Esta não é uma FIC da Paulinha, é um capítulo de Crepúsculo escrito pela própria Stephanie Meyer que vazou na internet.
Port Angeles
Estava muito
claro pra eu dirigir pelo centro quando eu cheguei à Port Angeles; o sol ainda estava
muito elevado, e apesar de que os meus vidros eram fumês, não havia nenhum motivo
para tomar riscos desnecessários. Mais riscos desnecessários, eu diria.
Eu estava certo
de que eu acharia os pensamentos de Jessica longe - os pensamentos de Jessica
eram mais altos que os de Angela, mas quando eu achasse o primeiro (pensamento),
eu conseguiria ouvir o segundo. Então, quando as sombras se encompridavam, eu
poderia chegar mais perto. Por hora, eu saí da estrada e fui para uma gramada
garagem que ficava fora da cidade que parecia não ser utilizada. Eu sabia o
lugar para procurar - apenas havia só um lugar para a compra de vestidos em Port
Angeles. Não muito antes, eu achei Jessica, se olhando na frente de um espelho
de três lados, e eu conseguia ver Bella em sua visão periférica, aprovando o
longo vestido preto que ela usava. Bella ainda parece zangada.
“Ha ha. Angela estava certa - Tyler estava
se achando. Apesar de que eu não acredito que ela está tão chateada sobre isso.
Pelo menos ela sabe que ela tem um acompanhante reserva para o baile. E se Mike
não tiver se divertindo no baile, e ele não me convide para sair de novo? E se
ele convidar a Bella para o baile? Será que ela teria convidado o Mike para o
baile se eu não tivesse dito nada? Será que ele acha que ela é mais bonita que
eu?”
– Eu acho que
eu gosto mais do azul. Ele realça os seus olhos. – Jessica sorriu para Bella com falso entusiasmo, enquanto a olhava com
suspeita. “Será que ela acha isso mesmo? Ou ela quer que eu pareça como uma
vaca no Sábado?”
Eu já estava
cansado de ficar ouvindo Jessica. Eu procurei por Angela - ah, mas Angela estava
no processo de provar os vestidos, e eu saí rapidamente da sua cabeça para
dá-la mais privacidade.
Bem, não havia
muitos problemas que Bella poderia se meter numa loja de departamentos. Eu as
deixaria comprando e depois as alcançaria quando tivessem acabado. Não faltaria
muito para anoitecer, as nuvens estavam começando a voltar, sendo levadas para
o oeste. Eu somente poderia pegar reflexos delas através das grandes árvores,
mas eu podia ver como elas apressavam o pôr-do-sol. Eu as recebi, desejando-as
mais do que eu jamais havia antes desejado por suas sombras. Amanhã eu poderia
me sentar ao lado de Bella na escola de novo, exigindo sua atenção no almoço
novamente. Eu poderia perguntar pra ela todas as coisas que eu havia guardado…
Então, ela
estava furiosa com a presunção de Tyler. Eu vi aquilo na mente dele - que ele havia
falado sério quando falou sobre o baile, que ele estava confirmando. Eu lembrei
da expressão dela daquela outra tarde - a escandalizada descrença - e eu ri. Me
perguntei o que ela diria pra ele sobre isso. Eu não gostaria de perder a
reação dela.
O tempo passou
devagar enquanto eu esperava pelas sombras se alongarem. Eu checava com
freqüência a Jessica; a sua voz mental era a mais fácil de ser achar, mas eu
não gostava de me demorar lá dentro por muito tempo. Eu vi o lugar que elas
estavam planejando para comer. Estaria escuro na hora do jantar… talvez eu
coincidentemente escolheria o mesmo restaurante. Peguei o celular do meu bolso,
pensando em convidar Alice para comer fora… Ela adoraria isso, mas ela também
iria querer falar com Bella. Eu não tinha certeza se eu estava pronto para
envolver mais a Bella em meu mundo. Um vampiro não era problema suficiente?
E chequei a
mente de Jessica de novo. Ela estava pensando sobre suas jóias, perguntando a
opinião de Angela.
– Talvez eu
deva devolver o colar. Eu tenho um em casa que deveria servir, e eu gastei mais
do que eu deveria… Minha mãe vai enlouquecer. No que eu estava pensando?
– Eu não me
importo em voltar para a loja. Mas, você não acha que a Bella vai estar procurando
por nós?
O que era isso?
Bella não estava com elas? Eu fitei os olhos de Jessica primeiro, e depois troquei
para Angela. Elas estavam na calçada em frente de umas lojas, já mudando de direção.
Bella não estava em nenhum lugar em vista.
“Oh, quem se importa com a Bella?” Jess pensou, impacientemente, antes de
responder a pergunta de Angela.
– Ela está bem.
Nós chegaremos no restaurante a tempo, mesmo se nós voltarmos (para a loja). De
qualquer forma, eu acho que ela queria estar sozinha.
Eu peguei um
breve vislumbre da livraria que Jessica achava que a Bella teria ido.
– Vamos nos
apressar, então. – Angela disse. – Espero
que Bella não ache que nós a abandonamos. Antes, no carro, ela foi tão boa
comigo… Ela é mesmo uma pessoa muito gentil. Mas ela parecia meio triste o dia
inteiro. Pergunto-me se era por causa do Edward Cullen? Aposto que era por isso
que ela estava perguntando sobre a família dele…
Eu deveria ter
prestado mais atenção. O que eu teria perdido lá? Bella estava andando sozinha,
e ela tinha perguntado por mim antes? Angela estava prestando atenção à Jessica
agora - Jessica estava tagarelando sobre aquele idiota do Mike - e eu não podia
arrancar mais nada dela.
Eu julguei as
sombras. O sol estaria atrás das nuvens logo o suficiente. Se eu ficasse no lado
oeste da estrada, onde os prédios estariam escurecendo a rua da luz fraca… Eu
comecei a me sentir impaciente enquanto eu dirigia pelo pouco engarrafamento
pro centro da cidade. Isso não era algo em que eu havia considerado - Bella
andando sozinha - e eu não tinha a mínima idéia de como achá-la. Eu deveria ter
considerado isso. Bella estava sempre fazendo a coisa errada.
Eu conhecia bem
Port Angeles; eu dirigi diretamente para a livraria da mente de Jessica, esperando
que a minha busca fosse curta, mas duvidando que fosse fácil. Quando que Bella
facilitava as coisas? Sem dúvida, a pequena loja estava vazia, exceto por uma
mulher vestida de maneira antiquada atrás do balcão. Esse não parecia com o
tipo de lugar que Bella estaria interessada - muito new age para uma pessoa
prática. Eu me pergunto se ela ao menos se incomodou a entrar?
Havia um lugar
com sombra que eu poderia estacionar… Fazia um caminho escuro para a loja. Eu
realmente não deveria. Andando por aí nas horas do dia não era seguro. E se um carro
que passasse refletisse a luz do sol para a sombra justamente na hora errada? Mas
eu não sabia outro jeito de procurar pela Bella!
Eu estacionei e
saí, me mantendo no canto mais fundo da sombra. Caminhei rapidamente para a
loja, percebendo o fraco rastro do cheiro da Bella no ar. Ela esteve aqui, na
calçada, mas não havia nenhuma pista de sua fragrância dentro da loja.
– Bem vindo!
Poderia te ajudar? – a vendedora começou
a dizer, mas eu já estava do lado
de fora da porta.
Eu seguiria o
cheiro da Bella até aonde a sombra permitiria, parando quando eu chegasse na
beira da luz do sol. Quão impotente que isso me fez sentir - cercado pela linha
entre a escuridão e a luz que se estendia até a calçada na frente minha frente.
Tão limitado. Eu só podia adivinhar que ela continuou pela rua, indo para o
sul. Não havia muito seguindo aquela direção. Ela estava perdida? Bom, essa
possibilidade parecia exatamente como o caráter dela.
Eu voltei para
o carro e dirigi devagar pelas ruas, procurando por ela. Eu saí para alguns outros
caminhos com sombras, mas eu só senti o seu cheiro mais uma vez, e o rumo disso
me confundiu. Onde ela estava tentando ir?
