - ao menos um pouco. Mas não havia um propósito maior para o
que estava acontecendo com Bella. Apenas um destino amargo e vicioso que não podia
dar a ela a vida que merecia.
Eu não me
demorei em Port Angeles. Eu levei Carlisle ao local onde a criatura chamada Lonnie
estava descontando sua decepção com seus amigos - dois dos quais já haviam passado.
Carlisle pode ver o quão difícil era para mim estar tão perto - e ouvir os pensamentos
do monstro e ver suas memórias, as memórias de Bella misturadas com as de
garotas menos afortunadas que já não mais poderiam ser salvas.
Minha
respiração acelerou e segurei firme no volante.
– Vá, Edward. –
ele me disse gentilmente. – Eu
deixarei o restante deles em segurança. Você deve voltar para Bella.
Era exatamente
a coisa certa a dizer. O nome dela era a única distração que significava algo
para mim agora. Eu o deixei no carro e voltei correndo para Forks, em uma linha
reta através da floresta adormecida. Levou menos tempo do que a primeira viagem
de carro. Apenas poucos minutos depois eu escalei a parede da casa dela e deslizei
a janela para fora do meu caminho.
Eu suspirei
silenciosamente em alívio. Tudo estava como deveria. Bella estava a salvo em sua
cama, sonhando, seus cabelos úmidos emaranhados como algas pelo travesseiro. Mas,
diferente de outras noites, ela estava encolhida com os cobertores enrolados
acima dos seus ombros.
“Frio”, eu imaginei. Antes que eu pudesse me acomodar em meu
acento usual, ela teve calafrios em seu sono e seus lábios estremeceram. Eu
hesitei por um breve momento e então me movi para o corredor, explorando uma
nova parte da casa pela primeira vez. O ronco de Charlie era alto e peculiar.
Eu praticamente podia pegar a margem do seu sonho. Algo com água corrente e uma
espera paciente… pescaria, talvez? Lá, no alto da escadaria, havia um armário
promissor. Eu a abri e encontrei o que procurava. Escolhi o cobertor mais
grosso dentre as finas peças de linho e o levei para o quarto dela. Eu o
guardaria de volta antes que ela acordasse, assim ninguém se daria conta.
Segurando minha
respiração, eu cuidadosamente abri o cobertor sobre ela; sem que ela reagisse
ao peso adicional. Voltei então para a minha cadeira. Enquanto eu esperava
ansiosamente para que ela se aquecesse, eu pensei em Carlisle, imaginando onde
ele estaria agora. Eu sabia que seu plano daria certo - Alice havia previsto
isso.
Pensar no meu
pai me fez suspirar - Carlisle me deu muito crédito. Eu gostaria de ser a pessoa
que ele imaginava que eu fosse. Aquela pessoa, merecedora de felicidade,
poderia esperar ser merecedor desta garota adormecida. Como as coisas seriam
diferentes se eu fosse aquele Edward.
Enquanto eu
ponderava isto, uma imagem estranha e indesejada preencheu minha mente. Por um
momento, a velha vidente que eu havia imaginado, a mesma que previu a destruição
de Bella, foi trocada pelo mais tolo e desajeitado dos anjos. Um anjo da guarda
- algo que a minha versão imaginada por Carlisle poderia ter. Com um sorriso despreocupado
nos seus lábios, seus olhos da cor do céu cheios de provocação, o anjo formava
Bella de tal modo que seria impossível que eu não a notasse. Um odor incrivelmente
potente que exigia minha atenção, uma mente silenciosa para inflamar minha
curiosidade, uma beleza calma para prender meus olhos, uma alma altruísta para ganhar
meu respeito. Deixado de lado o sentido natural de auto-preservação - assim
Bella podia suportar o fato de estar próxima a mim - e finalmente adicionada um
uma larga dose de má sorte.
Com uma
gargalhada inconseqüente, o anjo irresponsável empurrou sua frágil criação diretamente
para o meu caminho, confiando descuidadamente na minha moralidade maculada para
manter Bella viva. Nesta visão, eu não era a condenação de Bella; ela era minha
recompensa.
Eu balancei
minha cabeça com a fantasia do anjo inimaginável. Ela não era muito melhor do
que a harpia. Eu não poderia conceber um poder maior que agisse de maneira tão perigosa
e estúpida. Pelo menos, contra a vidente horrorosa eu poderia lutar.
E eu não tinha
nenhum anjo. Eles eram reservados para os bons - para pessoas como Bella. Então
onde estaria o anjo dela no meio disso tudo? Quem estava tomando conta dela? Eu
ri silenciosamente, perplexo, enquanto realizava que nesse momento era eu quem estava
cumprindo aquele papel. Um anjo vampiro - havia uma boa distância entre as duas
coisas.
Depois de cerca
de meia hora, Bella relaxou. Sua respiração se tornou mais profunda e ela começou
a murmurar. Eu sorri, satisfeito. Era uma pequena coisa, mas pelo menos ela estava
dormindo mais confortavelmente esta noite, por eu estar aqui.
– Edward. – ela sussurrou, e sorriu também.
Eu empurrei a
tragédia de lado, por um momento, e me permiti ser feliz novamente.
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