Dirigi de volta
e adiante entre a loja e o restaurante algumas vezes, esperando ver ela em seu
caminho. Jessica e Angela já estavam lá, tentando decidir se pediam (a janta),
ou se esperavam pela Bella. Jessica já estava pensando em pedir imediatamente. Eu
comecei a passar rapidamente pela mente de estranhos, olhando através de seus
olhos. Com certeza alguém deve ter visto ela em algum lugar. Mais tempo que ela
ficava perdida, mais eu ficava impaciente. Eu não tinha considerado antes quão
difícil que era pra achá-la, como agora, ela estava fora de minha vista e fora
de seus caminhos normais. Eu não gostava disso.
As nuvens
estavam se acumulando no horizonte, e, em alguns poucos minutos, eu estaria livre
para localizá-la a pé. Então não me levaria muito tempo. Era somente o sol que
me fazia tão paralisado agora. Apenas mais alguns minutos, e então a vantagem
seria minha
novamente e o
mundo humano que seria impotente. Outra mente, e mais outra. Tantos pensamentos
banais.
“…acho que o bebê tem outra infecção no
ouvido…”
“Era 18:40 ou 18:04…?”
“Atrasado de novo. Eu devia contar pra
ele…”
“Aqui ela vem! Aha!”
Ali,
finalmente, estava o rosto dela. Finalmente, alguém tinha reparado nela!
Aquele alívio
só durou por uma fração de segundo, e então eu li mais os pensamentos do homem
que estava olhando para o rosto dela fixamente nas sombras. A mente dele era a
de um estranho para mim, e mesmo assim, completamente familiar. Eu já havia
caçado exatamente tal mente.
“NÃO!” Eu rugi, e um nó apertou a minha garganta. Meu pé afundou
no acelerador, mas pra onde eu estava indo?
Eu sabia mais
ou menos o rumo dos seus pensamentos, mas isso não era específico o suficiente.
Alguma coisa, deveria haver alguma coisa - uma placa de rua, a frente de uma loja,
alguma coisa na sua vista que entregaria a sua localização. Mas Bella estava
bem na escuridão, e os olhos dele estavam focados somente na expressão
apavorada dela - saboreando o medo lá. O rosto dela estava nublado na mente
dele pela memória de outros rostos. Bella não era a sua primeira vítima. O som
dos meus rosnados tremeu a estrutura do carro, mas não me distraíram. Não havia
janelas na parede atrás dela. Algum lugar industrial, longe da região de
compras que era mais povoada. Meu carro derrapou na esquina, desviando de um
outro veículo, indo na direção que eu esperava ser o caminho certo. Enquanto o
outro carro buzinava, o som já estava bem atrás de mim.
– Olha como ela
ta tremendo! – O homem riu em
expectativa. O medo era a atração para ele - a parte que ele adorava.
– Fique longe de mim. – A voz dela era baixa e firme,
não como um grito.
– Não seja assim,
docinho.
Ele viu ela
hesitar quando uma rude risada veio de uma outra direção. Ele estava irritado com
o barulho
“Cale a boca, Jeff!” Ele pensou - mas gostou do modo como ela
se encolheu de medo. Excitava ele. Ele começou a imaginar a suplicação, o modo
como ela imploraria…
Eu não tinha
percebido que havia outros com ele até que eu ouvi aquela alta risada. Eu procurei
nele, desesperado por alguma coisa que eu pudesse usar. Ele estava dando o primeiro
passo na direção dela, movimentando suas mãos.
As mentes perto
dele não eram o lixo que ele era. Eles estavam um pouco embriagados, nenhum
deles percebendo quão longe o homem que eles chamava de Lonnie planejava seguir
com isso. Eles estavam seguindo Lonnie cegamente. Ele tinha prometido pra eles um
pouco de divertimento…
Um deles olhou
para a rua, nervoso - ele não queria ser pego assediando a garota - e me deu o
que eu precisava. Eu reconheci a rua que ele encarou. Eu passei por um sinal
vermelho, correndo através de um espaço amplo apenas o suficiente entre dois
carros no engarrafamento. Buzinas fazendo barulho atrás de mim. Meu celular
vibrou no meu bolso. Eu ignorei. Lonnie se movia devagar para a garota,
atraindo o suspense - o momento do terror que excitava ele. Ele esperou pelo
grito dela, se preparando para saboreá-lo. Mas Bella trancou sua mandíbula, e
se abraçou. Ele estava surpreso - ele esperava que ela tentasse fugir. Surpreso
e levemente desapontado. Ele gostava de perseguir a sua presa, a adrenalina da
caçada.
– Corajosa,
essa. Talvez melhor, eu acho… mais luta nela.
Eu estava a um
quarteirão de distância. O monstro poderia escutar o rugido do meu motor agora,
mas ele não deu atenção, bem atento em sua vítima. Eu veria como ele se
divertia na caçada quando ele seria a presa. Eu veria o que ele pensava do meu
estilo de caçar.
Em outra parte
da minha cabeça, eu já estava escolhendo os tipos de torturas que eu havia
presenciado nos meus tempos de vigilante, procurando pela tortura mais
dolorosa. Ele sofreria por isso. Ele iria se contorcer em agonia. Os outros
iriam meramente morrer por suas participações nisso, mas o monstro chamado
Lonnie imploraria pela morte bem antes de eu ceder pra ele esse presente.
Ele estava
atravessando a rua, na direção dela.
Eu virei a
esquina, rapidamente, meus faróis clareando a cena e paralisando eles no lugar.
Eu poderia ter atropelado o líder, que saiu do caminho, mas essa era uma morte
muito fácil para ele. Eu deixei o carro deslizar, virando pra que ficasse de
frente pro caminho que eu cheguei e a porta do carro ficasse perto de Bella. Eu
abri a porta, e ela já estava correndo para o carro.
– Entre. – Eu resmunguei.
– Que diabos?
– Sabia que
isso era uma péssima idéia! Ela não está sozinha.
– Eu deveria
correr?
– Acho que vou
vomitar…
Bella saltou
para a porta aberta sem hesitar, puxando e fechando a porta atrás dela. E então
ela me olhou com uma expressão de verdadeira confiança que eu nunca havia visto
num rosto humano, e todos os meus violentos planos desmoronaram. Levou-me muito
menos de um segundo para eu ver que eu não poderia deixá-la no carro para lidar
com os quatro homens na rua. O que eu diria à ela, para não olhar? “Ha! Quando que ela faz sempre o que eu
peço? Quando que ela sempre faz a coisa segura?”
Eu iria
arrastá-los para longe, pra fora da visão dela, e deixá-la sozinha aqui? Eram
poucas as chances que outro humano perigoso estaria rondando as ruas de Port
Angeles esta noite, as chances eram poucas como essa era até o primeiro! Como
um imã, ela atrai todas as coisas perigosas para ela mesma. Eu não poderia
deixá-la fora de vista. Seria como parte do mesmo movimento para ela quando eu
acelerei, tirando ela dos seus perseguidores tão rapidamente que eles ficaram
boquiabertos atrás do meu carro com expressões incompreensíveis. Ela não
perceberia meu instante de hesitação. Ela presumiria que o plano era escapar
desde o começo.
Eu nem
conseguiria bater nele com o meu carro. Aquilo iria assustar ela.
Eu queria a
morte dele tão brutalmente que a necessidade por isso chiou nos meus ouvidos e
nublou a minha visão e era um sabor na minha língua. Meus músculos estavam amontoados
com a urgência, o desejo, a necessidade por isso. Eu tinha que matá-lo. Eu iria
descascá-lo aos poucos lentamente, pedaço por pedaço, pele do músculo, músculo
de osso…
Exceto que a
garota - a única garota no mundo - estava agarrada no seu banco com as duas
mãos, me encarando, seus olhos ainda muito abertos e totalmente confiando em mim.
A vingança teria que esperar.
– Bote o seu
cinto. – Eu mandei.
Minha voz foi
áspera por causa do ódio e da sede de sangue. Não a comum sede de sangue. Eu
não me sujaria ao ponto de pegar qualquer parte daquele homem pra dentro de
mim. Ela botou o cinto de segurança no lugar, se sobressaltando levemente com o
som feito. Aquele pequeno som fez ela se sobressaltar, mesmo que ela não tenha
demonstrado medo quando eu rasguei pela cidade, ignorando todos os sinais de
trânsito. Eu poderia sentir seus olhos em mim. Ela parecia estranhamente
relaxada. Não faz sentido - não com o que ela acabou de passar.
– Você está
bem? – ela perguntou, sua voz áspera por causa do estresse e do medo.
Ela queria
saber se eu estava bem?
Eu pensei por
uma fração de segundo na pergunta dela. Não muito para que ela notasse minha
hesitação. Eu estava bem?
Não. – eu percebi, e o meu tom ferveu com a raiva.
Eu a levei pelo
mesmo caminho que eu passei esta tarde, ocupado na mais pobre vigilância que já
existiu. Estava escuro agora, embaixo das árvores. Eu estava tão furioso que o
meu corpo paralisou no lugar, totalmente imóvel. Minhas mãos frias que estavam
fechadas desejavam esmagar o agressor dela, pulverizar ele em pedaços tão
mutilados que o seu corpo nunca poderia ser identificado… Mas isso exigiria
deixá-la aqui sozinha, desprotegida na noite escura.
– Bella? – Eu
perguntei entre os dentes.
– Sim? – Ela respondeu roucamente. Ela limpou a
garganta.
– Você está bem?
– Aquilo era mesmo a coisa mais
importante, a primeira prioridade.
Castigo era
secundário. Eu sabia disso, mas o meu corpo estava tão cheio de raiva que era difícil
pensar.
– Sim. – A voz
dela ainda estava grossa - com medo, sem dúvida.
E então eu não poderia
deixá-la. Mesmo que ela não esteja em risco constante por alguma razão
irritante - alguma piada que o universo estava pregando em mim - mesmo se eu
tivesse certeza que ela estaria perfeitamente segura em minha ausência, eu não
poderia deixá-la sozinha no escuro.
“Ela deve estar tão assustada.”
E mesmo assim
eu não tinha condições de consolá-la - mesmo se eu soubesse exatamente como
seria consolá-la, que eu não sabia. Com certeza ela conseguia sentir a
brutalidade radiando em mim, com certeza seria aquele o motivo óbvio. Eu iria
assustá-la ainda mais se eu não acalmasse o desejo de massacre fervendo dentro
de mim. Eu precisava pensar em alguma outra coisa.
– Me distraia,
por favor. – eu implorei.
– Desculpe-me,
o que?
Eu mal tinha
controle suficiente para tentar explicar do que eu precisava.
– Apenas fale
sobre algo sem importância até eu me acalmar. – eu instruí, minha mandíbula ainda trancada.
Só o fato de
que ela precisava de mim me segurava dentro do carro. Eu podia ouvir os
pensamentos do homem, seu desapontamento e sua raiva… Eu sabia onde achá-lo…
Fechei os meus olhos, desejando que eu não pudesse vê-lo de qualquer forma…
– Um…– ela
hesitou - tentando achar um sentido para o meu pedido, eu imaginei. – Eu irei atropelar Tyler Crowley amanhã na
frente da escola? – Ela disse isso como
se fosse uma pergunta.
Sim ... era
isso que eu precisava. É claro que Bella apareceria com algo inesperado. Como antes,
a ameaça de violência vindo de seus lábios era hilária - tão cômica que era estridente.
Se eu não estivesse queimando com o desejo de matar, eu teria rido.
– Por quê? – eu
gritei, para forçá-la a falar novamente.
– Ele está
contando para todo mundo que me levará para o baile. – ela disse, sua voz cheia
com o seu escândalo de gata selvagem. – Ou
ele está louco ou ele ainda está tentando se desculpar por quase ter me matado
na última… bem, você lembra disso. – ela
completou com indiferença. – E ele acha que o baile é de alguma maneira o
melhor jeito de corrigir isso. Então eu pensei que se eu pusesse em perigo a
sua vida, então nós estaremos quites, e ele não vai poder tentar corrigir. Eu
não preciso de inimigos e talvez Lauren desistisse se ele me deixasse em paz.
Apesar que eu teria que destruir totalmente o seu Sentra. – ela continuou, pensativa agora. – Se ele não tiver um veículo ele não pode
levar ninguém pro
baile…
Era animador
ver que às vezes ela entende as coisas erradas. A persistência de Tyler não tem
nada haver com o acidente. Ela não parece entender a atração que ela causa
garotos
humanos da
escola. Ela não via a atração que eu tinha por ela também? Ah, estava
funcionando. O processo confuso da mente dela sempre foi chamativo. Eu estava
começando a ganhar controle de mim mesmo, a ver alguma coisa além da vingança e
da tortura…
– Eu soube
disso. – eu disse pra ela. Ela tinha
parado de falar, e eu precisava que ela continuasse.
– Você soube? –
ela perguntou duvidosamente. E então a
sua voz estava mais zangada do que antes. – Se ele ficar paralisado do
pescoço pra baixo, ele não pode ir pro baile também.
Eu desejei que
houvesse alguma maneira que eu pudesse perguntá-la para continuar com as
ameaças de morte e dano corporal sem parecer loucura. Ela não poderia ter
escolhido uma maneira melhor para me acalmar. E suas palavras - apenas sarcasmo
no seu caso, exagero - eram um lembrete do que eu mais precisava neste momento.
Eu suspirei, e abri meus olhos.
– Melhor? – Ela perguntou timidamente.
– Não
realmente.
Não, eu estava
mais calmo, mas não melhor. Porque eu acabei de perceber que eu não poderia
matar o monstro chamado Lonnie, e eu ainda queria isso quase mais do que outra coisa
no mundo. Quase.
A única coisa
neste instante que eu queria mais do que um grande justificável assassinato, era
esta garota. E, apesar de que eu não poderia tê-la, apenas o sonho de tê-la, se
fez impossível para eu ir numa divertida matança essa noite - não importa o
quanto defensível tal coisa poderia ser.
Bella merecia
mais do que um assassino.
Eu passei sete
décadas tentando ser alguma coisa além daquilo - qualquer coisa além de um
assassino. Aqueles anos de esforço nunca poderiam me fazer digno da garota
sentada ao meu lado. E mesmo assim, eu senti que se eu voltasse para aquela
vida - a vida de um assassino - por apenas uma noite, eu certamente poria ela
fora de meu alcance para sempre. Mesmo se eu não tomasse o sangue deles - mesmo
se eu não tivesse a evidência brilhando vermelho em meus olhos - ela não
sentiria a diferença?
Eu estava
tentando ser bom o suficiente pra ela. Era um objetivo impossível. Eu
continuaria tentando.
– O que há de
errado? – Ela sussurrou.
Seu hálito
encheu o meu nariz, e eu fui lembrado porque eu não merecia ela. Depois de tudo
isso, mesmo com o muito que eu amava ela… ela ainda me dava água na boca. Eu
daria pra ela tanto honestidade quanto eu podia.
“Eu devo isso a ela.”
– Às vezes eu
tenho um problema com o meu temperamento, Bella. – Eu encarei a escura noite lá fora, desejando que ela escutasse o
horror interno de minhas palavras e também que ela não escutasse.
Principalmente que ela não escutasse. “Corra, Bella, corra. Fique, Bella,
fique.” – Mas não seria ajuda alguma
pra mim se eu me virasse e caçasse esses…
Apenas pensando
nisso, quase me tirou de dentro do meu carro. Eu respirei fundo, deixando o
cheiro dela queimar a minha garganta.
– Pelo menos, é
o que eu estou tentando convencer a mim mesmo.
– Oh.
Ela não disse
mais nada. Quanto que ela tinha ouvido das minhas palavras? Eu olhei pra ela
pelo canto do olho, mas o seu rosto estava ilegível. Branco com o choque,
talvez. Bem, ela não estava gritando. Ainda não. Estava silencioso por um
momento. Eu lutei comigo mesmo, tentando ser o que deveria ser. O que eu não
poderia ser.
– Jessica e
Angela devem estar preocupadas. – ela
disse calmamente.
Sua voz estava
bem calma, e eu não estava certo como poderia ser aquilo. Ela estava em choque?
Talvez os eventos de hoje a noite ainda não tinham entrado em sua cabeça.
– Era pra eu
ter me encontrado com elas.
Ela queria
ficar longe de mim? Ou ela só estava preocupada com a preocupação das suas amigas?
Eu não respondi a ela, mas eu liguei o carro e levei-a de volta. Com o passo
que eu chegava mais perto da cidade, mais difícil ficava me segurar no meu
objetivo. Eu estava tão perto dele…
Se fosse
possível - se eu nunca pudesse ter ou merecer essa garota - então onde estava
sentido de deixar esse homem não punido? Com certeza que eu poderia me permitir
tanto…
Não. Eu não
estava desistindo. Não ainda. Eu a queria muito para me render agora. Nós
estávamos no restaurante aonde era pra ela ter se encontrado com as suas
amigas, antes mesmo de eu ter começado a racionalizar sobre os meus
pensamentos. Jessica e Angela estavam acabando de comer, e ambas agora
realmente se preocupavam com a Bella. Elas estavam indo procurar por ela,
saindo para a rua escura. Não era uma boa noite para elas saírem por aí
vagando.
– Como você
soube onde…?– A pergunta inacabada de Bella me interrompeu,
e eu percebi que eu tinha cometido outro deslize.
Eu estava muito
distraído lembrando-me de perguntá- la onde ela deveria ter encontrado suas
amigas. Mas, ao invés de acabar a investigação e chegando ao ponto, Bella
apenas balançou a cabeça e deu um meio sorriso.
O que aquilo
significava?
Bem, eu não
tinha tempo de decifrar sua estranha aceitação de minha estranha inteligência.
Eu abri a minha porta.
– O que você
está fazendo? – Ela perguntou, parecendo
assustada.
“Não deixando você sair da minha vista.
Não me permitindo de ficar sozinho essa noite. Nessa ordem.”
– Estou te
levando para jantar.
Bem, isso
deveria ser interessante. Parecia completamente mais como uma outra noite quando
eu imaginei trazer Alice e pretendendo escolher o mesmo restaurante que Bella e
as suas amigas como se fosse acidente. E agora, aqui estava eu, praticamente
num encontro com a garota. Somente não contava, porque eu não estava dando a
ela uma chance de dizer não. Ela já tinha metade da sua porta aberta antes que
eu desse a volta pelo carro – geralmente não era tão frustrante ter que se
mover numa discreta velocidade - ao invés de esperar que eu abra pra ela. Isso
era porque ela não estava costumada a ser tratada como uma dama, ou porque ela
não pensava em mim como sendo um cavalheiro?
Eu esperei por
ela, ficando mais inquieto enquanto as suas amigas continuavam indo para uma
esquina escura.
– Vá parar
Jessica e Angela antes que eu tenha que localizá-las também. – Eu pedi rapidamente. – Eu não acho que poderia me reter se eu me
encontrasse com os teus outros amigos de novo. – Não, eu não seria forte o
suficiente para aquilo.
Ela estremeceu,
e então rapidamente se recompôs. Ela deu meio passo atrás delas, chamando. – Jess,
Angela! – em voz alta. Elas se viraram,
e ela acenou com a mão para chamar a atenção delas.
– Bella! Oh,
ela está a salvo! – Angela pensou em
alívio.
“Muito tarde?” Jessica resmungou para si mesma, mas ela,
também, estava grata que Bella
não estava
perdida ou ferida. Isso me fez gostar dela um pouco mais do que antes.
Elas voltaram,
e então pararam, chocadas, quando me viram do lado dela.
“Uh-uh!” Jess pensou, impressionada. “Sem chance!”
“Edward Cullen? Ela foi sozinha pra se
encontrar com ele? Mas porque ela perguntaria sobre eles estarem fora da cidade
se ela sabia que ele estava aqui… Eu vi um curto momento da expressão torturada
de Bella quando ela perguntou a Angela se a minha família ficava às vezes
ausente da escola. Não, ela não poderia saber”, Angela decidiu.
Os pensamentos
de Jessica iam da surpresa à suspeita. Bella está me escondendo algo.
– Onde você
esteve? – Ela exigiu, encarando Bella, mas me espiando pelo canto dos olhos.
– Eu me perdi.
E então eu encontrei o Edward. – Bella disse, agitando uma mão pra mim.
Seu tom estava
muito normal. Como se fosse verdade tudo o que aconteceu. Ela deve estar em
choque. Era a única explicação para sua tranqüilidade.
– Estaria tudo
bem se eu me juntasse a vocês? – Eu perguntei - para ser educado; eu sabia que
elas já tinham comido.
“Puta merda, ele é quente!” Jessica pensou, sua cabeça repentinamente
e levemente incoerente.
Angela não
estava muito mais controlada. “Queria que
nós não tivéssemos comido. Wow.Apenas. Wow.”
Agora porque eu
não conseguia provocar isso na Bella?
– Er… claro. – Jessica concordou. Angela franziu as
sobrancelhas.
– Um, na
verdade, Bella, nós já comemos enquanto estávamos esperando. – ela admitiu. – Desculpa.
“O que? Cala a boca!” Jess reclamou pra si mesma.
Bella deu de
ombros, casualmente. Tão calma. Definitivamente em choque.
– Tudo bem ...
não estou com fome.
– Eu acho que
você deve comer algo. – eu discordei.
Ela precisava
de açúcar na corrente sanguínea - apesar de cheirar doce o suficiente como era,
eu pensei ironicamente. O pavor iria vir momentaneamente, e um estômago vazio
não ajudaria. Ela desmaiava facilmente, que eu saiba por experiência própria. Essas
garotas não estariam em perigo algum se fossem direto para casa. Perigo não perseguia
cada passo seus. E eu preferiria estar sozinho com a Bella - tanto tempo quanto
ela quiser ficar sozinha comigo.
– Você se
importa se eu levar a Bella para casa essa noite? – Eu disse para Jessica antes que Bella pudesse reagir. – Assim você
não vai precisar esperar por ela enquanto ela come.
– Uh, sem
problema, eu acho…– Jessica encarou
seriamente Bella, olhando por algum sinal de que isso era o que ela queria.
“Eu quero ficar… mas provavelmente ela
quer ele pra si mesma. Quem não iria?” Jess
pensou. No
mesmo instante, ela viu Bella piscar.
Bella piscou?
– Okay. – Angela disse rapidamente, na pressa de ficar
fora do caminho se isso era o que
Bella queria. E parecia que ela queria
isso. – Te vejo amanhã,
Bella… Edward.
Ela se esforçou
para dizer o meu nome num tom casual. Então ela agarrou a mão de Jessica e começou
a rebocar ela pra longe. Eu teria que achar alguma maneira pra agradecer Angela
por isso. O carro de Jessica estava por perto em um círculo de luz clara feita
por uma lâmpada de rua.
Bella olhou
para elas cuidadosamente, uma pequena ruga de preocupação entre seus olhos, até
que elas estavam no carro, então ela deve estar bem ciente do perigo que ela passou.
Jessica abanou enquanto ela dirigia, e Bella acenou de volta. Assim que o carro
desapareceu ela tomou um rumo.
Eu caminhei ao
lado dela até a recepção, onde a recepcionista esperava. Bella ainda parecia
inteiramente calma. Eu queria tocar a mão dela, sua testa, para ver a sua temperatura.
Mas a minha mão fria iria assustá-la, assim como aconteceu antes.
“Oh, minha nossa.”, a muito alta voz mental da maitre
irrompeu na minha consciência. “Minha nossa,
oh minha nossa.”
Parecia a minha
noite de estar na cabeça das pessoas. Ou eu só estava percebendo isso mais
porque eu queria tanto que a Bella me visse desse modo? Nós sempre fomos atraentes
para a nossa presa. Eu nunca pensei muito sobre isso antes. Geralmente – ao menos,
com pessoas como Shelly Cope e Jessica Stanley, sempre houve uma constante repetição
ao um entorpecido terror - o medo vinha de forma rápida depois da atração inicial…
– Uma mesa para
dois? – Eu disse, quando a maitre não falava.
– Oh, er, sim.
Bem vindos ao La Bella Italia. – “Mmm!
Que voz!” – Porque não me acompanham? – Seus pensamentos eram preocupados -
cuidadosos.
“Talvez ela seja prima dele. Ela não pode
ser irmã dele, eles não se parecem em nada. Mas família, certamente. Ele não
pode estar com ela.”
Os olhos
humanos eram nublados; não viam nada claramente. Como podia essa mulher de mente
fraca achar os meus encantos físicos - uma armadilha para a presa - tão
atraentes, e mesmo assim não ser capaz de ver a leve perfeição da garota ao meu
lado?
Bem, sem
necessidade para ajudá-la, só pra garantir, a maitre nos encaminhou para uma mesa
tamanho família no meio da parte mais cheia do restaurante.
“Será que eu posso dar pra ele o meu
número enquanto ela ta lá…?” Ela pensou.
Eu tirei uma
nota do meu bolso de trás. As pessoas eram constantemente cooperativas quando
se tratava de dinheiro. Bella já estava se sentando sem oposição no assento
onde a maitre tinha lhe indicado. Eu balancei a cabeça para ela, e ela hesitou,
inclinando sua cabeça pro lado com curiosidade. Sim, ela seria muito curiosa
essa noite. Um lugar cheio não era muito ideal para este tipo de conversa.
– Talvez algo
mais particular? – Eu pedi a maitre,
dando a ela o dinheiro. Os olhos dela se abriram, surpresos, e então se
estreitaram enquanto sua mão se enrolou na gorjeta.
– Claro.
Ela espiou na
nota enquanto ela nos encaminhava para uma separada.
“Cinqüenta dólares por uma mesa melhor?
Rico, também. Isso faz sentido - eu aposto que a jaqueta dele custou mais do
que o meu salário inteiro. Droga. Por que ele quer privacidade com ela?”
Ela nos
ofereceu uma mesa num calmo canto do restaurante onde ninguém seria capaz de nos
ver - ver as reações da Bella para o que eu diria pra ela. Eu não tinha nenhuma
idéia do que ela iria querer saber de mim essa noite. Ou o que eu daria pra
ela. Até onde que ela adivinhou? Que explicação que ela contou pra si mesma
sobre os acontecimentos de hoje à noite?
– Que tal isso?
– a maitre perguntou.
– Perfeito. – eu disse a ela e, me sentindo levemente
irritado por sua má atitude para com Bella, eu sorri abertamente pra ela, não
revelando meus dentes. Deixe ela me ver nitidamente.
“Whoa.” – Um… seu garçom virá num instante. – “Ele
não pode ser real. Eu devo estar dormindo. Talvez ela irá desaparecer… talvez
eu escreva o meu número no prato dele com ketchup…” Ela saiu, caminhando
levemente pelo lado.
Estranho. Ela ainda
não estava assustada. Eu de repente me lembrei de Emmett me provocando na
cafeteria, várias semanas atrás. “Aposto que eu poderia ter assustado ela melhor
do que você.”
Eu estava
perdendo a prática?
– Você não
devia fazer isso com as pessoas. – Bella interrompeu
meus pensamentos com um tom de desaprovação. – Não é muito justo.
Eu fitei a
expressão de crítica dela. O que ela quis dizer? Eu não tinha assustado a
maitre nenhum um pouco, apesar das minhas intenções.
–Fazer o que?
– Deslumbrar as
pessoas desse jeito - ela deve estar hiperventilando na cozinha nesse exato
momento.
Hmm, Bella
estava quase certa. A maitre estava pouco coerente no momento, descrevendo seu
cálculo incorreto sobre mim para sua amiga de copa.
–Ah, qual é? – Bella repreendeu-me quando não respondi
prontamente. – Você tem que saber o efeito que você causa nas pessoas.
– Eu deslumbro
as pessoas? – Esta era uma maneira
interessante de descrever a situação precisa para esta noite.
Eu imaginei
porque a diferença…
– Você não notou? – ela
perguntou, ainda crítica. – Você acha que todos entendem facilmente?
– Eu deslumbro
você? – Verbalizei minha curiosidade
impulsivamente, e então as palavras já haviam sido ditas, e era tarde demais
para me arrepender.
Mas antes que
eu tivesse tempo de me arrepender profundamente por ter pronunciado essas
palavras, ela respondeu.
– Frequentemente.
– E suas bochechas tomaram uma tonalidade
de rosa pálido.
Eu a
deslumbrava. Meu coração silencioso inflou-se com uma esperança mais intensa do
que jamais me lembro de ter sentido antes.
– Olá. – alguém disse, a garçonete, apresentando-se.
Seus
pensamentos eram muito audíveis e mais explícitos do que o da maitre, mas eu a
ignorei. Eu fitei a face de Bella ao invés de ouvir, assistindo ao sangue se
espalhar por sob a sua pele, notando não como aquilo fazia minha garganta
arder, mas como aquilo abrilhantava seu rosto, como aquilo espantava a palidez
de sua pele…
A garçonete
estava esperando algo de mim. Ah, ela perguntou o que beberiamos. Eu continuei
a olhar para Bella, e a garçonete virou-se a contragosto para olhá-la também.
– Quero uma
coca-cola? – disse Bella, como se pedisse
aprovação.
– Duas cocas. –
eu completei.
Sede ... sede
normal de humanos ... era um sinal de choque. Eu me certificaria de que ela
tivesse o açúcar extra da soda no seu sistema. Mas ela parecia saudável. Mais
que saudável. Ela parecia radiante.
– O que foi? – ela perguntou - imaginando porque eu a
fitava, pensei. Eu mal havia notado
que a garçonete havia saído.
– Como se
sente? – perguntei.Ela piscou, surpresa pela pergunta.
– Estou ótima.
– Você não se
sente doente, resfriada, aturdida? – Ela
estava ainda mais confusa agora.
– Eu deveria?
– Bem, na
verdade estou esperando que você entre em choque. – Eu esbocei um sorriso,
esperando pela sua negativa. Ela não iria
querer ser cuidada por outra pessoa.
Levou um minuto
para que ela me respondesse. Seus olhos estavam ligeiramente sem foco. Por
vezes ela parecia assim, quando eu sorria para ela. Estaria ela… deslumbrada? Eu
amaria acreditar nisso.
– Eu não acho
que isso vá acontecer. Eu sempre fui muito boa em reprimir coisas desagradáveis.
– ela respondeu, um tanto esbaforida.
Será então que
ela tinha muita experiência com coisas desagradáveis? Seria sua vida
sempre assim
tão arriscada?
– O mesmo de
sempre. – eu disse a ela. – Eu me sinto melhor quando você tem algum
açúcar e nutrientes dentro de você.
A garçonete
retornou com os refrigerantes e um cesto de pão. Ela deixou tudo na minha frente
e perguntou pelo meu pedido, tentando me olhar nos olhos, durante o processo.
Eu indiquei que ela deveria atender a Bella, e então voltei a ignorá-la. Ela
tinha uma mente vulgar.
– Um…– Bella deu uma rápida olhada no menu. – Eu
vou querer o ravioli de cogumelos.
A garçonete
voltou-se rapidamente para mim.
– E você?
– Nada para
mim.
Bella fez uma
expressão de desprezo. Hmm. Ela deve ter notado que eu nunca ingeria alimentos.
Ela notava tudo. E eu sempre me esquecia de ser cuidadoso quando estava com ela.
Esperei até que estivessemos sozinhos novamente.
– Beba. – eu
insisti.
Eu fiquei
surpreso quando ela obedeceu imediatamente sem nenhuma objeção. Ela bebeu até
que a garrafa estivesse totalmente vazia, então eu empurrei a segunda coca para
ela, cerzindo as sobrancelhas um pouco. Sede ou choque? Ela bebeu um pouco
mais, e então sentiu um calafrio.
– Está com
frio?
– É só a coca.
– ela disse, mas estremeceu novamente, seus
lábios tremendo como se seus dente estivessem prestes a tiritar de frio.
A linda blusa
que ela usava parecia muito fina para protegê-la adequadamente; ela a
envolvia como
uma segunda pele, quase tão frágil como a primeira. Ela era tão frágil, tão mortal.
– Você não tem
uma jaqueta?
– Sim. – ela olhou ao redor de si mesma, meio perplexa.
– Oh ... eu a deixei no carro de Jessica.
Eu tirei minha
jaqueta, desejando que este gesto não fosse estragado pela minha temperatura
corporal. Seria bom se eu fosse capaz de oferecer a ela um casaco aquecido. Ela
me encarou, suas bochechas corando novamente. O que ela estaria pensando agora?
Eu passei a jaqueta para ela por cima da mesa, e ela a vestiu de uma vez, e
então tremeu novamente.
Sim, seria
ótimo ser quente.
– Obrigada. – ela disse. Ela respirou fundo e então puxou
as mangas longas para liberar suas mãos. Ela respirou fundo novamente.
Estaria a noite
finalmente atuando? Sua cor ainda estava boa, sua pele estava num tom de rosa
pálido em contraste com o azul escuro da sua camisa.
– Esse tom de
azul fica adorável com o seu tom de pele. – eu
a elogiei. Apenas sendo honesto.
Ela corou,
enaltecendo o efeito. Ela parecia bem, mas não havia sentido em me arriscar. Eu
empurrei o cestinho de pães na direção dela.
– Realmente. – ela objetou, imaginando meus motivos. – Eu
não vou entrar em choque.
–Você deveria -
uma pessoa normal entraria. Você nem ao menos parece abalada. – Eu a fitei, desaprovando, imaginando porque
ela não poderia ser normal assim e então me perguntei se eu realmente queria
que ela o fosse.
– Eu me sinto
muito segura com você. – ela disse, seus
olhos, novamente, cheios de confiança. Confiança que eu não merecia.
Seus instintos
estavam todos errados - invertidos. Este deveria ser o problema. Ela não reconhecia
o perigo da forma como um ser humano era capaz. Ela tinha uma reação oposta. Ao
invés de correr, ela hesitava, se atirava ao que deveria assustá-la…
Como eu poderia
protegê-la de mim mesmo quando nenhum de nós dois queria isso?
– Isso é mais
complicado do que eu planejei. – eu murmurei.
Eu pude ver
minhas palavras rodando em sua cabeça, e eu imaginei o que ela teria feito com
elas. Ela apanhou uma baguete e começou a comer sem prestar muita atenção. Ela mascou
por um momento, e então inclinou sua cabeça para um lado, pensativa.
– Geralmente
você está de melhor humor quando seus olhos estão claros. – ela disse em um
tom casual.
Sua observação,
dita de forma tão direta, me deixou atordoado.
– O que?
– Você é sempre
mais irritadiço quando seus olhos estão negros. – eu esperava algo assim. – Eu tenho uma teoria sobre isso. – ela adicionou calmamente.
Então ela veio
com sua própria explicação. É claro que ela tinha uma. Eu senti um pavor profundo
quando imaginei o quão perto da verdade ela chegara.
– Mais teorias?
– Mm-hm. – Ela mastigava uma outra mordida, totalmente
relaxada. Como se ela não fosse discutir as características de um monstro com o
próprio monstro.
– Espero que
você seja mais criativa dessa vez…– Eu menti quando ela não continuou.
O que eu
realmente esperava era que ela estivesse errada - a quilometros longe da verdade.
– Ou você ainda
está plagiando histórias em quadrinhos?
– Bem, não, eu
não me inspirei numa revista em quadrinhos. – ela disse, um pouco embaraçada. – Mas eu também não imaginei tudo
sozinha.
– E…?– eu
perguntei entredentes.
É claro que ela
não iria falar tão calmamente se estivesse prestes a gritar. Quando ela hesitou,
mordendo seus lábios, a garçonete reapareceu com a comida de Bella. Eu dei um
pouco de atenção à servente enquanto ela arrumava o prato na frente de Bella e
então perguntava se eu desejava algo. Eu declinei, mas pedi outra coca. A
garçonete não havia notado os copos vazios. Ela os pegou e levou-os.
– Você estava
dizendo…?– Eu soprei a deixa anciosamente
tão logo quanto ficamos a sós
novamente.
– Eu vou te
contar quando estivermos no carro. – ela
disse com uma voz baixa.
Ah, isso seria ruim.
Ela não estava querendo falar seus palpites na frente de outras pessoas.
– Se…– ela irrompeu repentinamente.
– Há condições?
– Eu estava tão tenso que quase rosnei as
palavras.
– Eu tenho
algumas perguntas, é claro.
– É claro. – eu
consenti, com um tom de voz seco.
Suas perguntas
provavelmente seriam o bastante para que eu soubesse em que direção seus
pensamentos estavam seguindo. Mas como eu as responderia? Com mentiras responsáveis?
Ou eu a assombraria com a verdade? Ou não diria nada, incapaz de decidir? Nós
continuamos sentados em silêncio enquanto a garçonete reabastecia seu estoque
de soda.
– Bem, vá em
frente. – eu disse, com minhas mandibulas
travadas, quando ela se foi.
– Por que você
está em Port Angeles?
Esta era uma
pergunta fácil demais - para ela. A pergunta não me indicaria nada, enquanto minha
resposta, se verdadeira, indicaria muito, muito mesmo. Deixe que ela revele
algo primeiro.
– Próxima. – eu
disse.
– Mas esta foi
a mais fácil!
– Próxima. – eu
repeti.
Ela estava
frustrada pela minha rejeição. Ela tirou seus olhos de mim e olhou para baixo, para
a sua comida. Vagarosamente, pensativa, ela deu uma mordida e mastigou com
vontade. Fez tudo descer com mais coca e então finalmente olhou para mim. Seus
olhos estavam estreitos, cheios de suspeita.
– Certo, então.
– ela disse. – Vamos dizer que,
hipotéticamente, é claro, que… alguém… pudesse saber o que as pessoas estão
pensando, ler mentes, você entendeu - com apenas algumas poucas exceções.
Poderia ser
pior. Isto explicava aquele sorrisinho no carro. Ela era rápida - ninguém mais
jamais havia adivinhado este meu poder. Exceto por Carslile, quando isto era
bem mais óbvio, no começo, quando eu respondia a todos os seus pensamentos como
se ele tivesse falando comigo. Ele havia entendido o meu poder antes de mim… Esta
pergunta não era tão ruim. Apesar de estar claro que ela sabia haver algo de
errado comigo, não era tão ruim quanto poderia ser. Leitura de mentes não era,
afinal, uma faceta do cânone vampírico. Eu continuei com a sua hipótese.
– Apenas uma
exceção. – eu a corrigi. – Hipoteticamente.
Ela se esforçou
para não sorrir - minha vaga honestidade a havia agradado.
– Tudo bem, com
uma única exceção, então. Como isso funciona? Quais as limitações? Como seria…
se alguém… encontrasse outra pessoa exatamente numa hora de grande necessidade?
Como ele poderia saber que ela estaria com problemas?
–
Hipoteticamente?
– Claro. – Seus lábios se retorceram, e seus olhos
castanhos estavam ansiosos.
– Bem. – eu
hesitei. – Se… esse alguém…
– Vamos
chamá-lo de Joe. – ela sugeriu.
Eu tive que
sorrir diante do entusiasmo dela. Ela achava mesmo que a verdade seria uma coisa
boa? Se meus segredos fossem coisas agradáveis, por que eu a manteria afastada deles?
– Joe, então. –
eu
concordei. – Se Joe estivesse prestando atenção, o tempo não teria que ser tão
exato.
Eu balancei
minha cabeça e reprimi um calafrio quando me lembrei o quão perto eu estive de
chegar muito tarde hoje.
– Você é a
única pessoa que pode se encrencar em uma cidade tão pequena. Você deve ter devastado
a estatística de crimes deles, por décadas, você sabe.
Seus lábios
murcharam um pouco e então ela disse:
– Nós estamos
falando de um caso hipotético.
Eu ri diante da
irritação dela. Seus lábios, sua pele… eles pareciam tão suaves… Eu queria
tocá-los. Eu queria empurrar sua sobrancelha franzida para cima com a ponta dos
meus dedos. Impossível. Minha pele seria um repelente para o seu calor.
– Sim, nós
estávamos…– Eu disse, retornando ao nosso
assunto antes de eu ter entrado em
depressão. –
Devemos chamar você de Jane?
Ela olhou por
sobre a mesa, diretamente para mim, com toda a irritação e mal humor dissipados
dos seus olhos arregalados.
– Como você
sabia? – ela perguntou, sua voz baixa e intensa.
Eu deveria
dizer a verdade a ela? E, se dissesse, qual parte da verdade? Eu queria dizer a
ela. Eu queria merecer a confiança que eu ainda enxergava em sua feição.
– Você pode
confiar em mim, sabe. – ela sussurrou, e
levou a mão para frente como se fosse tocar em minhas mãos onde elas estavam em
cima da mesa vazia em minha frente.
Eu as tirei de
alcance - odiando a idéia da reação dela à minha pele fria e pétrea - e ela deixou
as mãos pousarem na mesa. Eu sabia que podia confiar nela com relação a guardar
meus segredos; ela era inteiramente confiável, até o fim. Mas eu não podia
confiar que ela não ficaria horrorizada com eles. Ela deveria ficar
horrorizada. A verdade era horrível.
– Eu não sei
mais se tenho escolha. – murmurei.
Lembrei-me de
uma vez tê-la provocado ao chamá-la de ‘excessivamente distraída.’ A ofendi, se
eu julguei certo suas expressões. Bem, essa havia sido uma injustiça, pelo
menos.
– Eu estava
errado - você é mais atenta do que eu havia dado crédito.
E, apesar dela
talvez não ter notado, eu já havia lhe dado muito crédito. Ela não perdia nada.
– Pensei que
você estava sempre certo. – ela disse, sorrindo enquanto me provocava.
– Eu costumava
estar.
Eu costumava
saber o que fazia. Costumava ter sempre certeza de meu caminho. Agora tudo era
caos e tumulto. Mesmo assim, não trocaria nada. Eu não queria a vida que fazia
sentido. Não se o caos significava que eu podia ter Bella.
– Eu estava
errado sobre você em outro ponto também. – continuei,
aparando as arestas em outro ponto. –
Você não é um ímã para acidentes - essa não é uma classificação muito ampla.
Você é um imã para problemas. Se houver algo perigoso num raio de dez milhas, invariavelmente
vai achar você.
Por que ela? O
que ela havia feito para merecer tudo isso? O rosto de Bella estava sério
novamente.
– E você se
coloca nessa categoria?
Honestidade era
mais importante em relação a essa questão do que qualquer outra.
–
Definitivamente.
Seus olhos se
estreitaram levemente - não com suspeita, mas estranhamente preocupada. Ela
levou a mão pela mesa novamente, devagar e deliberadamente. Tirei minhas mãos alguns
centímetros mais longe das dela, mas ela ignorou o movimento, determinada a me tocar.
Prendi a respiração - não por causa de seu cheiro agora, mas por causa da
súbita e irresistível tensão.
Medo. Minha
pele a deixaria enojada. Ela correria para longe.
Ela roçou a
ponta dos dedos levemente pelas costas de minhas mãos. O calor seu toque gentil
e desejoso não era igual a nada que eu já havia sentido antes. Era quase puro prazer.
Teria sido, se não fosse pelo meu medo. Observei seu rosto quando ela sentiu o frio
pétreo de minha pele, ainda incapaz de respirar. Um meio sorriso apareceu nos
cantos de seus lábios.
– Obrigada. – ela
disse, me encarando intensamente. – Já são duas vezes agora.
Seus dedos
macios ficaram em minha mão como se achassem confortável estar lá. Respondi o
mais casual possível.
– Não vamos
tentar uma terceira vez, de acordo? – Ela
fez uma careta, mas concordou.
Tirei minhas
mãos das suas. Por melhor que seu toque fosse, eu não esperaria até que a mágica
de sua tolerância passasse e se transformasse em repulsa. Escondi minhas mãos embaixo
da mesa. Li seus olhos; apesar de sua mente estar silenciosa, eu podia perceber
tanto confiança quando surpresa nela. Percebi naquele momento que eu queria
responder as perguntas dela. Não por que eu devia isso a ela. Não porque eu
queria que ela confiasse em mim. Eu queria que ela me conhecesse.
– EU a segui
até Port Angeles. – disse a ela, as
palavras saindo muito rápido para que eu as censurasse.
Eu sabia do
perigo da verdade, do risco que eu corria. Até aquele momento, sua calma fora
do normal poderia se transformar em histeria. Contrariamente, saber isso apenas
fez com que eu falasse mais rápido.
– Nunca tentei
manter uma pessoa específica viva antes e é muito mais trabalhoso do que eu
acreditava. Mas provavelmente é apenas porque é você. Pessoas normais parecem
conseguir passar o dia sem muitas catástrofes.
Observei-a,
esperando. Ela sorriu. Seus lábios se curvaram nas pontas, e seus olhos cor de
chocolate se aqueceram. Eu havia acabado de admitir que a havia seguido, e ela
estava sorrindo.
– Já parou para
pensar que talvez fosse minha hora daquela primeira vez, com a van, e você está
interferindo no destino? – ela perguntou.
– Aquela não
foi a primeira vez. – eu disse, encarando
a toalha de mesa avermelhada, meus ombros curvados de vergonha. Minhas
barreiras haviam caído, a verdade saía de qualquer jeito. – Sua hora foi na
primeira vez que te conheci.
Era verdade, e
aquilo me deixava nervoso. Eu estava posicionado na vida dela como a lâmina de
uma guilhotina. Era como se ela estivesse marcada para morrer por um destino cruel
e injusto, e - já que eu parecia ser uma ferramenta involuntária - esse mesmo
destino parecia ainda tentar executá-la. Imaginei o destino personificado - uma
velha cinzenta e invejosa, uma harpia vingativa.
Eu queria que
algo, alguém, fosse responsável por isso - para que eu tivesse algo concreto contra
o que lutar. Algo, alguma coisa para destruir, para que ela pudesse ficar a
salvo. Bella estava muito quieta; sua respiração acelerada. Olhei para ela,
sabendo que finalmente eu veria o medo que estava esperando. Eu não havia
acabado de admitir o quão perto eu havia estado de matá-la? Mais próximo do que
a van que ficou a meros centímetros de esmagá-la. Mesmo assim, seu rosto
parecia calmo, seus olhos ainda apertados com preocupação.
– Você se
lembra? – Ela tinha que se lembrar daquilo.
– Sim. – ela disse, com a voz calma e grave. Seus
olhos profundos conscientes.
Ela sabia. Ela
sabia que eu pensara em matá-la daquela vez. Onde estavam os gritos?
– E ainda assim
você está aqui. – eu disse, apontando a inerente contradição.
– Sim, eu estou
aqui… por você. – Sua expressão se
alterou agora curiosa, como se ela sutilmente houvesse mudado o assunto. – Porque
de alguma forma você sabia como me encontrar hoje…?
Mesmo sem
chances, forcei mais uma vez a barreira que protegia seus pensamentos, desesperado
para entender. Não fazia sentido nem tinha lógica para mim. Como ela podia se
importar com o resto com aquela verdade sobre a mesa?
Ela esperou,
apenas curiosa. Sua pele era pálida, o que era natural para ela, mas ainda me preocupava.
Seu jantar permanecia intocado em sua frente. Se eu continuasse a lhe contar muito,
ela iria precisar de proteção quando o choque passasse. Resolvi meus termos.
– Você come, eu
falo.
Ela pensou
sobre aquilo por meio segundo e comeu um pouco com uma velocidade que parecia
destoar de sua calma. Ela estava mais ansiosa pela minha resposta do que seus olhos
demonstravam.
– É mais
difícil do que deveria ser - manter você à vista. – eu lhe disse. – Geralmente
eu posso encontrar alguém facilmente, uma vez que já tenha ouvido suas mentes
antes.
Observei seu
rosto com cuidado quando disse isso. Adivinhar era uma coisa, obter a
confirmação era
outra. Ela estava sem ação, seus olhos arregalados. Senti meus dentes rangerem
enquanto esperava que ela entrasse em pânico. Mas ela apenas piscou uma vez,
engoliu fazendo barulho, e rapidamente mordeu mais um pedaço. Ela queria que eu
continuasse.
– Eu estava me concentrando
em Jessica. – continuei, observando cada
palavra que saía. – Não cuidadosamente ... como eu disse, só você poderia
encontrar problemas em Port Angeles. – não resisti ao comentário.
Será que ela
sabia que outras vidas humanas não eram tão marcadas por experiências de quase
morte, ou ela achava que era normal? Ela era a coisa mais fora do normal que eu
já havia encontrado.
– Primeiramente,
não notei quando você saiu sozinha. Então, quando percebi que você não estava
mais com ela, saí procurando você na livraria que vi na mente dela. Eu sabia
que você não havia entrado, e que havia ido para o sul… e eu sabia que você
teria que voltar logo. Então eu estava apenas esperando por você, procurando
aleatoriamente pelos pensamentos das pessoas nas ruas - para ver se alguém
havia notado você para que eu soubesse onde você estava. Eu não tinha motivos
para me preocupar… mas eu estava estranhamente ansioso…
Minha respiração
ficou mais rápida quando me lembrei da sensação de pânico. O cheiro dela alcançou
minha garganta e eu estava contente. Era uma dor que significava que ela estava
viva. Enquanto eu queimasse, ela estava a salvo.
– Comecei a
dirigir em círculos, ainda… ouvindo. – Eu
esperava que a palavra fizesse sentido para ela. Isso provavelmente era confuso.
– O sol estava finalmente se pondo, e eu estava prestes a sair e te procurar a
pé. E então ...
Enquanto a
memória me voltava - perfeitamente clara e tão vívida como se eu estivesse naquele
momento novamente - senti a mesma fúria assassina correndo por meu corpo, presa
em gelo. Eu o queria morto. Eu precisava dele morto. Meu maxilar endureceu
enquanto me concentrava em me segurar na mesa. Bella ainda precisava de mim.
Era isso que importava.
– Então o que?
– ela murmurou, seus olhos escuros arregalados.
– Eu ouvi o que
eles estavam pensando. – disse
entre-dentes, incapaz de fazer as palavras saírem sem parecer um rosnado. – Eu vi seu rosto na mente dele.
Eu mal podia
resistir à vontade de matar. Eu ainda sabia precisamente onde encontrá-lo. Seus
pensamentos ruins passeavam pela noite, como se me chamassem… Cobri meu rosto,
sabendo que minha expressão era a de um monstro, um caçador, um assassino.
Fixei a imagem dela por trás de meus olhos para me controlar, concentrando-me apenas
em seu rosto. A delicada moldura óssea, a fina camada de sua pele pálida - como
seda esticada em vidro, incrivelmente macia, fina e fácil de estilhaçar. Ela
era vulnerável demais para esse mundo. Ela precisava de um protetor. E, como um
desvio do destino, eu era a coisa mais próxima que estava disponível. Tentei
explicar minha reação violenta para que ela pudesse entender.
– Foi muito…
difícil ... você não imagina o quão difícil ... para mim apenas te tirar de lá
e deixá-los… vivos. – eu suspirei. – Eu poderia ter deixado você ir com Jessica e
Angela, mas estava com medo de que se você me deixasse sozinho, eu iria atrás
deles.
Pela segunda
vez esta noite, eu confessei a intenção de assassinato. Pelo menos esse era passível
de defesa. Ela estava quieta enquanto eu tentava me controlar. Escutei as
batidas de seu coração. O ritmo era irregular, mas se acalmou conforme o tempo
ia passando e agora estava estável novamente. Sua respiração também estava
devagar e estável. Eu estava muito próximo do limite. Eu precisava levá-la para
casa antes…
Eu o mataria,
então? Eu me tornaria um monstro novamente quando ela confiava em mim? Haveria
alguma forma de me deter? Ela havia prometido me contar sua mais nova teoria
quando estivéssemos sozinhos. Eu queria ouvir? Estava ansioso por isso, mas será
que a recompensa por minha curiosidade seria pior do que não saber? De qualquer
modo, ela já teria verdades o suficiente por aquela noite. Olhei para ela
novamente, e seu rosto estava mais pálido do que antes, mas composto.
– Está pronta
para ir para casa? – perguntei.
– Estou pronta
para ir. – ela disse, escolhendo as
palavras com cuidado, como se um simples ‘sim’ não expressasse exatamente o que
ela queria dizer.
Frustrante.
A garçonete
retornou. Ela havia escutado a última frase de Bella enquanto caminhava para o
outro lado da mesa, pensando no que mais ela poderia oferecer. Eu queria fingir
que não estava ouvindo algumas das ofertas que ela tinha em mente.
– Como estamos?
– ela me perguntou.
– Estamos
prontos para pedir a conta, obrigado. – eu disse, meus olhos em Bella.
A respiração da
garçonete deu um pico e ela estava momentaneamente - usando a frase de Bella - deslumbrada com a minha voz. Num
breve momento de percepção, escutando como minha voz soava na mente dessa humana
inconseqüente, eu percebi por que eu parecia atrair tanta atenção naquela noite
- ao contrário do medo de sempre.
Era por causa
de Bella. Tentando tanto ser seguro para ela, para ser menos assustador, para
seu humano, eu havia perdido meus limites. Os outros humanos viam beleza agora,
com meu horror inato tão cuidadosamente sob controle. Olhei para a garçonete,
esperando que ela se recuperasse. Era um pouco engraçado, agora que eu sabia o
motivo.
– Claro. – ela gaguejou. – Aqui está.
Ela me estendeu
a pasta com a conta, pensando no cartão que ela havia deixado embaixo do
recibo. Um cartão com seu nome e telefone. Sim, era realmente engraçado. Eu já
tinha o dinheiro pronto. Devolvi imediatamente a pasta, para que ela não
perdesse tempo esperando um telefonema que nunca aconteceria.
– Sem troco. – eu disse, esperando que o tamanho da
gorjeta compensasse seu desapontamento.
Levantei-me e
Bella logo me seguiu. Eu queria lhe oferecer minha mão, mas pensei que talvez
estivesse desafiando minha sorte um pouco demais por uma noite. Agradeci a garçonete,
meus olhos nunca deixando o rosto de Bella. Bella parecia estar achando algo engraçado,
também. Saímos de lá, eu caminhando o mais perto quanto me era possível. Perto
o suficiente para que o calor do corpo dela fosse como um toque físico contra o
lado esquerdo do meu corpo. Enquanto eu segurava a porta para ela, ela suspirou
de leve, e me perguntei o que a teria deixado triste. Encarei seu olhar,
prestes a perguntar, quando ela de repente encarou o chão, parecendo
envergonhada. Isso me deixou ainda mais curioso, ainda que relutante em
perguntar. O silêncio entre nós continuou enquanto eu abria a porta do carro para
ela e entrava no carro.
Liguei o
aquecedor - o tempo mais quente havia de repente terminado; o frio do carro deveria
ser desconfortável para ela. Ela se encolheu em minha jaqueta, um pequeno sorriso
em seus lábios. Esperei, adiando a conversa até que as luzes do painel
apagassem. Isso me fez sentir ainda mais sozinho com ela. Seria aquilo a coisa
certa a se fazer? Agora que eu estava concentrado apenas nela, o carro parecia
menor. Seu aroma dançava dentro com a corrente de ar do aquecedor, se intensificando
e aumentando. Cresceu em sua força, como se fosse uma entidade própria dentro
do carro. Uma presença que demandava ser notada. E havia sido; eu queimei. A
sensação era aceitável, no entanto. Parecia estranhamente apropriada para mim.
Me havia sido dado tanto aquela noite - mais do que eu esperava. E aqui estava
ela, ainda a meu lado por vontade própria. Eu devia algo em retorno. Um sacrifício,
uma oferta em forma de queimação. Agora, se eu pudesse manter as coisas daquele
jeito; apenas queimação, e mais nada. Mas o veneno encheu minha boca, e meus
músculos ficaram tensos em antecipação, como se eu estivesse caçando…
Eu precisava manter
tais pensamentos longe de minha mente. E eu sabia o que me
distrairia.
– Agora. – eu
disse a ela, temendo sua resposta e me distraindo da sensação de queimado. – É
sua vez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário